O GRITO DO POVO É LEI!

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*Geraldo Dias de Andrade

De cor negra, filho de escrava alforriada, jornalista, escritor e orador de alto gabarito, abolicionista de verbo inflamado, José Carlos do Patrocínio, ou melhor, José do Patrocínio, quando viu o sofrimento do povo, principalmente de sua gente escravizada, não se agachou perante a atrocidade e proferiu enfaticamente a célebre frase: Ou cede à vontade do povo ou cai!

A vontade do povo é soberana, à qual somente não obedecem os visionários e os recalcitrantes que têm cabeça vazia de miolos, embora até mesmo possa parecer bonita. A repulsa é a senhora das ruas! Não retrai mediante quimeras, planos irrealizáveis, promessas enganosas ou engenhos ladinos para sufocar a ardência de revolta provocada pela calejada incúria estatal. Desleixo que sem compaixão menospreza patrícios ao recusar suas súplicas.

Diante do poder que se faz de mouco, a ira vai para a rua a fim de mostrar que isso que aí está é modelo de crueldade, ingratidão e perversidade, necessitando que se dê um basta para que tenhamos a expressividade de uma cidadania autêntica onde impere o estado de direito, lídima ambição de um povo que necessita de um governo coerente com os ideais democráticos insculpidos na Constituição Cidadã de 1988.

Esta vislumbra a plausibilidade de o povo ter dignidade, emprego e salário compatíveis para não se incorporar aos bolsões de esmolas e miserabilidade que o afoga no limbo da sarjeta da humilhação.

As massas vão às ruas bem como às praças, porque não têm quem lhes ouça o clamor, a voz dos desprotegidos da sorte, dos que suplicam por um padrão sustentável que lhes dê as condições necessárias de criar seus filhos sem passar fome, com educação e saúde de qualidade que constituem obrigação do Estado.

Pretender amordaçar o grito da massa ou intimidá-la com coerção policial só faz aumentar a contrariedade que já se encontra generalizada e que, para contê-la, torna-se necessário que o Governo passe a ouvir e a sentir a dor dos suplicantes, caso contrário haveremos de ver a convulsão social tornar-se incontrolável. Não é demérito escutar o sentimento de aflição de quem padece, pois a revolta não teme pressão, visto que a razão que lhe assiste é poderosa, não sincronizando o limite da ação.

A inquietação encontra-se cega, furiosa, querendo ser ouvida e respeitada, sem protocolos bestiais e exigências categóricas. Somos o Brasil! O momento é de entendimento para que a ira do povo não aumente.

A juventude quer o rumo certo para o País. Exige saber para onde vai. Não admite escândalos ou malversação do erário, dinheiro pertencente ao povo que é desperdiçado sem qualquer expectativa de retorno sob a forma de benesses sociais que efetivamente subtraiam o povo da miséria a que são condenados. Defendem o fim do assistencialismo vergonhoso e imoral que leva o homem a se tornar um parasita, um preguiçoso inútil, um peso morto com utilidade apenas para rendimentos eleitoreiros.

A eclosão de manifestos em todo o País está sendo difícil de controlar enquanto não forem atendidas a voz das ruas e das praças, mesmo porque têm o aval maciço de todo um povo que espera um Brasil com a cara de que deixa escorrer um sorriso de seus lábios.

Recusam um Brasil de desempregados e de doentes sem hospitais que são jogados nos corredores como coisa irreversível, a quem lhes é negada a assistência básica. Um Brasil onde não haja falta de segurança e onde a impunidade campeia, onde o homem honesto é privado de sua liberdade, para fugir dos crimes de morte que ocorrem por minutos. Um Brasil onde não haja crimes hediondos ou furtos de arma e munição dos quartéis, onde o policial implora para não ser morto e esconde a farda para não ser assassinado a mando do crime organizado.

Os congressistas, quando muito, trabalham três vezes por semana, o que na prática resulta em dois dias, com direito à percepção de altos vencimentos e verbas de gabinete, com direito a verba postal, passagens aéreas, símbolo de corrupção engravatada, enquanto o pobre trabalhador operário recebe salário mínimo e arca com os encargos sociais, incluindo, aluguel de casa, alimentação e outras despesas obrigatórias que correm seus parcos vencimentos.

Por isso, enquanto a dor da inversão de valores, nepotismo, injustiça social, fome, falta de saúde, trabalho, transporte, educação, e outros malfadados itens persistirem, as ruas e as praças serão palco da voz e da força do povo que vibrará com protestos para tornar o Brasil um país em que sejam respeitados os direitos constitucionais do cidadão.

É preciso que se tenha em mente que, se não for ouvida a vontade soberana do povo, não haverá governo que se mantenha de pé: “O grito do povo é lei!”

*Geraldo Dias de Andrade é Cel. PM/RR – Bel. em Direito – Membro da Academia Juazeirense de Letras – Escritor – Cronista – Membro da ABI/Seccional Norte.

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