UM HOMEM, UMA VIDA, UMA HOMENAGEM: AO SENADOR JOÃO DURVAL

*SÉRGIO BARRADAS CARNEIRO

Neste domingo, 8 de maio, meu pai, o senador João Durval (Foto), comemora 85 anos de vida. Para homenageá-lo, meu presente é este artigo, que, de forma modesta, me permite relembrar fatos importantes para quem vivenciou seu mandato como governador do Estado. E mais: espero passar, para as novas gerações, alguns dados sobre um dos períodos mais profícuos que a Bahia viveu.

Tese de doutorado produzida na Fundação Getúlio Vargas (FGV), em São Paulo, o colocou entre os 15 melhores governantes do Brasil, apontando sua gestão à frente do governo baiano como a que mais investiu em saúde e educação na época.

O trabalho do cientista político José Luciano de Mattos Dias foi feito a partir de dados sobre a atuação de 65 governadores em três mandatos consecutivos, com base em números do Tesouro Nacional e do Ministério da Educação. Mostra a preocupação com o social como marca do ex-governador, ressaltando que os investimentos em saúde ocorreram numa época em que não havia obrigação constitucional.

João Durval teve sua trajetória pública e política marcada por uma caminhada digna de ser citada como exemplo para as novas gerações. Eleito duas vezes vereador em Feira de Santana e prefeito na mesma cidade, elegeu-se deputado federal em dois mandatos e foi secretário de Saneamento e Recursos Hídricos do Estado. De 1983 a 1987, tornou-se o primeiro governador da Bahia eleito por voto direto. Em 2006, foi para o Senado com 2,6 milhões de votos, quarto senador mais votado do País.

O período em que governou a Bahia foi marcado por grandes realizações em nosso Estado. Até hoje João Durval é reconhecido como o melhor governador que o funcionalismo baiano teve: fundou uma creche para filhos de funcionários, reestruturou os cargos dos servidores e a Procuradoria Geral do Estado.

O sertanejo também tem razões para lembrá-lo com carinho: foram mais de 4 mil poços artesianos abertos e 4,6 mil pequenas e médias barragens (como a de São José do Chorrochó e a de São José do Jacuípe), além de aguadas que reservaram 25 milhões de metros cúbicos de água de superfície, beneficiando 560 mil pessoas e 870 mil cabeças de rebanho animal.

Durante sua gestão, ocorreu a perenização do rio Jacuípe, afluente do Paraguaçu, (extensão de 260 quilômetros), com irrigação de dois mil hectares; a construção do sistema adutor do Sisal (130 quilômetros de abastecimento de água para 200 mil habitantes de 50 localidades) e a adutora projetada para Jacobina, para atender 12 localidades. O sistema de água foi simplificado com 1,7 mil cisternas, beneficiando mais de 1,1 milhões de habitantes de 246 localidades urbanas e rurais.

Um convênio permitiu a eletrificação para projetos de irrigação de 10,2 mil hectares e 150 mil foram desapropriados pelo governo federal, durante seu governo, para o Plano de Reforma Agrária. Mais de 113 mil títulos de propriedade foram entregues pelo governo estadual, abrangendo área de 3,6 milhões de hectares.

Na área de esgotamento sanitário e redes de água, foi ampliado o sistema de abastecimento de Salvador, implantadas 50 novas cisternas no interior e 17 ampliadas. Outras 50 cisternas receberam benfeitorias, beneficiando 117 localidades e 860 mil habitantes. No Sistema Embasa, 1.800 quilômetros de redes de água e 210 quilômetros de redes de esgotamento sanitário foram implantados, incorporando mais 362 mil domicílios, equivalente a 1,8 milhões de novos usuários.

No final do governo, eram 4,7 milhões de habitantes atendidos com água encanada e 870 mil com esgotamento sanitário. Ainda durante sua gestão, foi feito o sistema Integrado de Abastecimento de Água Itaparica/Vera Cruz, atendendo a 28 localidades e mais de 70 mil pessoas, e construída adutora ligando a represa do Joanes II ao reservatório CIA/Norte, com água para as indústrias.

As regiões de Candeias, São Francisco do Conde, Madre de Deus, Ilha dos Frades, Maré, Bom Jesus e Maria Guarda na Baía de Todos os Santos foram atendidas com obras no Sistema Integrado do Recôncavo. Foram feitas melhorias nos sistemas de abastecimento de Vitória da Conquista, Maracás, Pojuca, Serrinho e Biritinga e nos sistemas  de  esgotamento  de  Ilhéus.  Outros  74 quilômetros  de  redes  coletoras  e interceptoras de esgoto sanitário foram executados em Feira de Santana.

