*Geraldo Dias de Andrade

Parodiando a inspiração cômica do Rei do Baião – Luiz Gonzaga – este governo municipal, “mudança”, anda de rastos, sem pés, tal qual o réptil lacertílio da família dos camaleontídeos, dotado da faculdade de mudar de cor. Aguardamos, quando da “renovação da pelagem”, que não venha com seu escalpelo cortar a cidadania e a dignidade dos juazeirenses que estão pasmados com tanta desídia, descasos e incúria.
Suas desculpas não o redimem do mal que causou! Portanto, abrandamento de ações desagradáveis, eufemismo, não terá sede na consciência coletiva, porque a dor existente “amarga que nem jiló”. “Ai, Juazeiro, não aguento mais doê, Ai, Juazeiro, eu prefiro intémorrê.” (Luiz Gonzaga)
Juazeiro está sofrendo uma dor bem condoída! “O arrependimento quando chega, faz chorar!” Todos choramos de arrependimento por perseguir uma “mudança” frívola, sem importância. Fomos enganados! Esperávamos uma mudança no sentido lato do termo. Todavia, a desdita, a desgraça bateu à nossa porta! “Até quando julgas que abusarás da nossa paciência?” (Cícero). Estamos em caminhos toscos, obscuros. “Sou mesmo que um cisco na minha casa.” (A. Olavo Pereira)
Creio que nenhum paquiderme, tolo, ignorante tenha o desplante ou a petulância para me retrucar, a menos que seja um recalcitrante visionário de ideias e sonhos extravagantes, utopista, senão um inimigo do progresso da cidade ou uma autêntica sanguessuga, verme, lambaio de ventosa ávida às tetas do governo.
Os munícipes são relicário da cidadania e não um rebotalho, sinistro social! Merecem respeito e atenção por ser dever do poder público, sem mercê do mínimo resquício de generosidade. Em cada juazeirense, um sentimento de revolta e constrangimento por ver prosperar o caos com celeridade; lastimável, mas infelizmente é uma verdade real.
O gibão é uma peça dos nossos homens impávidos, fortes, valentes, etc. A arte de vaquejar é uma forma de cultura dos nossos heróis vaqueiros sertanejos. Homens destemidos que adentram pela maçaroca da caatinga fechada com fervor, envergando gibão, chapéu de couro e perneira com espora. Entretanto, exigimos que outras Rosetas não venham pinicar as demais veredas culturais, ferindo, assim, a memória e a História de Juazeiro, sendo preterida de uma alegria histórica que é a festa momesca, que sempre sobressaiu no cenário cultural do país.
Um povo sem memória é um infortúnio de tristeza, melancolia em profusão. É rasto de uma lufada impiedosa, sem compaixão, que não permite guardar e recordar uma história, fatos nobilitantes de uma vida cultural. Juazeiro tem o direito de manter suas ricas tradições, seu mundo naHistória, etc.
“Mea culpa! Mea culpa! Meamaxima culpa!” Confesso que fui tragado pela minha capacidade de pensar, não me levando à razão, pois, também, sou culpado pela pseudo-“mudança” que era cantada em versos e em prosa. A decepção tortura a esperança e a alma de quem julgava ser diferente; porém, as expectativas silenciaram-se. O senso comum, que forma o conjunto de opiniões de modo geral, concluiu que não deveria ter vindo o que aí está! Um governo vazio, sem sentido, sem conteúdo! O povo censura veementemente várias condutas pecaminosas, que o óbvio manda que o Legislativo se pronuncie, por ser este o seu legítimo representante em um Estado de Direito.
Governo que se emergiu de uma agremiação histórica, PC do B, partido de lutas em defesa da nossa democracia, deve refletir de modo que os salpicos da inércia governamental não declinem os pilares da instituição partidária, podendo leva-la à desventura política, má sorte, infelicidade.
