A conclusão pela Polícia Federal do inquérito da tentativa de golpe de estado em 2022 talvez seja um dos documentos mais relevantes do passado recente da história do Brasil. Reúne com detalhes uma parcela expressiva dos artífices do esforço em romper com o Estado Democrático de Direito, ao tempo em que situa os caminhos percorridos por aqueles que se diziam defensores da pátria e da nação. Era um discurso para enganar inocentes, que comoveu quase metade da população em outubro daquele ano.
Antes da PF indiciar Jair Bolsonaro, Braga Netto e tantos outros do entorno do ex-presidente, a intentona golpista ficou limitada a circulação de informações desencaixadas sobre como a trupe bolsonarista queria permanecer no poder após perder a disputa nas urnas. Agora, o quebra-cabeça parece mais bem montado, ainda que seja possível avançar mais. Houve o planejamento de um golpe, que incluiu até mesmo a tentativa de assassinato de Luiz Inácio Lula da Silva, Geraldo Alckmin e Alexandre de Moraes.
Nada disso chega a ser surpreendente. A construção discursiva de fraude nas urnas eletrônicas, as sucessivas tentativas de descredibilizar o sistema jurídico brasileiro e mesmo o comportamento pró-militarismo, que enaltecia a fase obscura da Ditadura Militar no país, davam sinais claros de que a institucionalidade nunca foi o forte dessa turma. O conceito de pós-verdade nunca coube tão bem para a realidade brasileira. O constrangimento que agora o cidadão médio deveria sentir ao defender essa ruptura, ainda que no subconsciente, deveria ser gigante, mas não me parece ser um cenário possível.