Começamos a Copa muito bem. O sorteio realizado na paradisíaca Costa do Sauípe na Bahia, além de apresentar ao mundo o estonteante decote da bela Fernanda Lima que causou furor na imprensa internacional – só os iranianos ficaram privados pela censura do governo –, foi deveras maneiro com o Brasil e, particularmente, generoso com a Boa Terra, sede de grandes jogos de repercussão mundial na primeira fase do torneio.
Passado o efeito das bolinhas (sorteio), as discussões passam a girar em torno do caminho que levará a seleção pentacampeã mundial ao olimpo dos deuses do futebol.
Antes, é relevante citar a preocupação das autoridades da Uefa e da Fifa, e dos poderosos patrocinadores do maior evento de uma única modalidade esportiva, quando vem à tona o clima vivido pelo país anfitrião no período da Copa das Confederações de 2013. Aumenta mais a tensão estrangeira quando se sabe que estamos num ano eleitoral numa nação que, historicamente, futebol e política sempre andaram de mãos dadas para o bem e para o mal.
Imaginemos dois cenários: 1) A seleção canarinho atropela seus adversários e chega ao Maracanã, palco da grande final, no dia 13 de julho. O povo, a essa altura, já esqueceu quanto custou a construção das megas arenas padrão Fifa – algumas desde já elefantes brancos de futuro incerto –, ou quantos leitos hospitalares foram preteridos pelo governo brasileiro para atender aos caprichos e exigências dos cartolas, algumas realmente absurdas. O que importa agora é que o único país que participou de todas as copas está na final, e erguer ou não o caneco, a essa altura, é apenas um mero detalhe e, salvo mais uma barulhenta decepção nacional na hipótese de uma derrota – um segundo Maracanaço -, as ruas não serão palcos de discussões de movimentos já esvaziados pelo êxtase da conquista do hexacampeonato tão esperado.
Em outro cenário, o time não rende o esperado, mal passa pela fase inicial e sucumbe frente aos adversários mais poderosos nas quartas de final. Aí, sim, com o orgulho nacional profundamente ferido, os “black blocs”, sem precisar recorrer ao Google, recordam que o secretário-geral da Fifa, Jérôme Válke, francês, já dissera que o Brasil merece um pé na bunda pelos atrasos na entrega das obras; que o presidente da Uefa, Michel Platini, também francês, anunciou que não virá à Copa se precisar de segurança em seu entorno para assistir os jogos; e que, mais recentemente, o mandatário maior, o suíço Joseph Sepp Blatter, presidente da Fifa, garantiu que o ‘Brasil é o país com mais atrasos desde que estou na Fifa” – ele está no trono desde 8 de junho de 1998.
Pronto, esses detalhes funcionariam igual a uma senha aberta e, como um rastilho de pólvora seca, as ruas se transformariam em campos de batalha e palco de manifestações populares de consequências imprevisíveis, que teriam ficado entorpecidas caso a pátria de chuteira triunfasse mais uma vez?
O roteiro para o título
Simulações à parte, o sorteio colocou o Brasil, cabeça de chave do Grupo A, ao lado de Croácia, México e Camarões. Salvo desastre inimaginável, uma das vagas será nossa. Os prováveis adversários da segunda-fase, Holanda, Espanha, Chile e Austrália, estão no Grupo B, onde os representantes europeus têm peso internacional e, praticamente, decidem seu futuro no torneio no clássico que será jogado em Salvador, na Arena Fonte Nova, logo na primeira rodada em 12 de junho; o sul-americano é um velho e habitual freguês e a Austrália virá ao Brasil adquirir experiência.
Passando da primeira fase, o time canarinho, vencedor de cinco mundiais, não terá vida fácil e poderá ser obrigado a percorrer um roteiro cruel, caso precise encarar, nos mata-matas, seleções de peso como Holanda, Espanha (dois títulos), Uruguai (2), Itália (4), França (1), Inglaterra (1), a ascendente Colômbia e Alemanha (3) no possível trajeto da equipe de Luiz Felipe Scolari até a decisão, no dia 13 de julho, no Maracanã. Que poderia ser contra a Inglaterra ou ninguém menos do que a Argentina (2), detentora de três troféus Fifa, na hipótese de as duas seleções se classificarem sempre em primeiro lugar.
A meu juízo, não imagino a grande final sem a seleção brasileira. O palco estaria triste, a relva inóspita, e as traves, desoladas, não seguravam as redes véu de noiva; a Brazuca totalmente murcha e as arquibancadas descoloridas, mudas, se mantinham num silêncio não comum da torcida brasileira. Os deuses do futebol, revoltados, anunciariam, por decreto, o fim da prática do futebol e a Copa que começou com a graça e beleza de Fernanda Lima, terminaria num verdadeiro holocausto esportivo.
Texto: Carlos Humberto/ Imagem: Internet