Durante  o  governo  de  João  Durval  a  Bahia  enfrentou  dois  anos  da  pior  seca registrada no Estado até então. Mesmo assim, o volume físico da produção agrícola cresceu 48,7%, a área colhida aumentou 24% e a produtividade atingiu 21,4% em media.  A  produção  de  grãos  elevou-se  para  1,3  milhões  de  toneladas  em  1985, recorde  na  época.  Milho,  feijão,  mandioca,  mamona,  algodão  e  café  registraram recordes e, em 1986, a maior colheita de cacau da década: 366,7 mil toneladas.

Para as Prefeituras, João Durval distribuiu 152 tratores e construiu as estações de Piscicultura do Paraguaçu em Boa Vista do Tupim, do Itapicuru em Caldas do Cipó e  do Oeste Baiano,  e  em Santana,  no Rio Corrente,  com  capacidade  de produção de 3,8 milhões de alevinos/ano. Com as Estações de Pedra do Cavalo e São José do Jacuípe, a capacidade aumentou para mais de 7 milhões de alevinos/ano.Muito  do  que  a  Bahia  é  hoje  tomou  impulso  naquela  época.  Na  área  de  energia,por exemplo, foram instalados 618 quilômetros de linhas de transmissão e 7,7 mil quilômetros de rede de distribuição, com 59 mil postes. A potência do conjunto das

Subestações da Companhia de Eletricidade do Estado da Bahia (Coelba) foi elevada em  mais  de  877  MVa.  Em  1986,  o  governador  celebrou  convênio  com  o  Banco Interamericano  de  Desenvolvimento  (BID), deixando  assegurados  recursos  para energizar mais 600 localidades, ligar 600 mil novos consumidores (150 mil de baixa renda), eletrificar 21,2 mil propriedades rurais, adicionar 835 MVa às subestações e construir mais de mil quilômetros de linhas de transmissão.Assim,  seu  governo  possibilitou  que  1.313  localidades  fossem  eletrificadas,  com mais  de  509  mil  novos  consumidores  e  um  total  de  1,5  milhões  de  ligações.  Na área  rural,  17 mil  novas  propriedades  foram  eletrificadas  e  outras  6.890  ligações feitas pelo Programa de Eletrificação de Minifúndios Produtivos. Ao  final de quatro anos,  ele  deixou  em  execução  obras  para  outras  três  mil  propriedades.  Também foi  construída a maior  subestação energética do interior, no bairro do Tomba, e o reservatório elevado do novo sistema de água de Feira de Santana.

A  amplitude  do  governo  de  João  Durval  pode  ser  confirmada  pelos  indicadores econômicos.  Em  1983,  o  Produto  Interno  Bruto  (PIB)  do  País  era  de  -3,5%  e  o estadual de 2,3%. O  comércio externo da Bahia  registrou  saldo da ordem de US$ 4,3  bilhões  no  seu  governo,  incremento  de  55,2%  em  valores  reais,  embora  o Plano  Cruzado  atrapalhasse  o  resultado  de  todos  os  indicadores.  Ainda  assim, foram geradas 165 mil vagas de trabalho e 110 novos empreendimentos industriais beneficiaram-se com incentivos fiscais concedidos pelo Estado.

As  empresas  do  Pólo  Petroquímico  de  Camaçari  expandiram  sua  capacidade instalada  em  33%,  diversificando  suas  linhas  de  produção  e  lançando  novos produtos  nos  mercados  interno  e  externo.  Ainda  durante  aquele  quadriênio,  a Caraíba iniciou suas operações da Unidade de Sulfato de Zinco, pioneira no País, e a Cetrel  ampliou  seu  sistema  de  efluentes  orgânicos,  superando  a marca  de  95% de remoção dos resíduos tóxicos contidos nos lançamentos líquidos das empresas.

Os  distritos  industriais  de  Ilhéus,  Itabuna,  Vitória  da  Conquista,  Juazeiro  e Alagoinhas, abrigavam, na sua saída do governo, 105 empresas em operação e 11 em implantação, gerando 6.140 empregos diretos. Já o Centro Industrial de Subaé (CIS) passou de 61 indústrias que geravam 3 mil empregos diretos em 1983, para 120 empresas, responsáveis pela geração de 12 mil empregos em 1987.

Foram  feitas  a  manutenção,  conservação  e  recuperação  de  mais  de  15  mil quilômetros  de  malha  rodoviária  estadual;  e  4,5  mil  quilômetros  de  novas estradas,  em  cujos  traçados  foram  executados  2  mil  metros  de  pontes.  Dentre elas,  destacam-se  a  Estrada  do  Sisal  (211,5  quilômetros)  e  a  Guanambi/Julião(96 quilômetros  cortando o Vale do  Iuiú), além da Ponte  sobre o Rio Pojuca  (180 metros)  na  Estrada  do  Coco,  viabilizando  o  aproveitamento  turístico  do  litoral Norte e aproximando a Bahia de Sergipe;  a Ponte sobre o Rio Cachoeira, na malha urbana  de  Itabuna  e  a  ponte  sobre  o  Rio  São  Francisco  em  Ibotirama,  ligando definitivamente o Oeste e aposentando as balsas. Diversas benfeitorias foram feitas em  estradas  e  pontes  das  regiões  de  Caetité/Brumado  e  Barra  da  Estiva/Ituaçu/Tanhaçu.

