Uma crônica para Maria Gadú em Petrolina

 

*Emanuel Andrade
Quem foi na última sexta-feira ao Iate para ver Maria Gadú, saiu extasiado com a beleza do show da menina que, diga-se de passagem, ainda é estreante, mas manda bem o recado, sem crise de estrelismo. Não é uma monstruosa voz, mas tem estilo próprio e agradável no papel de compositora. Nem precisa lembrar o aval de Caetano com quem andou dividindo DVD e palcos. Mas lembrar dos incidentes de sua passagem por Petrolina. Excelente iniciativa da produção local apesar dos tropeços, a começar pela propagação de que haveria uma surpresa. Até a possível presença do mesmo Caetano foi cogitada. Conto de vigário. Aliás, várias surpresas negativas.

A primeira foi o intragável atraso da cantora que ao subir no palco lá pelas 2 horas da madrugada pediu mil desculpas e várias vezes. Atraso que deixou cheiro de mistério no ar. Aqui quero frisar o desrespeito com o público que em lugar nenhum do planeta merece pagar para passar por isso. Foram precisos gritos, vaias e chamado repetitivo por “Gadú, Gadú, Gadú”.

Não era para menos, para quem tinha muito o que fazer no sábado. Anunciou-se antes que o show começaria pelos menos por volta da meia noite e meia. Ainda bem que a vereadora Maria Helena – que conhece os direitos do consumidor e do cidadão – estava na plateia e fez reclamação apontando pro relógio. Ai vale lembrar que em Salvador a Câmara instituiu há anos que na Concha Acústica do Castro Alves os shows tem que começar por volta das 21h. Mas tudo bem, em quase todo Sertão o povo tá acostumado com shows que varam madrugada.

Mesmo assim, a produção local do show não espirrou nem a mínima. Depois de algumas pré-atrações, já pela madrugada, manda umas figuras (que até merecem aplausos pelo talento) encarar a trupe do Michael Jackson. E tome o passinho da lua. Até deu pra se divertir. Só que imitações a essa hora da madruga é um golpe no humor de qualquer um. E diante a cena real do atraso nenhuma satisfação por parte de um locutor que só engrossava a voz e gritava para dizer que o DJ da noite tocava as melhores músicas do mundo.

E que músicas!: bate-estaca de boate, daquelas que dói até em ouvidos de surdos. Um repertório que desconstrói a linha musical da atração Gadú. Quem sabe o som da Gretchen ajudasse, já que a moça está virando Cult. Quem estava na tal pista só se estressava e dizia palavrões. Aliás, uma pistas muito longe – o que é outro absurdo – do palco. Perto do palco em Petrolina só fica quem compra mesa e consome as bebidas mais caras do bar. Um tipo de divisão social que parece separação de castas, o que está virando rotina. Algo que não se vê em outras cidades.

Sim, quem paga mais caro no mercado bruto tem direito ao melhor. Mas quem paga pra ficar na pista qualquer dia vai ficar do lado de fora. Nos grandes centros tem mesa, camarote, tem de tudo… Mas as pistas ficam bem mais perto do palco. Isso precisa mudar senão vai virar rotina. E haja provincianismo. Ainda bem que o show compensou de verdade, pois além de suas canções Gadú interpretou muito bem a clássica “Lamento Sertanejo”, de Gilberto Gil. Foi muito aplaudida. Mas o lamento do público engrossou e muito o atraso. Desculpas e satisfação são palavras civilizadas que estão no dicionário. Volte sempre Gadú, mas cante mais cedo! Que com outras atrações a cena não se repita. O público merece respeito.


*Por Emanuel Andrade
  (Jornalista)


 

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