HPV – O QUE É E PORQUE VACINAR

*Pedro Alcântara

blogqsppedro Todos conhecem o HPV, uma doença sexualmente transmissível (DST) causada pelo Papiloma vírus humano (HPV), talvez não por este nome, mas por nomes distintos, como verruga genital, crista de galo, figueira ou cavalo de crista. Atualmente, existem mais de 100 tipos de HPV – alguns deles podendo causar câncer, principalmente no colo do útero e do ânus.

Diferente das doenças viróticas, como a gripe, que gera dor no corpo, febre, náuseas, fazendo o organismo providenciar a defesa, o HPV é um vírus dissimulado. Ele entra e só aparece quando há uma queda na imunidade. Depende de cada mulher o período de latência, mas a cada dia vemos mulheres jovens morrendo de câncer do colo. Antes, mesmo no meu tempo de formando, a idade crítica era 50 anos, caiu para 40 e hoje vemos mulheres de 25 a 30 anos em estágio avançado, com metástase, sem chance de cura efetiva. Como prevenir isso?

Se há consenso sobre o risco do HPV; a questão quem e quando vacinar gera, não raro, problemas e questionamentos. Alguns fundados na tradição e conservadorismo, outros nas crenças religiosas e a maioria por desinformação. Espero poder contribuir nesta discussão com este artigo e estou aberto para os questionamentos que possam ser feitos, agradecendo a todos a leitura e a contribuição.

Discutamos então a idade ideal para prevenir a entrada do vírus no organismo. Se uma menina teve relação sexual com 14 anos, ela terá, estatisticamente, 80% de chance de estar contaminada pelo HPV até os 15 anos. Então, vamos vacina-la antes dos 14. A decisão, denominada prevenção primária, é vacinar meninas de 11 a 13 anos a partir deste ano; ano que vem de 9 a 11 anos e a partir de 2016 só meninas de 9 anos. Isso cobre todo o ciclo de nascimento das meninas neste período.

Levanta-se, em diferentes estratos sociais, a questão de que a vacina incentivaria a promiscuidade sexual entre crianças e adolescentes. Nada menos verdadeiro. O que inibe a maternidade, a paternidade não planejada e o sexo sem proteção é o diálogo e informação, que tem de ser constantes na escola e em casa, a partir dos pais, mães e professoras e professores e, no meu entender, sempre que possível, um diálogo conjunto com todos os interessados.

A vacina não significa que a adolescente está autorizada a ter sexo sem camisinha. A vacina não protege contra Hepatite B, contra HIV e nem evita a gravidez. Ela protege contra o câncer cervical, o câncer do colo do útero. É preciso vacinar estas meninas enquanto elas são virgens e isso lhes garantirá quase 100% de imunidade. Todos os estudos mostram que nesta idade, de 9 a 13 anos, ao se aplicar a vacina, a produção de anticorpos será mais intensa.

Outro aspecto é a questão social, o conservadorismo ou a religiosidade. Há mães (e pais), que se recusam vacinar as filhas por convicções religiosas arraigadas ou imaginar poder manter tradições que há muito nem são mais lembradas, quando mais respeitadas, tipo “Sexo não é coisa que se discuta com crianças”, “minha filha vai casar”, “minha filha vai casar virgem”, “minha filha se resguardará até os 18 anos” ou ainda: “Minha igreja não permite o sexo fora ou antes do casamento” e o inimaginável “não admito relacionamento entre pessoas do mesmo sexo”.

O raciocínio é simplório: “Eu ensinei que não pode haver sexo destas formas, então não haverá riscos. Pra que a vacina?”

Sempre haverá quem atenda aos ensinamentos dos pais. Então não é isso que devemos discutir. Discutamos a informação. Se nos dispusermos a informar às nossas filhas, a partir da realidade, dos números, dos riscos e não apenas de nossa convicção, seja ela religiosa ou moral, a decisão, comum, será sempre correta.

Me estenderia por mais mil palavras e não esgotaria os argumentos a favor da prevenção, mas a palavra essencial e indispensável, que resume e soluciona é INFORMAÇÃO. Ainda há crianças morrendo de coqueluche, rubéola e outras doenças que há muito podem ser prevenidas com vacinas. Falta informação.

Reitero aqui o objetivo deste artigo: Convencê-la, mãe, a vacinar suas filhas. O futuro não garante que você esteja aqui para acompanha-la na quimioterapia ou radioterapia. E, mesmo se estiver, você vai estar em uma idade avançada para suportar o sofrimento de uma filha.

Pedro Alcântara de Souza-Médico, ginecologista, pai de Maria Emília.

 

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