É triste a greve da Saúde que já faz quarenta dias, sem haver nenhum preposto hábil para sanar essa situação vexatória e que prejudica a população, principalmente as pessoas de baixa renda. É desgastante, portanto, para o PC do B, partido do Prefeito, ouvir dos grevistas acampados defronte à Prefeitura os seguintes estribilhos satíricos: “PC do B nada tem a oferecer.””Prefeitura Tiririca, pior que ‘tá não fica.” Envergonha o próprio ideário político que outrora se pensava em perseguir a sonhada “mudança”.
As acusações de impudência na mídia entristecem os juazeirenses, especialmente aqueles aliados que marcharam em busca do lábaro da vitória. Os murmúrios e as exaltações censuráveis são uma constante em todos os pontos e recantos da cidade. As conversas dantescas que se estalam no ar, onde só se aspiram desilusão, descontentamento, etc., impossibilitam ao gestor a graça mitológica da ave Fênix, a qual renascia de suas próprias cinzas. “A mim ninguém me engana, que não nasci ontem!” (Érico Veríssimo)
Mais uma vez, acreditávamos na tomada do governo passado, com vistas à encantada “mudança”, objetivando um mandato que atendesse o povo, principalmente a pobreza e os excluídos sociais, mas o sonho acabou!
Alterando o texto latino da Bíblia Vulgata – Livro de Jó, XXXVIII, Voltaire diz: “Usquehucvenies, et non procedes amplius” (Até aqui chegarás e não irás mais longe). Na mesma linha de raciocínio, o grande Machado de Assis em seu livro “Histórias sem Data” preconiza: “Se não tens força, nem originalidade para renovar um assunto gasto, melhor é que te cales e te retires.”
Trazer o ontem para o hoje é navegar no atraso! Um governo tem que renovar com sabedoria positiva. É bom lembrar que: “O minuto de quem chega à vitória é o mesmo minuto de quem experimenta o fracasso.” “E se algum de vós tem falta de sabedoria, peça a Deus!” (Tiago, 1:5)
Juazeiro exige um governo de expressiva cinética e não um campo estático da lentidão e letargia, em um sono profundo. Exige, ainda, que o gestor não dê “asas” a “Papagaio de Pirata”, invocado “Gato Mestre”, este odiado pela população juazeirense e que, por sua vez, odeia cheiro de povo. Fidalgo intrometido que constitua um “cancro de cabelos compridos” na administração municipal.
A filosofia da “pretensa mudança” seria de uma interação social entre o poder público e o povo, principalmente uma atenção especial aos mais desfavorecidos, excluídos sociais. Porém, os humildes não têm acesso às escadas que dão acesso à Gestoria, sempre barrados e suas lamentações cujo eco se transforma em lágrimas dolentes! Oração dos Moços: “Mas o direito dos mais miseráveis dos homens, o direito do mendigo, do escravo, não é menos sagrado, perante a Justiça, que o do mais alto dos poderes” (Rui Barbosa)
A lição do relógio: “Deus nos deu, no relógio, uma grande lição, porque os ponteiros, assinalando o tempo, não caminham nunca para trás.” (Chico Xavier). A sociedade juazeirense está ávida por esperar que a inércia e o comodismo sejam substituídos pela materialização do amor ao desenvolvimento, onde se aspira o oxigênio do dever de se ter interesse pela coisa pública. É preciso, pois, que se tenha uma roupagem de afeição e alegria, em que o povo se veja como gente no sentido grupal, que é o objeto material da Sociologia. “O bom senso é o núcleo sadio do senso comum.” (Gramsci, filósofo italiano)
É uma feiura bem deprimente e estarrecedora por que passa esta cidade. Parte do centro e periferia com mau cheiro, ruas fétidas e esburacadas, tais quais escombros de guerra. Juazeiro – por favor – precisa sorrir! Precisa-se, portanto, que se coloque a mão no interruptor do sentimento de carinho e de bons desejos, de modo que a luz espante e sepulte a escuridão. “Se quisermos progredir, não devemos repetir a história, mas fazer uma nova história.” (Mohandas Karamchand Gandhi)
*Geraldo Dias de Andrade é Cel. PM/RR – Bel. em Direito – Membro da Academia Juazeirense de Letras – Escritor – Cronista – Membro da ABI/Seccional Norte