EX-MINISTRO, BEZERRA DIZ QUE PSB SOFREU “CENSURA”

Sergio Lima: BRASÍLIA, DF, BRASIL, 08-02-2011, 12h00: O Ministro da Integração Nacional, Fernando Bezerra Coelho dá entrevista exclusiva sobre os investimentos do ministério para 2011.  (Foto: Sergio Lima/Folhapress, PODER) ***EXCLUSIVO***

PE247 – O agora ex-ministro da Integração Nacional e provável coordenador responsável pela elaboração do plano de governo presidencial do PSB, Fernando Bezerra Coelho, disse que uma das principais razões que levaram a legenda socialista a deixar a base do governo da presidente Dilma Rousseff (PT) teria sido o fato de haver sido “censurado” por alguns setores do governo em relação aos planos de ter uma candidatura própria para disputar a Presidência da República.

Tomei a iniciativa procurar o governador depois de ter comunicado ao ministro Mercadante (Aloísio Mercadante, Educação) de que não era razoável poder estar no governo e estar sofrendo censura de alguns de seus setores”, afirmou ao jornal Folha de Pernambuco. Na entrevista, Fernando Bezerra Coelho disse, ainda, que o PSB está pronto para disputar o Planalto e que o governador de Pernambuco, Eduardo Campos, reúne as condições necessárias para isto, além de ser uma novidade na política nacional.

Ele também falou das tarefas que terá pela frente como um dos coordenadores da elaboração do plano de governo que será defendido pelo partido e da relação com o Partido dos Trabalhadores.

Confira abaixo a entrevista:

O senhor recebeu a missão do governador Eduardo Campos de rodar o País para trabalhar um plano de governo nacional para o PSB. Esse trabalho será iniciado quando?

O governador me comunicou que a Executiva nacional do partido seria convocada no dia 16 de outubro, e nessa ocasião ele iria recomendar o meu nome para integrar o colegiado, ocupando uma das vice-presidências do partido e pediu que eu me juntasse a uma equipe que está sendo formada. E que eu pudesse, então, coordenar uma espécie de um fórum que está se chamando de Diálogos para o Desenvolvimento, que é reunir contribuições, sugestões e indicações para a construção de um eventual programa de governo, tendo em vista que o partido está aprofundando o debate para apresentar uma candidatura presidencial nas eleições de 2014. Isso vai demandar, certamente, a realização de seminários, workshops e visitas em diversas regiões do País, como também em Pernambuco. Vamos fazer debates e sugestões aqui também no nosso Estado.

O fato de o senhor ter sido ministro até a semana passada e conhecer o que pode não ser feito na prática em termos de gestão pesou para essa indicação do governador?

Eu acho que esse convite é fruto certamente dessa experiência que tive à frente do Ministério da Integração Nacional. Oportunidade da gente conhecer melhor o País. O Brasil tem dimensões continentais, realidades regionais bastante diferenciadas e distintas, e acho que poderei, portanto, contribuir de forma objetiva e positiva para que a gente possa recolher as melhores ideias e as melhores sugestões daquilo que queremos construir para o Brasil do amanhã. Eu acho que hoje o grande debate que a sociedade brasileira está interessada é saber em que condições e de que forma a gente poderá sustentar um crescimento mais intenso e mais acelerado do que nós obtivemos nos últimos anos.

Muito se falou, ao longo de todo esse ano, que o senhor iria para o PSD, PMDB… Em algum momento, Fernando Bezerra Coelho pensou em deixar o PSB?

Não. Os que acompanham a minha trajetória há mais tempo vão perceber que, desde 1986, quando nós fizemos a opção de apoiar a candidatura de (Miguel) Arraes, quando ele se candidatou pela segunda vez ao Governo de Pernambuco, a gente sempre atuou e militou no campo de forças políticas liderado por Arraes e, agora, liderado por Eduardo. Nós estivemos com Arraes em 1986, em 1990, em 1994, em 1998. Divergimos em 2002, foi momento em que a gente se afastou, até porque eu me elegi prefeito de Petrolina em 2000 pelo PPS, e o PPS em 2002 resolveu ter uma outra posição política. Então, aquele momento, em 2002, a gente divergiu a nível estadual, mas em 2002 no segundo turno a gente apoiou Lula. Em 2006, fomos um dos primeiros a apoiar Eduardo e continuamos de lá para cá. Essa é portanto uma trajetória de muita coerência em relação a esse campo de luta política. Eu atribuo as especulações que foram de certa forma intensas ao longo desses últimos meses fruto da relação que a gente tem com o presidente Lula e fruto da relação que nós construímos com a presidenta Dilma. Existiu durante certo momento uma discussão dentro do partido, do PSB, sobre a oportunidade da construção da candidatura própria à Presidência da República. E de forma muito correta, muito respeitosa e leal, eu me posicionei a favor da manutenção da aliança. Isso não foi feito as escondidas, foi feito de forma clara, inclusive, comunicando o presidente do meu partido. E ele respeitou e entendeu até porque o partido não tinha tomado nenhuma deliberação por qualquer das instâncias partidárias.

