Geraldo Fernandes · Stephannie Fernandes –
Esses desastres ambientais se intensificam em todo o mundo, mas atingem com maior severidade regiões historicamente desprovidas de governança ou com gestão negligente. Apesar de nossa vasta base de conhecimento e dos avanços em ciência, tecnologia e educação, forças contrárias persistem em minar os esforços para a construção de uma sociedade mais justa e sustentável. O desafio é claro: transformar conhecimento em ação efetiva para reverter o curso atual e garantir que as gerações presentes e futuras tenham um amanhã.
O impacto no meio ambiente é inquestionável e já foi documentado em diversas áreas do conhecimento. As tecnologias e engenharias parecem ser as únicas esperanças de um futuro em que, privados de nossos direitos básicos, possamos sobreviver em um planeta degradado, enfrentando doenças causadas pela poluição do ar, água e solo. Nesse futuro distópico (ou não), fica a pergunta: até que ponto permitiremos que a degradação avance antes de agirmos decisivamente para preservar não apenas a natureza per si, mas a própria essência de humanidade?
O Cerrado, reconhecido como a savana mais biodiversa do planeta, enfrenta uma crise ambiental sem precedentes. Esse bioma importante no cenário brasileiro e mundial, que também abriga nascentes de rios vitais como o São Francisco, está se tornando uma zona de sacrifício em nome do desenvolvimento econômico de curto prazo. A situação é particularmente alarmante no São Francisco, onde a ameaça de seca compromete não apenas a geração de energia, mas também a agricultura que dele depende.
Não obstante os fatos e o conhecimento científico, projetos de lei obtusos e escusos permitem que áreas que ficaram até o momento livres de grandes impactos, e por isso, ainda ricas em biodiversidade, podem ser transformadas em pastagens e lavouras. Essa destruição ocorre a despeito da Ciência, que ressalta o valor ecológico insubstituível dessas áreas, desafiando acordos internacionais nos temas da biodiversidade e mudanças climáticas.
A preservação do Cerrado não é apenas uma questão ambiental, mas também de segurança hídrica e alimentar para o Brasil. O Rio São Francisco, que um dia fluiu abundantemente, já não apresenta a mesma vitalidade. Hoje enfrenta uma redução crítica em seu volume d’água, comprometendo a geração de energia hidrelétrica e a agricultura que dele depende.
Com uma vasta área, equivalente a grandes estados e uma população de milhões, a bacia do Velho Chico é um mosaico de riqueza e misérias. Ela abrange partes do Cerrado, Caatinga e Mata Atlântica, oferecendo ouro, diamantes e minérios valiosos, mas também enfrenta desertificação, êxodo rural, fome e poluição. A falta de governança e de um planejamento estratégico integrado está levando a uma crise iminente, com a água do rio cada vez mais escassa e a energia comprometida. Se as previsões climáticas se concretizarem, a situação do Cerrado e da bacia do São Francisco só tende a se agravar.
Para evitar uma catástrofe ambiental, é importante implementar ações urgentes e bem planejadas. A região demanda políticas públicas de conservação mais robustas e um repensar no modelo de manejo integrado de ecossistemas aquáticos e terrestres. Uma ação imediata para o desenvolvimento sustentável, em parceria com o governo, comunidades e instituições científicas, que priorize a fluidez dos rios e proteja a rica biodiversidade local é essencial.
É urgente um planejamento estratégico que transcenda fronteiras regionais, unindo todos os atores sociais em um esforço coordenado e devidamente financiado. Recursos provenientes de multas ambientais e das empresas exploradoras devem ser direcionados para a recuperação e conservação da bacia do São Francisco. Projetos de longo prazo e a revitalização da bacia são imperativos para garantir a sustentabilidade e o bem-estar das comunidades locais e do país. Esses esforços devem ser pautados em conhecimento científico e em diálogos simétricos com as comunidades, empoderando as bases locais, que contribuem diariamente na conservação.
Esses esforços devem ser pautados em conhecimento científico e em diálogos simétricos com as comunidades, empoderando as bases locais, que contribuem diariamente na conservação.
O governo e sociedade precisam reconhecer a importância desses ambientes não florestais e agir com determinação para preservar o rio que é um patrimônio nacional, assim como sua rica biodiversidade.
As opiniões e informações publicadas nas seções de colunas e análises são de responsabilidade de seus autores e não necessariamente representam a opinião do site ((o))eco. Buscamos nestes espaços garantir um debate diverso e frutífero sobre conservação ambiental.