Santa Maria: Uma cidade em silêncio.


Sara Helena Granja

Quando olhamos para o passado do país, somos forçados a conviver com a escuridão que foram os anos amargos da ditadura, sentimo-nos felizes por hoje vivermos anos de liberdade de expressão, onde o livre pensamento pode ser expresso sem o medo e o tormento da truculência outrora vivida.
Mas, diante dos últimos acontecimentos, receio que o nefasto fantasma do “todos calados diante da minha vontade” volte a imperar.
Santa Maria da Boa Vista é uma cidade pequena, situada no interior de Pernambuco, que traz em seu seio, um povo ordeiro, trabalhador e amante da justiça, da retidão e dos princípios morais. Aqui, vivemos em harmonia com a democracia e a igualdade de direitos. 
Em pouco mais de um ano, a alternância de poder municipal trouxe prejuízos “normais” para quando se vive um período de instabilidade política. No entanto, a liberdade de expressão, tão dolorosamente conquistada em nosso país, não sofreu ameaças. Até o dia de ontem (09 de julho).
O fato:
Como você noticiou ano passado, a cidade realiza anualmente, a Serenata da Recordação, um evento voltado para a exaltação do romantismo, da cultura e das tradições do nosso povo. Pois bem, o prefeito foi afastado de suas funções em maio, quando todos os detalhes para a realização do evento já estavam acertados, inclusive, a contratação do cantor Agnaldo Timóteo. 
O cidadão que assumiu a prefeitura honrou a contratação do cantor. O que, em nenhuma hipótese, anula o fato de quem contratou foi o gestor anterior. Pois bem, na tarde de hoje, amigos do ex-prefeito e amantes da Serenata da Recordação, resolveram prestar uma justa e simples homenagem ao ex-prefeito Leandro Duarte. Foram fixadas duas faixas na cidade, com frases direcionadas unicamente a ele. 
Nada demais. Nenhum destrato ao atual gestor ou coisa que o valha. Mesmo assim, ao ser informado sobre as faixas, o mesmo ordenou que as mesmas fossem retiradas, cinco minutos após suas colocações. E, como se não bastasse coibir o direito das pessoas expressarem seu sentimento de gratidão, a truculência e a violência foram utilizadas.
Um dos assessores do atual gestor, transtornado e vociferando em alto e bom som: “quando eu tomo umas, eu fico nervoso”, partiu em direção ao veículo em que estávamos, e com violência e rancor desnecessários, deferiu chutes que atingiram e danificaram o carro. E toda essa agressão contra nós foi motivada pela minha simples tentativa de tirar uma foto da faixa. 
Hora, não pelo simples fato de ser uma jornalista e estar vendo ali, um nítido exemplo da volta do autoritarismo, do coronelismo deslavado, do total desrespeito e do abuso do pseudo poder que julgam ter, mas como cidadã boavistana, que paga seus impostos, que trabalha pelo crescimento e pela manutenção da igualdade de direitos em nossa cidade, me senti amedrontada. Tomou o meu ser um gigantesco pavor de que a escuridão volte a ocultar as vitórias sangrentas que tivemos para pensar, sentir e expressar livremente.
Oxalá os fatos não se repitam, os abusos não se ampliem e não passemos a viver amordaçados como reféns de um pseudo poder e nos tornemos uma cidade em silêncio.

Sara Helena Granja
Jornalista e Boavistana.


 

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