GOLPE NA IMPRENSA DA ARGENTINA NOS DEIXA COM AS BARBAS DE MOLHO

*FLÁVIO (FAVECO) CORREA
A decisão da Suprema Corte da Argentina julgando constitucional  a  “Lei de Meios” não é só um golpe contra o Grupo Clarin, mas uma ameaça à liberdade de imprensa no continente, que já está periclitante ao nosso redor. Vejam por exemplo o caso da Venezuela e do Equador, sem falar em Cuba, onde só existe o Granma, jornal oficial da família Castro.

A presidente Cristina Kirchner, com 4 dos 7 ministros indicados pelo seu regime, ganhou a batalha judicial de 4 anos. Saiu vencedora na sua guerra santa contra um complexo de comunicação que, depois de tê-la apoiado, passou para a oposição.

É por essas e outras que eu recomendo botarmos as barbas de molho se quisermos preservar a nossa liberdade de expressão, consagrada na Constituição de 1988. Regimes populistas não gostam de crítica. Todos sabemos que está no ideário do PT cercear de alguma forma a liberdade de imprensa, que alguns “companheiros” dizem ser inimiga da democracia.

Sem liberdade de imprensa como é que nós, simples cidadãos, ficaríamos sabendo do mar de corrupção e sacanagem que assola o país?

Vocês já viram na história alguma democracia se consolidar sem a liberdade de expressão, de opinião e de crítica?

O tema, no Brasil é recorrente. Dizem os atuais donos do poder que há que se criar alguma forma de  controlar a imprensa. O ex-ministro da SECOM, Franklin Martins, muito ouvido no Palácio do Planalto, faz parte desta corrente radical.

A verdade é que hoje vivemos num ambiente de liberdade ampla, geral e irrestrita, que incomoda muita gente. Mesmo porque, no Brasil, os meios de comunicação não dependem do governo para sobreviver, já que tem na publicidade, e não na propaganda, o seu principal meio de sustentação financeira. Mas vejam o perigo: há mais de 100 projetos tramitando na Câmara proibindo a publicidade de alguma coisa. Se não der para dar um jeito institucional, aplica-se o torniquete comercial. Isso me faz lembrar o projeto apresentado por um deputado russo débil mental: “fica proibida a publicidade na União Soviética. Os ricos já têm tudo e os pobres não podem comprar”…

O próprio ex-Presidente Lula, com sua autoridade, acaba de declarar que a imprensa avacalha a política, como se não fosse a política que avacalha a si mesma, e a sociedade.

E recomendou aos jovens a leitura da biografia de Getúlio, obra magnífica do jornalista Lira Neto.

Nela todos verão que amordaçar a imprensa foi parte fundamental da doutrina getulista de se manter no poder por 15 anos. Já logo após a Revolução de 30, ainda no governo provisório, Getúlio impôs a censura. Em 1932, o Diário Carioca foi empastelado. Depois veio a “Lei Monstro”, pela qual “os brasileiros não tinham mais direito de pensar em voz alta”. Em seguida, com a oposição silenciada, a ditadura do Estado Novo, que durou até 1945.

Getúlio sabia do perigo da liberdade de expressão. Quando presidente eleito pelo voto popular, sofreu poderosas oposição, notadamente da Tribuna da Imprensa, de Carlos Lacerda que, tomando o episódio do atentado da Rua Toneleros e aos “malfeitos” de Gregório Fortunato como bandeiras, acirrou os ânimos de tal forma que o Presidente acabou se suicidando em 1954.

Ora, quem quer se perpetuar no poder tem mesmo que ter medo da liberdade de expressão.

O ex-Presidente  Lula acaba de fazer uma ameaça amplamente divulgada: “se me encherem o saco volto em 2018”. Justo ele que nem precisa voltar, já que nunca saiu…

E se ele encher o saco com a imprensa e decidir que ela não pode mais avacalhar?

Com maioria no Congresso será que ele não poderia propor mais uma reforma constitucional além das 79 já feitas?

E com 8 dos 11 Ministros do Supremo indicados  por ele e por Dilma, será que a nossa Corte Suprema não poderia imitar “los hermanos porteños”?

No país da impunidade tudo é possível. Vejam o caso do mensalão.

Há muita gente aboletada no poder que gostaria que a nossa democracia com forte viés castrista-bolivariana não saísse jamais do poleiro.

Portanto, minha gente, barbas de molho porque o vírus do autoritarismo impulsionado pelo populismo é difícil de combater. Como bem atesta nossa própria história, desde Getúlio até a ditadura militar.

E pode facilmente atravessar fronteiras.

E só há um antídoto contra ele: nós mesmos.

Que temos que nos manter atentos e mobilizados contra as ameaças atuais e futuras.

Mesmo porque o preço da liberdade é a eterna vigilância.

Faveco (Flávio Corrêa) é jornalista, publicitário, consultor, escritor e palestrante.

Blog: www.faveco.com.br

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