HISTÓRIAS DE UM FINAL CONHECIDO

*Enio Silva da Costa

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Desde o dia 21 de novembro de 2010 quando foram incendiados os primeiros carros na cidade do Rio de Janeiro, a mídia soube muito bem como criar um estado de pavor no cidadão carioca.

Assaltos viraram “arrastões” e os carros incendiados incansavelmente filmados. Em seguida o estardalhaço das operações policiais nos morros cariocas do Complexo do Alemão e Vila Cruzeiro, apenas revelaram o descaso dos governos com essas comunidades. São anos de extrema exclusão, uma população significativa sem acesso aos serviços públicos básicos.

Ora, juntando o efetivo das policias militar e civil, ficam entorno de 65 mil homens, como o estado tolerou durante tantos anos, que cerca de 600 homens (segundo estimativa da Secretaria de Segurança Pública do Rio de Janeiro) não permitissem que o mesmo não cumprisse o seu dever constitucional de assistir a essas comunidades, promovendo uma vida digna para milhares de brasileiros? É óbvio que não é preciso recorrer a ficção (o filme Tropa de Elite 2) para ter-se a certeza que o narcotráfico carioca abastecer não somente com drogas os playboyzinhos da zona sul, mas muitos políticos e policiais são beneficiários direto do tráfico de drogas.

Durante a “invasão” (termo usado pela mídia e as forças de segurança) as favelas fiquei imaginando o que de fato queriam as autoridades com a espetacularização e até quando essas comunidades serão assistidas pelo Estado. O governador anunciou a implantação de UPP’s (Unidade de Policia Pacificadoras) nas comunidades. A prefeitura não ficou atrás, também anunciou uma série de medidas para assistir as comunidades. Toneladas de lixo foram retiradas das ruas, deveriam estar ali há anos, os traficantes “não permitiam que a coleta de lixo fosse realizada”. Ótimo, serviço terceirizado, a empresa recebe para prestar o serviço, mas os traficantes não deixam, alguém deve ganhar com isso. Unidades de Saúde da Família? Não precisa instalar. Escola, professores, lazer, cultura, entretenimento, isso são artigos de luxo, para que isso, se nas favelas os traficantes não deixam entrar. Isso perdurou por muitos e longos anos.

Por que somente agora a retomada das comunidades dominadas pelos traficantes? Primeiro: deveria ter-se vergonha de usar o termo “retomada“, nunca e momento algum essas comunidades foram do Estado, nunca ele se fez presente, então retomaram o que? Por que se permitiu que tanta gente morresse nessas comunidades? Por que se permitiu que tantos jovens fossem seduzidos ou obrigados a servir os chefões do tráfico? Por que durante tantos anos se negou os serviços públicos básicos a essas comunidades? E por que somente agora esse interesse em pacificar essas comunidades? Para algumas perguntas não tenho como imaginar as respostas, deveriam ser respondidas diretamente pelo governador e o prefeito da cidade do Rio de Janeiro, mas posso discorrer sobre algumas hipóteses desse interesse em “retomar” essas áreas.

Primeiro: estamos à beira de sediar uma Copa do Mundo, assim como São Paulo, o Rio será a vitrine e destino de muitos turistas, possivelmente a final seja lá. Como lucrar e obter patrocínio numa cidade com altos índices de violência? Segundo: estava marcado para o dia 02/12, à apresentação ao mercado de patrocinadores, o Projeto Comercial do Comitê Organizador dos Jogos Olímpicos e Paraolímpicos Rio 2016 “Trata-se de uma robusta plataforma de comunicação de até seis anos para as empresas fortalecerem suas marcas (grifo nosso) estabelecerem novos relacionamentos e expandirem seus negócios, a partir de sua associação com os Jogos Rio 2016”. Quem vai querer investir numa marcar com possibilidades de fracasso, em razão de tanta desigualdade social, traduzida pela dominação do tráfico de drogas e dos reflexos de um sistema de miséria e violência inerentes ao capitalismo? Serão bilhões que serão arrecadados com patrocínios. Então longe de ser uma questão de reparação social, a operação policial nas favelas carioca é uma questão comercial. Longo após as Copa do Mundo e das Olimpíadas (não sei se chega a isso) os traficantes podem reassumir os destinos das comunidades.

*Enio Silva da Costa-Pedagogo e Sgt BM

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