Mas isso mudou depois, né?

Em junho é que eu conversei com o nosso presidente, com o governador Eduardo, então me informava de que estava se aprofundando a tese da candidatura própria. Largos setores do partido caminhavam para o apoio à candidatura própria e que era chegado o momento do partido se unificar. Mas isso coincidiu com o movimento de ruas que ocorreu. Havia até setores do partido, como, por exemplo, o ex-ministro Ciro Gomes, em reunião que ele participou aqui no Recife, defendia a entrega dos cargos em julho. O governador Eduardo Campos não concordou porque não entendia que fosse adequado no momento de crise o PSB se afastar do Governo Federal. Ele foi solidário no momento da crise política que ocorreu. A decisão da saída dos cargos do governo, nós imaginávamos que ia se dar no final deste ano, mas o fato é que as especulações, as manifestações de setores do PT e de setores do Governo indicavam um certo mal-estar, um certo desconforto com as movimentações do PSB. Então, eu mesmo tomei a iniciativa procurar o governador depois de ter comunicado ao ministro Mercadante (Educação) de que não era razoável poder estar no governo e estar sofrendo censura de alguns de seus setores.

Que tipo de censura?

Que esses setores não entendiam como sendo correto o PSB poder propor o debate de uma candidatura presidencial estando no governo. Você veja as críticas que o ex-ministro Ciro Gomes faz em relação ao governador Eduardo Campos são totalmente improcedentes. Se não, vejamos, em 2010, Ciro foi candidato a presidente da República até abril de 2010. O presidente Lula teve toda paciência e compreensão de entender que ali era um momento legítimo de afirmação partidária e soube aguardar o amadurecimento de posição do PSB e que, de fato, o PSB tomou em 2010 pelo apoio à candidatura da presidenta Dilma. Então, eu acho que agora que o partido vem de duas eleições vitoriosas, a de 2010 e a de 2012, é natural que a candidatura própria seja examinada pelo partido e seja colocada como uma opção do PSB para a disputa de 2014.

O senhor saiu do governo recebendo elogios da presidente Dilma. Como ficará a relação agora já que trabalhará uma provável candidatura oposta a dela?

A alegria de ter construído essa relação de respeito e de confiança e de amizade com a presidenta Dilma. Se trata de uma grande mulher, de uma grande brasileira e de uma grande gestora. Eu serei sempre muito grato a ela pelo apoio, pelo estímulo e sobretudo pela confiança que ela me ofereceu durante o período que foi ministro da Integração Nacional. Ela conhece a minha posição a respeito da candidatura do PSB à Presidência da República e eu acho que isso não deve nos afastar.

Alguns críticos atestam que o PSB não estaria pronto para um projeto presidencial. O partido está?

Eu acho que o PSB acumulou ao longo dos últimos anos muita experiência política e muita experiência administrativa. E acho que, se fizermos uma avaliação serena, sem paixão, todos na política, jornalistas, especialistas, professores de ciências políticas, que acompanham a cena da política brasileira dos últimos anos, haverão de reconhecer que Eduardo Campos é um dos mais promissores quadros da política nacional. Seja pela sua capacidade de diálogo, de articulação com todas as forças políticas que atuam no Brasil, seja pela sua capacidade de gestão comprovada, demonstrada aqui no Governo de Pernambuco. Portanto, Eduardo é um quadro que representa uma grande novidade e que começa a despertar um sentimento de cada vez mais conhecer de perto essa figura pública que impressiona os pernambucanos e que começa a despertar interesses em diversos setores da sociedade brasileira.

Deixe um comentário

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *