EM CURAÇÁ, A EXCEÇÃO CONFIRMA A REGRA

*WALTER ARAÚJO

O SALVADOR QUE NÃO SALVOU

O lado mais flexível da regra que domina o imaginário popular diz que todos os detentores de cargos eletivos são relapsos e negligentes no trato com a coisa pública. O lado ruim da regra é crudelíssimo: diz que todo político é corrupto. Mas, entre um e outro lado, existe a exceção e esta diz, felizmente, que há políticos sérios, honestos, corretos e incorruptíveis, o que é verdade. Acredito na exceção.
Em Curaçá, a regra não é diferente, tampouco a exceção. Curaçá tem seu povo e todo povo tem sua cultura. E a cultura sedimenta o passado e segue em direção ao futuro para pavimentar a história.
Aqui o cenário é de 1996. Diante da apatia e mesmice que persistiam nas administrações curaçaenses, surgiu Salvador Lopes Gonçalves, audacioso e idealista, uma espécie de salvação do município. Até o seu nome, por si só, anunciava a salvação. Salvador salva, não é?
Então, Curaçá com ele ficaria livre das supostas e costumeiras trampolinadas atribuídas aos prefeitos anteriores. E o povo, com vontade de mudar, mudou: entronou Salvador por três vezes como nosso alcaide e ficou aguardando a salvação, que nunca veio. Ou, se veio, mudou de caminho, desviou-se, escafedeu-se.
Muito idealista, estudioso, inteligente e culto, Salvador Lopes Gonsalves garimpou cultura em Curaçá, Juazeiro, Petrolina, Senhor do Bonfim e São Paulo, onde se formou em Administração de Empresas na conceituadíssima Pontifícia Universidade Católica (PUC). Mais tarde, frequentou a Universidade Regional do Cariri (URCA), lá nas terras do Padim Cícero, talvez se abeberando nos ensinamentos do padre e de onde saiu competentemente graduado em Direito. E fixou-se em Curaçá, afoito e seguro, para disputar eleições. Ótimo estrategista, engendrou sua base de sustentação e abocanhou o poder por alguns anos.
Por ocasião da primeira administração de Salvador, escrevi, alhures, um artigo com o título República de Curaçá apontando o acerto que a população alcançou ao alçá-lo ao cargo de prefeito. Ninguém levou a sério as besteiras que escrevi. Hoje vejo que, com razão.    
Todos sonhávamos em erigir Curaçá, colocá-lo nos trilhos do desenvolvimento. E Salvador – pensava também este ingênuo escrevinhador – era a pessoa certa naquela ocasião. Não era. Não chegou a ser.
E não foi por uma razão muito simples: os princípios que ostentava se esfacelaram. Perambulou, errantemente, por partidos políticos, transitou de um extremo ao outro do espectro partidário e se perdeu em meio ao labirinto ideológico. A impressão que tenho é que Salvador abdicou de seus ideais de antanho, de sorte que não teve mais esteio para sustentar-se diante de suas idéias de jovem. Idéias que se esvoaçaram no tempo.
Em quadro assim, como defender nossos miseráveis? Como juntar os cacos deixados por anos e anos de administrações fundadas nas tradições e no elitismo municipais?
Agora, mais uma vez, leio que ainda há servidores públicos de Curaçá com vencimentos atrasados por conta de supostas falhas na última administração de Salvador. Ou seja, a exceção confirma a regra. Salvador, que era exceção lá em 1996, hoje despencou na vala comum de todos os administrados públicos. O imaginário popular é sábio.
*WALTER ARAÚJO COSTA
advogado,escritor e jornalista.
Boletim Curaçá

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