Mais  de  1,2  mil  quilômetros  de  estradas  vicinais  foram  construídos,  outros  215 quilômetros  asfaltados  e  executados  1,2  mil  metros  de  obras  de  arte  especiais (estradas  secundárias  de  acesso  a  pequenas  localidades,  indispensáveis  ao escoamento da produção). Na área urbana,foram mais de 1,3 milhões de metros quadrados de pavimentação.Outra  importante  obra  foi  o  Aeroporto  de  Feira  de  Santana,  que  hoje  leva  seu nome. Além  deste,  foi  durante  seu  governo  que  o  então  chamado Aeroporto  Dois de  Julho, na  capital,  foi  ampliado  e  transformado  em internacional.  Foram,  ainda, construídas ou reformadas pistas de pouso em diversas localidades.

A  gestão  do  governador  João  Durval  foi  marcada  pelo  equilíbrio  entre  ações voltadas  para  a  capital  e  o  interior.  Entre  as  iniciativas  para  Salvador,  podemos citar Cajazeiras – maior conjunto habitacional da América Latina e uma verdadeira cidade  dentro  da  capital,  com  25  mil  unidades,  cinco  escolas,  cinco  creches, seis  postos  policiais  e  posto  médico;  obras  na  orla  marítima;  a  implantação  das avenidas  Jorge  Amado  e  Dorival  Caymmi;  a  reconstrução  do  Mercado  Modelo; a  adutora  de  Pedra  do  Cavalo  –  que  resolveu  definitivamente  o  problema  de água  na  Região  Metropolitana;  a  construção  do  Centro  Médico  e  Odontológico  do IAPSEB  (Instituto  de  Assistência  e  Previdência  do  Servidor  do  Estado  da  Bahia); a  construção  do  Estádio  Manoel  Barradas,  o  Barradão,  um  divisor  de  águas  na história do Vitória; além de creches, escolas e obras em bairros populares.

No  interior,  foram  construídas mais  de  38 mil  unidades  habitacionais.  Na  área  de comunicações, em março de 1983 havia apenas 21 localidades com sinal de TV via Departamento  de  Telecomunicações  do  Estado  (Detelba).  Em  1986,  o  número  de municípios atendidos chegava a 290.

Em relação à saúde da população, a rede oficial registrou, somente em 1986, mais de 5 milhões de  consultas e atendimentos médicos e odontológicos, além de uma media  de  1,3  milhões  de  vacinas  no  quadriênio  de  seu  mandato.  Já  o  Programa de  Nutrição  em  Saúde  atendeu,  em  1983,  1,4  milhões  de  pessoas  e,  dois  anos depois,  passou  para  4,1  milhões,  um  acréscimo  de  190%.  Foram  construídos  60 novos postos de Saúde, quatro Centros de Saúde, quatro Casas de Parto e quatro hospitais,  sendo o maior o Clériston Andrade, em Feira de Santana. O número de leitos hospitalares passou de 3.933 para 4.160.

Os  hospitais  Ernesto  Simões  Filho  e  João  Batista  Caribé  e  a  Maternidade  do Hospital  Luiz  Viana  Filho  foram  recuperados  e  ampliados.  João  Durval  deixou pronta a  construção  civil do Hospital Geral de Camaçari, construiu e instalou mais 22  laboratórios  de  saúde  pública  e  inaugurou  o  Laboratório  Central  do  Estado. Também  foram  construídos  ambulatórios  em  Amaralina  e  Liberdade  (Salvador), Alagoinhas  e  mais  26  agências  e  34  subagências  no  interior.  Já  a  Bahiafarma  -Empresa de Produtos Farmacêuticos da Bahia produziu, em 1986, 60,8 milhões de comprimidos, 16,6 milhões de  cápsulas, 2,5 milhões de líquidos orais e xaropes e 1,4 milhão de ampolas de soluções parenterais.

