Em Juazeiro, minha cidade natal, apenas uma única ponte sobre o Rio São Francisco une duas cidades: de um lado Pernambuco e do outro Bahia.
Em pouco mais de 5 minutos é possível cruzar fronteiras territoriais, onde caminhos se cruzam por um acesso único. Um único acesso.
“Navegar é preciso”, disse o poeta Fernando Pessoa.
Há quase 6 anos me distanciei – apenas fisicamente – da minha casa/cidade natal pela segunda vez a procura de novas pontes e acessos.
E quem diria, há um mês fui pela primeira vez a Londres, a cidade das mais de 20 pontes.
Atravessei poucas delas, mas a cada novo acesso muitas memórias se acendiam em mim.
Da margem do Rio São Francisco para beira do Tâmisa.
Mais um rio e muitos outros novos acessos. Novos códigos se cruzaram, tão próximos e diferentes ao mesmo tempo.
Cores e formas me chamaram logo a atenção. A Tower Bridge tem um tom de azul lindo. A Lambeth Bridge é rosa e azul.
E se Presidente Dultra fosse colorida? Porque as pontes brasileiras não têm cor?
Em Londres os “novos prédios” modernos da cidade parecem (pode rir – rsss) ventiladores e os famosos ônibus New Routemaster pareciam torradeiras ambulantes. E na sinalização da cidade? Vi lápis amarelos por todos os lados.
Quando eu soube que teria Brian Collins como presidente da categoria de Branding, categoria que tive a felicidade de fazer parte no D&AD de 2024, minha frase entre amigos era: “Não tenho nem roupa pra isso”.
E quem diria, da primeira vez que cruzei com Brian no coquetel de recepção júri nosso primeiro contato foi por conta das cores e estampas da roupa que eu usava, aquela roupa que eu achei que não tinha pra esse momento.
Do primeiro ao último dia em que estivemos juntos as nossas cores nos uniram. Brian com seu boné laranja e eu com minhas estampas cheias de cor. Entre NO’s, pedras, latinidades e Carmem Miranda eu precisaria de um artigo só dedicado as histórias com Brian.
Timo Wang, Brian Collins e eu
Antes de me mudar pra São Paulo morei metade da vida a beira do rio, outra metade a beira mar. E depois desse período em São Paulo, cidade de muitos ritmos, mais tons de cinza e algumas muitas pontes e acessos me vi ali, hospedada a beira do Tâmisa a convite da mais aclamada premiação de Design do mundo.
– Qual seu nome?
Perguntavam as hostess na entrada de cada evento da programação do D&AD. Quando eu falava DANDARA elas tinham dificuldade para digitar e me pediam para soletrar:
dee (D) ei (A) en (N) dee (D) – e nesse momento elas riam achando que eu estava pregando uma piada mas eu logo completava – ei (A) ar (R) ei (A).
Sim, eu roubava boas risadas e completava: i’m a founder ?
Brincadeiras, conexões a parte, por mais que duvidasse de mim e dos porquês fazia parte daquele seleto grupo eu me sentia cada vez mais em casa, afinal entre pontes, rios, cores, estampas e url, cá eu estava:
Uma mulher-mãe-designer, Latina-Brasileira-Nordestina-Baiana, discutindo Branding e Design
em altíssimo nível, com tantos profissionais que constroem e provocam nosso mercado, se consolidando há anos como referência mundial.
Liu Zhao, Neha Tulsian, Aporva Baxi, Ilã Kamalagharan, Brian Collins, Sue Daun, AlessoGaldi, Eu e Yah-Leng Yu – Juri Branding D&AD 2024
Pra cada ponte muita história. Acessos e pontes novas que se foram e nessa brincadeira lá se vão 22 anos de Design. Foi e é muita estrada.
Não se enganem e não se apeguem ao glamour por trás disse tudo. Escrevi esse texto querendo falar sim sobre essas pontes, com ou sem cores q que simbolizam muitos acessos, mas só quem caminhou sobre tantos rios e pontes vai entender o tamanho da importância desse registro aqui. Pra mim, e por todos que se conectam as travessias da vida.
Como se não bastasse, percebi que 2024 é o “meu ano das pontes”. Finalizarei meu ano e minha história como diretora da ADG Brasil, realizando um sonho que começou 4 anos atrás: levar uma edição da Bienal Brasileira de Design para o Nordeste. E veja só, estaremos em Aracaju-SE, a cidade com 3 pontes.
São Paulo, 16 de maio de 2024
Dandara Almeida