Há certeza de que Deus não está no Brasil. Já esteve, por muito tempo e por muitas vezes. Desgostou-se com o que assistiu.
Muitos milhões o queriam, mas uma multidão, pelas faltas com o próximo e com o país, pela violência sem precedentes, pelo vil metal, que disputavam com todo o ânimo e sem decências e por toda sorte de tentações e seguidos prazeres que alçaram a seus altares, os brasileiros expulsaram o verdadeiro líder e benfeitor a outros páramos. Estamos melancólicos e perturbados. Não encontramos saídas para nossas crises. O erro e a hesitação tomaram de assalto nossos juízos e nossas consciências.
Deus esteve presente em vários episódios de nossa história (até os inspirou), como foi a acirrada luta pela abolição da escravatura e a declaração de Independência.
Na construção de Brasília, desde sua concepção a seu término, Deus esteve conosco, como predito por São João Bosco. Logo depois, com os desvios da cidade e de seus costumes políticos liberais, Ele ausentou-se. Os anos seguintes foram a purgação dos erros do passado.
Quando há respeito e harmonia entre os homens junto à obediência a princípios, e a nação mostra sua compostura, esta é a terra onde Deus se instala, abençoa e participa de seu futuro. O progresso também é a meta de Deus, e Ele se incorpora onde há uma frente de trabalho sincera. Por tal razão justamente presumível é que ele se afastou.
A reinante discórdia, a corrupção, a ufania farisaica, os ressentimentos irados e outros vícios resistentes e repetidos O levaram de nós. Precisamos resgatá-Lo e pedir-Lhe que fique conosco, para sempre, e assim tenhamos uma nova primavera de alegrias.
Onde houve acontecimentos extraordinários na arte, na música, na ciência, na política, a que se alia a paz e a ordem, aí esteve Deus. Então, como explicar que cérebros e espíritos isolados criem maravilhas como o fizeram Chopin (a brava e sentida Polonnaise), Bethoven (a desafiante 5ª Sinfonia) ou Wagner (a estrugente Cavalgada das Valquírias), diante das quais nos quedamos em êxtase e emoção pelo prodígio musical que almas assim supersensíveis proporcionaram ao mundo, se não estiveram elas aliadas a Deus ? Como justificar a nossa surpresa com as descobertas valiosíssimas de Pasteur e Madame Curie para a humanidade se não receberam eles o sopro de Deus ? Como entender que a Teoria da Relatividade e da Mecânica Quântica, que desvendaram mistérios insondáveis na física, sem as quais não teríamos avançado tecnologicamente, se a companhia de Deus junto a nosso benfeitor, o judeu Einstein, não o assistisse por tanto tempo ? Outras ocorrências notáveis no curso da humanidade e em seu prol se fizeram segundo a vontade de Deus, e todos os inventores e todos os missionários da boa causa podemos incluí-los na intimidade com Deus, e junto com todos estão as nações de que foram filhos.
Hoje, o Brasil está sem cacife para reclamar Deus. O país precisa fazer a sua catarse, arrepender-se de suas graves faltas e erros acumulados para abreviar o retorno de Deus, rápido e triunfal, e não estejamos mais vendo a fome que atinge milhões de brasileiros como resultado de uma política social meramente falaciosa, o mesmo número que o patriota Josué de Castro já havia denunciado no século passado, que os esgotos a céu aberto se escoem pelos prometidos dutos, que a saúde combata com efetividade as endemias, que a educação encaminhe à escola o Brasil de amanhã.
Será pedir muito ao governo para o retorno de Deus ?
José Maria Couto Moreira é advogado.
