Ocupação desordenada e desmatamento aumentam caos no período de chuvas de Salvador

Engarrafamentos, alagamentos e desabamentos. Esses são os principais problemas que atingem Salvador quando inicia o período de chuvas. Mas você já se perguntou por que a capital fica um caos quando chove?

Segundo o professor Jorge Glauco Nascimento, coordenador do colegiado do curso de urbanismo do Campus I da UNEB, a capital baiana tem chuvas durante 230 dias por ano, o que prejudica o escoamento do volume de água, traz sérios problemas para as encostas dos morros e trava o trânsito da cidade.

O professor lembrou, porém, que essa ordem da natureza acaba sendo devastadora em Salvador, pois além do processo natural, o número de desabamentos aumenta por um fator primordial: a intervenção urbana desordenada.

Segundo dados da Defesa Civil de Salvador, existem 540 áreas e cerca de 2,1 mil pontos com risco de desabamento ou alagamento na capital baiana.

Desmatamento e urbanização desenfreada

O crescimento da urbanização de Salvador, de acordo com o docente, é outro grande problema da capital, já que a falta de planejamento urbano só prejudica as ações de prevenção contra os alagamentos e os deslizamentos de terra.

“O que temos visto são obras absurdas sendo realizadas por toda a cidade. Grandes empreendimentos são construídos apenas por serem bonitos, sem nenhuma avaliação sobre as prioridades e as necessidades da população. Salvador virou um local para atender aos interesses da iniciativa privada. O interesse público é minimizado”, destacou Jorge Glauco Nascimento.

O pesquisador detalhou: “Um bom exemplo é a obra do Horto Bela Vista, no bairro do Cabula. O processo de desmatamento daquela área causará muitos problemas. Lá havia 30 hectares de áreas permeáveis que foram retiradas para a criação do condomínio de luxo. Neste período de chuvas cerca 600 mil metros cúbicos de água deixará de ser absorvido naquela área, indo desafogar nas avenidas de vale da cidade, como a Antônio Carlos Magalhães e a Heitor Dias, e nas Sete Portas”.

Jorge Glauco lembrou ainda que, além de todo o caos sofrido pela cidade, existe o perigo do contágio e da proliferação de doenças causadas pela chuva, a exemplo de leptospirose, malária e pneumonia.

Obras emergenciais da prefeitura

O pesquisador mostrou preocupação também com algumas escolhas da Prefeitura Municipal de Salvador, que ao optar por medidas de contenção e prevenção de alagamentos, utilizou lonas para as encostas e fez o tamponamento de rios (fechamento com concreto).

“Essas são medidas paliativas, que são usadas porque o que realmente deveria ser feito, não acontece. Imagine: o rio é fechado, mas quando a chuva vem com muita força, a água passa com tanta pressão que pode levantar o tamponamento. Aí os prejuízos seriam inimagináveis. Se analisarmos direitinho é desperdício de dinheiro público”, ponderou o coordenador do curso de urbanismo da UNEB.

O argumento utilizado pela prefeitura da capital para justificar as obras de emergência, a exemplo da utilização das lonas, é a falta de verbas suficientes para atender a demanda da cidade, que tem tido um crescimento significativo nos últimos anos.

Operação Chuva 2012

De acordo com a Defesa Civil, na última quarta-feira (21) foi publicado, no Diário Oficial do Município, decreto referente à criação e implantação da Operação Chuva 2012, que acontece entre os dias 1º de abril e 30 de junho deste ano.

A finalidade da ação, segundo o órgão, é “dar mais agilidade e efetiva resposta aos desastres, reduzindo assim os efeitos dos prejuízos causados pelas chuvas no período do outono-inverno”.

A partir do próximo mês, a população baiana deve começar a se preparar para a temporada de chuva na capital, já que dados da Defesa Civil apontam para uma oscilação nos números de tragédias: de 2001 a 2004 foram contabilizados seis vítimas fatais, com 33 feridos; de 2005 a 2008, foram 13 mortos e 41 feridos; e entre 2009 e 2011 houve nova redução, com registro de seis mortos e 16 feridos.

(Ascom UNEB)

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