EXCLUSÃO PADRÃO FIFA

*Paloma Jasmini

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Eu assisti a tudo, toda aquela repressão, todo o desespero de famílias, daqui mesmo, do primeiro andar de minha mansão luxuosa. Vi muita gente tendo suas casas, raízes, simbologias destruídas, através de desapropriações e remoções e em nome de um evento que deve movimentar a nossa economia.
Esse é um lado lamentável do que está por trás do mágico sentimento nacionalista que tanto nos inspira o futebol e por trás do megaevento chamado Copa do Mundo, que neste ano acontece aqui no Brasil, uma das maiores potencias econômicas do mundo, o país tropical, o país do futebol!
E eu estava descobrindo essa realidade só agora, só quando procurei ver com meus próprios olhos o que estava acontecendo à minha frente. Antes, a Copa significava para mim apenas motivo de orgulho pela capacidade e reconhecimento do meu país, por liderarmos com garra esse esporte.
Percebi que estive acostumado a me deparar apenas com o lado positivo do evento, até que passei a acompanhar o concreto se alastrando ao invadir campos habitacionais e naturais sem maiores preocupações e a população em desespero. Pessoas reunidas ali, compartilhando perdas e pequenas iniciativas de luta diante de um gigante.
Eu estava mesmo muito concentrado e pensativo, me colocando por um minuto fora do meu aconchego e dentro daquela simplória e revoltada comunidade, refletindo sobre essa tamanha injustiça, sobre como a vida lá em baixo parecia ser difícil, e me perguntando o porquê deles não terem ousado destruir também a minha casa.
Minha reflexão, enfim, se rompeu quando meu filho Gustavo me abraçou por trás e me chamou para brincar, mas antes que eu pudesse dizer qualquer coisa ele voltou o seu olhar janela a baixo e me perguntou: – O que é isso, pai? E eu respondi, sem esperar que ele entendesse: – São apenas mais direitos desprezados. Neste caso, o direito de moradia e do trabalho, especialmente. Desça, vá jogar videogame, papai não pode brincar com você agora.
E, mais uma vez voltei meu pensamento para aquilo que me perturbava: Por qual motivo? E respondi a mim mesmo: Ora, consequência da construção interminável de estádios, que levantará um público fervoroso, e de ferrovias que facilitarão o trajeto dos milhares de turistas que circularão pelo país durante esse período.
É por isso que milhares de famílias estão tendo os seus direitos mais ordinários violados. Percebi que mais do que passar por cima das casas, o projeto da Lei Geral da Copa (LGC) passa por cima da história, da cultura, de vidas.
Além disso, permite o controle da Fifa sobre qualquer produto que esteja a venda nos arredores dos estádios, sem falar na quantidade de vendedores ambulantes limitados pela mesma. Ou seja, os nossos incansáveis lutadores conterrâneos, que poderiam tirar o suado sustento de suas famílias através das suas vendas são nitidamente excluídos. Gente obrigada a dar o seu lugar, a sua terra, para empresas estrangeiras milionárias.
Paro e penso: Movimentação da economia? Sem dúvida, mas a favor de quem? Nosso país tem uma das maiores economias… É riquíssimo. Mas a política de distribuição dessa riqueza ainda é uma triste realidade. Não consigo me orgulhar de um crescimento econômico separado de desenvolvimento econômico. Atentemo-nos para a diferença entre as duas coisas.

Eu assisti a tudo, toda aquela repressão, todo o desespero de famílias, daqui mesmo, do primeiro andar de minha mansão luxuosa. Vi muita gente tendo suas casas, raízes, simbologias destruídas, através de desapropriações e remoções e em nome de um evento que deve movimentar a nossa economia.
Esse é um lado lamentável do que está por trás do mágico sentimento nacionalista que tanto nos inspira o futebol e por trás do megaevento chamado Copa do Mundo, que neste ano acontece aqui no Brasil, uma das maiores potencias econômicas do mundo, o país tropical, o país do futebol!
E eu estava descobrindo essa realidade só agora, só quando procurei ver com meus próprios olhos o que estava acontecendo à minha frente. Antes, a Copa significava para mim apenas motivo de orgulho pela capacidade e reconhecimento do meu país, por liderarmos com garra esse esporte.
Percebi que estive acostumado a me deparar apenas com o lado positivo do evento, até que passei a acompanhar o concreto se alastrando ao invadir campos habitacionais e naturais sem maiores preocupações e a população em desespero. Pessoas reunidas ali, compartilhando perdas e pequenas iniciativas de luta diante de um gigante.
Eu estava mesmo muito concentrado e pensativo, me colocando por um minuto fora do meu aconchego e dentro daquela simplória e revoltada comunidade, refletindo sobre essa tamanha injustiça, sobre como a vida lá em baixo parecia ser difícil, e me perguntando o porquê deles não terem ousado destruir também a minha casa.
Minha reflexão, enfim, se rompeu quando meu filho Gustavo me abraçou por trás e me chamou para brincar, mas antes que eu pudesse dizer qualquer coisa ele voltou o seu olhar janela a baixo e me perguntou: – O que é isso, pai? E eu respondi, sem esperar que ele entendesse: – São apenas mais direitos desprezados. Neste caso, o direito de moradia e do trabalho, especialmente. Desça, vá jogar videogame, papai não pode brincar com você agora.
E, mais uma vez voltei meu pensamento para aquilo que me perturbava: Por qual motivo? E respondi a mim mesmo: Ora, consequência da construção interminável de estádios, que levantará um público fervoroso, e de ferrovias que facilitarão o trajeto dos milhares de turistas que circularão pelo país durante esse período.
É por isso que milhares de famílias estão tendo os seus direitos mais ordinários violados. Percebi que mais do que passar por cima das casas, o projeto da Lei Geral da Copa (LGC) passa por cima da história, da cultura, de vidas.
Além disso, permite o controle da Fifa sobre qualquer produto que esteja a venda nos arredores dos estádios, sem falar na quantidade de vendedores ambulantes limitados pela mesma. Ou seja, os nossos incansáveis lutadores conterrâneos, que poderiam tirar o suado sustento de suas famílias através das suas vendas são nitidamente excluídos. Gente obrigada a dar o seu lugar, a sua terra, para empresas estrangeiras milionárias.
Paro e penso: Movimentação da economia? Sem dúvida, mas a favor de quem? Nosso país tem uma das maiores economias… É riquíssimo. Mas a política de distribuição dessa riqueza ainda é uma triste realidade. Não consigo me orgulhar de um crescimento econômico separado de desenvolvimento econômico. Atentemo-nos para a diferença entre as duas coisas.

por Paloma Jasmini (Chuteiras fora de Foco)

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