
Flávio Leandro nasceu no Araripe, um canto inexplicavelmente diferente e enigmático de Pernambuco esturricado pelo calor e ignorado pela água. Flávio nasceu em Bodocó, e a légua para a Exu que deu Luiz Gonzaga ao mundo não é tão tirana assim.
Entre Bodocó com suas minas e mistérios de pedra, um solo generoso acariciado pelos ventos do Cariri e a Exu de Luiz do baião nosso de cada dia, estão os vaqueiros, as rezadeiras, os beatos, a feira de rua, desmantelada por seus mercadores vendendo pão e alguma ilusão. o poeta Leandro soube ser Flávio para ver tudo isso, sob as bênçãos de dona Izinha, sua mãe, e, seu Teté, seu pai.
Flávio Leandro parecia sentenciado a esse “bolsa”, desmedido programa para famílias registradas pelo trópico impiedoso da seca. E viu, pensou e carregou na sua timidez, a poesia esticada no academicismo de João Cabral de Melo Neto, pensador de escrita Severina, entremeada por hinos de Asa Branca e Assum Preto. A esperança cega dos “óios” que nem viu chuva nem recebeu a esmola repudiada por Humberto Teixeira.
Flávio Leandro, ainda criança virando agora menino com espinhos nos pés e no rosto, não discernia bem a acne, mas, escrevia muito o “chêro de chiqueiro” que pariu o primeiro elepê com travessuras que virariam muitos outros cd’s. Começa o tempo cantado de Flávio, o tempo pensado de Flávio, a sala de aula, o emprego do sustento, a poesia que suportou bem a matemática pública e particular que absorveu “o tempo de Deus” trazendo brasilidade matuta na sua vida, fazendo parte da nossa vida em sofrimento acústico nem que fosse um sobejo iluminado de forró.
Flávio, resgatado pela proteção da sua casa perfumada de muçambês e macambiras, estudou sem pretensão, mas, o suficiente para ser Auditor de Impostos como impusera sua criação com dever de casa.
Flávio é Leandro cada vez que faz parte do café com aroma da cozinha sertaneja, com cuscuz, com rubacão incendiado de pequi. Flávio é essa voz premiada pelo convívio sábio com Dominguinhos, primeiro ministro encantado de sanfona.
Flávio ainda criança, sem lap top, sem celular, sem as frequências moduladas em sua pequena Bodocó, sabia bem que uma emissora falava e cantava sua vida, que a torre erguida de Dom Campelo era a voz que saía de Petrolina, que era também sua legitima voz hoje com 51 anos, a Voz do São Francisco.
Foto/
Cantor pernambucano e poeta/
FLAVIO LEANDRO
*Marcelo Damasceno é radialista