A arte de narrar histórias

 

*Andréa Cristiana Santos 

Desde os tempos remotos, o homem necessita de narrativas, necessita contar a outro o que lhe sucedeu, esmiuçando em detalhes como aconteceu, e procurando encontrar respostas para entender o que acontece ao seu redor. Nessas narrativas, muitas vezes a imaginação se confunde com o real, a história ganha contornos ficcionais ou apela para o imaginário, a sensibilidade e a estética. Nasce o escritor. Nem verdade nem mentira, apenas efeitos estéticos para criar uma trama, uma história que fale sobre nós e nos identifique.

Em outras ocasiões, procuramos narrar acontecimentos reais, fatos ocorridos, o presente se sucedendo em cenários reais, embora algumas vezes o real nos pareçe extraordinário. Nessas narrativas, procuramos retirar véus que encobrem a realidade, procuramos desnudar o real para que um público determinado acompanhe a cena como se estivesse vivenciando-a.

As cenas falam de acontecimentos comuns no cotidiano,mas que irromperam na esfera local como uma novidade, algo que não se esperava que acontecesse e se sucede como uma novidade, uma notícia. Há outros acontecimentos que se sucedem de forma tão veloz que perde o caráter de novidade e ai precisamos retirar – ainda mais – os véus que encobrem o real, precisamos compreender os impactos atuais e prospectar tendências.

Deixamos de apenas narrar um acontecimento para dar um testemunho, passamos de simples narradores a jornalistas, cuja identidade é mais do que uma mera função social de reportar acontecimentos. Jornalistas são intelectuais com um saber próprio, com um domínio de uma técnica – a de narrar acontecimentos que se sucedem na atualidade, buscando as suas conexões e impactos – e são responsáveis por criações culturais, seja o produto jornal, televisão, o rádio, o blog, o site, entre outros suportes para veiculação de suas narrativas sobre o real.

A esfera da cultura é uma das dimensões do fazer jornalístico. Ao trazer à luz acontecimentos reais que não são perceptíveis por todos, ao selecionar aspectos dessa realidade, ao interagir com fontes, ao recriar fatos ou ao torná-los uma criação repetitiva, pois a repetição tem sido cada vez mais atual no mundo em que lemos tantas notícias, o jornalista opera com uma criação cultural, que se destina para a esfera social e para um público consumidor.

Essa criação cultural se alicerça em fatos reais, com operadores que buscam apurar o que se vê, comprovar os fatos, juntar as diversas versões e trazer uma da dada realidade ao leitor. Nessa busca, o jornalista deve ser um repórter nato, aquele que viaja, olha, conversa e escuta, como fazia o historiador Heródoto, um dos primeiros repórteres a desvendar o mundo antigo há mais de 2.500 anos. Nas suas viagens pelo mundo antigo, Heródoto procura conhecer, compreender e descrever o que ele vê.

Podemos procurar outras explicações para justificar o jornalismo como essencial à contemporaneidade, mas as competências do buscar, do ver, ouvir, compreender e nos oferecer histórias são inerentes a quem deseja ser jornalista. E foram para cumprir esses atributos do fazer reportagem que nasceram algumas das criações jornalísticas narradas nesse blog. São aventuras na reportagem crônica, no conto e no perfil, possibilidades de entrelaçar o jornalismo com a literatura.

Foi uma aventura em busca de histórias singulares a partir do nosso locus – a nossa cidade. Para conhecê-las, basta ler e comentar. Claro, todo jornalista precisa de um leitor e precisa ser lido, a informação precisa circular. Ops! Aí, já adentramos em uma outra dimensão da cultura do jornalismo atual. Por ora, aprecie o que oferecemos em doses homeopáticas de narrativas sobre o real.

*Andréa Cristiana Santos 
Jornalista e Prof. do DCH III

 

 

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