Em seguida, ao subir no papa-móvel, outra surpresa. A seu pedido, o veículo não tinha vidros blindados ou proteções laterais. Fora concebido para não apenas permitir ao papa ver e ser visto, mas também para que ele possa tocar e ser tocado pelo povo. Tanto assim que Francisco não se recusou a beijar mais de uma criança oferecida à benção pelos pais.
Fora das épocas de campanhas eleitorais, quando é mesmo que se vê os políticos brasileiros, em sua esmagadora maioria, cometerem ‘temeridades’ semelhantes? Nunca, é a resposta que todos têm na ponta da língua.
Ao se apresentar a uma platéia de autoridades, reunida no Palácio Guanabara, sede do governo estadual, o papa mostrou, mais esta vez, toda a sua polidez. “Bato delicadamente a esta porta, pedindo licença para entrar”, disse ele, apresentando-se, numa elegante referência ao Brasil e “ao seu portal”, o Rio de Janeiro. Não se conhecia, até então, em todo o cerimonial do poder nacional, frase semelhante de um convidado aos seus anfitriões. Mais uma lição, portanto, para modernizar, no melhor sentido, o ultrapassado repertório das cerimônias públicas brasileiras.
Os ensinamentos de Francisco são tão mais importantes porque ministrados no Rio de Janeiro do governador Sergio Cabral. Na contra-mão da humilde prática papal, Cabral acrescentou recentemente à sua conturbada biografia de poderoso o uso e abuso de helicópteros públicos, mantidos com verbas públicas, para carregar babás de seus filhos e até o cachorrinho Juquinha em voos da alegria Rio-Mangaratiba-Rio. Ou melhor, voos da vergonha.
Para repousar e passar as noites em que ficará no País, até a próxima sexta-feira, Francisco irá ocupar um quarto simples com banheiro na residência oficial do arcebispo do Rio, ao lado de outros cardeais, sem nenhuma distinção. Terá a mesma alimentação, obedecerá aos horários comuns. Como um homem comum, poderoso sim, mas um homem em sua plenitude, sem a necessidade de ter a mais ou de exibir ou desfrutar de diferenças sobre os demais. Aprendam com ele, senhores engravatados do poder nacional, ainda que já seja tarde.