Para  a  segurança  pública,  foram  instalados  92  complexos  policiais,  sendo  dois  de grande  porte  (Feira  de  Santana  e  Juazeiro),  adquiridas  919  viaturas  (479  para  a Polícia Civil, 420 para a Polícia Militar e 20 para o Detran). A PM passou a  contar com 22 mil homens,  contingente definido pela  Lei 4.331/1984,  sendo que 5,6 mil foram contratados durante os quatro anos de  seu governo. Já para a Polícia Civil, houve  concurso público para  admissão de 215  agentes policiais  e 164 motoristas. Foi extinta a Colônia Pedra Preta e criada a Delegacia de Proteção à Mulher.

Outros  aspectos merecem  lembrança,  como  a  implantação  da  Defensoria  Pública, a  ampliação  da  Cesta  do  Povo  (com  80  novas  lojas  num  total  de  230  em  189 municípios);  a  construção,  conclusão  e  inauguração  dos  Fóruns  de  Macarani, Juazeiro,  Prado,  Livramento  de  Nossa  Senhora,  Ribeira  do  Pombal,  Conde,  Sento Sé,  Santo  Amaro,  Santa  Luz,  Valente,  Terra  Nova,  Santo  Antonio  de  Jesus  e  do anexo  do  Fórum  Filinto  Bastos,  em  Feira  de  Santana.  Outros  sete  fóruns  foram deixados em construção. No governo de João Durval, também foi construída a Casa do Albergado e concluído o Pavilhão Corpo 3 da Penitenciária Lemos de Brito.

Na educação, em 1983 eram 2,1 milhões de crianças até 14 anos no Estado, sendo mais  de  1,5 milhão matriculadas.  Durante  seu  governo,  foram  676  novas  escolas de ensino fundamental e 107 de ensino médio, além de 2,6 mil novas salas de aula e outras 17,4 mil recuperadas. Foram oferecidas mais de 637 mil vagas adicionais em convênio com escolas particulares ou via bolsas de estudo e aluguel de imóveis.

Nas áreas rurais, foram construídas 445 salas, recuperadas 256 e equipadas outras 1.093.  Durante  o  quadriênio  1983/1986,  o  ensino  supletivo  registrou  mais  de 504 mil alunos  e o pré-escolar 160 mil  crianças.  João Durval  cuidou,  também, de conceder aumento diferenciado e abonos para os professores; instituiu o Programa Pó  de  Giz  (Lei  4.672  de  1986)  e   estabeleceu  o  enquadramento  automático por  tempo  de  serviço  e  avanço  horizontal  e  vertical  por  titulação  (Lei  4.618  de 1985). No ensino superior,  foi criada a Universidade do Estado da Bahia (UNEB) e ampliadas as Universidades Estadual de Feira de Santana (UEFS) e a do Sudoeste.

No  campo  esportivo,  cultural  e  de  lazer,  além  do  Barradão,  ocorreu  a  reforma  e ampliação do Estádio Jóia da Princesa, em Feira de Santana, e melhorias da Fonte Nova. Foram construídos estádios em Conceição da Feira, Maragogipe e Guanambi, construídas e recuperadas quadras, praças, parques e ginásios em 91 municípios.

Sete  centros  Culturais  foram  viabilizados:  Itabuna,  Vitória  da  Conquista, Alagoinhas,  Porto  Seguro,  Valença,  Juazeiro  e  Feira  de  Santana.  Por  iniciativa  de João  Durval,  foi  criada  a  Fundação  Instituto  de  Radiodifusão  Educativa  da  Bahia (IRDEB),  com  a  instalação  da  TV  Educativa.  O  turismo  foi  incrementado  com a  implantação  da  Via  Atlântica,  entre  Camaçari  e  a  Estrada  do  Coco;  a  compra de  mais  dois  ferry  boats  (Ipuaçu  e  Rio  Paraguaçu);  a  recuperação  do  navio Maragogipe,  encostado  há  mais  de  10  anos;  a  implantação  da  Ligação  Ribeira, plataforma  com  dois  terminais  de  passageiros  e  três  lanchas;  e  14  novos  hotéis e  pousadas.  Resultado:  o  número  de  turistas  saltou  de  800 mil  em  1983,  para  3 milhões em 1986.

Não posso deixar de registrar que ao longo desta caminhada, meu pai contou com o  decisivo  apoio  da  companheira  de  toda  uma  vida,  minha  mãe,  Yeda  Barradas Carneiro.  A  história  de  um  não  se  escreve  sem  a  do  outro,  por  uma  questão  de justiça. Para os baianos, tenho certeza, João Durval representa parte importante do progresso da Bahia. E para mim e minha  família,  fica o orgulho de podermos nos dizer filhos de um político reconhecido como honesto, sério, íntegro e honrado. Esta é a herança que recebemos em vida e da qual muito nos orgulhamos.Governo da Bahia, Vereador, Dep. Estadual e Federal, Procurador da Câmara dos Deputados.

*SÉRGIO BARRADAS CARNEIRO , Advogado, foi Chefe da Casa Civil do

 

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