História de Zé Pereira nesse dia, varia de acordo com a região do país, mas ele sempre é descrito como um português boêmio.
Historiador explica o porquê de o sábado de carnaval ser chamado de ‘Sábado de Zé Pereira
O g1 conversou com Luiz Vinicius Maciel, historiador e analista de pesquisa no Paço do Frevo, que fica no Bairro do Recife. De acordo com o especialista, a figura do Zé Pereira é incerta, mas teve suas origens em Portugal (veja vídeo acima).
“O que se acredita muito aqui em Pernambuco é nessa figura portuguesa. Esse homem glutão, barrigudo, muitas vezes ligado à produção de comida, que muitas vezes é colocado numa posição de rei. Se confunde muito, inclusive, com o Rei Momo. Um homem guloso, que gosta de beber e geralmente sai às ruas fazendo barulho, chamando as pessoas para uma festa mais improvisada, com um bumbo na mão, tocando uma percussão pelas ruas, disse.
Luiz conta, também, que os primeiros registros de Zé Pereira em Pernambuco são do início do século 20, quando o nome era usado para sinalizar as festas que antecediam o período de carnaval, que era do domingo a terça-feira.
“A gente que foi alongando essa festa, tipo agora, em 2024, a programação da prefeitura começou na quinta-feira. As festas que aconteciam no Recife eram chamadas de Zé Pereira. Por exemplo: ‘O Clube Vassourinhas realizou o Zé Pereira na noite do sábado’. Ou seja, ele se tornou, também, um sinônimo para festa”, afirmou o pesquisador.
Mas não é só Pernambuco que tem história com essa figura. Outro carnaval importante do país também tem sua própria versão de quem era Zé Pereira. No Rio de Janeiro, afirma Luiz, existe a versão de que um padeiro, que se chamava José Pereira, que fazia festas pré-carnaval, sempre no sábado.
“Lá também tinha pequenos grupos que saíam pelas ruas tocando instrumentos, parecido com a La Ursa do Recife. Instrumentos tocados de forma aleatória, e tinha sempre um integrante que fingia ser o Zé Pereira. Colocava um travesseiro na barriga e representava esse homem barrigudo e bêbado”, explicou.
Primeiro boneco gigante do país
/i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_59edd422c0c84a879bd37670ae4f538a/internal_photos/bs/2019/y/Y/p7VczqTBeBJ6fRIfduCQ/tres.png)
Boneco de Zé Pereira em foto de arquivo — Foto: Reprodução/TV Grande Rio
O personagem quase folclórico também ganhou sua fama no Sertão de Pernambuco. O pesquisador conta que em 1919, na cidade de Belém do São Francisco, a 497 quilômetros da capital pernambucana, o artesão Gumercindo Pires se inspirou nas tradições europeias e criou o primeiro boneco gigante do país, e deu a ele o nome de Zé Pereira.
“Tem muita festa na Espanha e em Portugal hoje, tanto religiosas quando carnavalescas, que tem grandes bonecos. Então, ele quis emular isso também, trazer pra terra dele um exemplo disso. Poderia ter se chamado Rei Momo, Pierrot, ou qualquer outro, mas ele quis colocar Zé Pereira”, contou Luiz.
Considerado Patrimônio Cultural Imaterial de Pernambuco, o boneco tem 104 anos de história e desfila pelas ruas de Belém do São Francisco todo sábado de carnaval.
“Eles inspiraram os bonecos de Olinda atuais, que são bem mais famosos hoje em dia. E a inspiração foi essa, esse homem carnavalesco, boêmio, que curte festa e que permeia as tradições populares e vai se ressignificando em cada parte do Brasil”, disse.
* Estagiária sob a supervisão do editor de conteúdo Pedro Alves.
Bonecos gigantes comemoraram 100 anos de Zé Pereira em 2019