RELIGIÃO, POLÍTICA, GRITOS E “BANANAS”.

*Harley Abrantes Moreira
Este final de semana pude, pela terceira vez aqui em Petrolina, participar do Grito dos excluídos. Importante manifestação popular, organizada nacionalmente pela pastoral social da Igreja Católica junto aos diversos movimentos sociais e ao Conselho Nacional de Igrejas Cristãs.

Logo após as celebrações oficiais que marcam o feriado de sete de Setembro, saímos organizados pelas ruas da cidade ecoando outros gritos que as autoridades, a imprensa e os desfiles oficiais insistem em calar.

Pequenos cartazes gritavam nas ruas com as mulheres, com os negros, com os portadores de necessidades especiais, com os dependentes químicos e com os jovens que, organizados, insistem em lutar por um projeto, de fato, popular. Esses cartazes denunciavam, ainda, a privatização da água, a priorização da grande festa de São João em plena estiagem, o uso dos agrotóxicos nos agronegócios da região, os descasos para com a reforma agrária, desvio de verbas e corrupção.

Ao final da manifestação, situações inusitadas me forçavam a fazer comparações com os anos anteriores. Terminamos a caminhada tentando nos aglomerar na Praça das Algarobas, onde muitos deram as mãos e, ao som de batuques contagiantes, dançaram uma bonita ciranda mostrando que nossas lutas são, também, pela arte, pela cultura, pela libertação dos corpos, pelos sorrisos, pela esperança! Foi lindo…

No entanto, quando esperava que o microfone fosse tomado pelo povo e, tal qual nos anos anteriores, as diversas entidades e os anônimos da cidade começassem a gritar, de um modo ainda mais literal, suas exclusões e nossas injustiças sociais, fazendo da praça um espaço radical de experiência democrática, começamos a nos dispersar em razão de outros sons…

“Outros gritos” se aproximavam. Indaguei alguns manifestantes sobre a situação e me disseram:

-“É a marcha pra Jesus”!
Então pensei:
-Ué! A marcha pra Jesus não ocorre mais no mês de Junho?
Esse ano, inclusive, no dia 29 de Junho, a 21ª Marcha para Jesus estimou que atingiu cerca de dois milhões de pessoas em São Paulo, segundo o portal de notícias (e “eventual” “parceiro(?)” do evento:G1.Globo.com).

Aqui em Petrolina, a caminhada fora de época de “alguns evangélicos” foi marcada pela entoação de cânticos religiosos, cartazes com textos bíblicos e com frases sobre a família. Em frente à prefeitura da cidade, um dos pastores presentes foi convidado a fazer uma oração em favor dos governantes locais e, ao final da manhã do feriado pela independência do Brasil, a Praça das Algarobas silenciava alguns refrãos e, quem dançava e cantava “dança aí negro nagô”, passou a ouvir, respeitosamente: “Eu vejo a glória do Senhor hoje aqui”.

Fiquei pensando: O que aconteceu com aquela tradicional dispersão do Grito dos Excluídos que costumava representar um espaço de falas e articulações dos movimentos populares? Porque o Padre Luiz Ângelo, organizador do Grito há vários anos, também não foi convidado para, assim como o pastor, fazer uma oração em frente à prefeitura?

Será que o padre, atacado ultimamente por um  canal de notícias da cidade, o ignorado Blog do Banana, aceitaria o convite? Ou será que o conteúdo de sua oração não interessava a alguns governantes e blogueiros locais que exigem do padre reações mais enérgicas contra a pedofilia e o consumo de drogas, criticando-o quando se opõe ao prefeito Julio Lóssio, recentemente caçado pelo TRE em função de seus crimes eleitorais? E Deus? Qual oração estaria escutando?

Confesso que tem me irritado a cobertura dada aos desfiles do Sete de Setembro aqui na cidade…Todas tentando alcançar a inalcançável neutralidade jornalística, como se a divisão das ruas e dos palanques no último Sábado tivesse sido apenas mais uma bonita prova de nossa democracia…

Tem alguma coisa errada? Ou o “banana” aqui sou eu?

*Harley Abrantes Moreira

Professor de História da UPE-Petrolina

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