Especial: La Niña mais fraca pode dificultar a recuperação da bacia do São Francisco no segundo semestre!

São Francisco
Trouxemos o balanço do período chuvoso na bacia do São Francisco, e as perspectivas para o período seco diante das atualizações do modelo. Foto: Cemig.

A porção média e baixa da bacia apresentaram os maiores valores de precipitação, entre o norte da BahiaParaíbaPernambucoAlagoas e Sergipe. Trouxemos aqui um balanço da estação chuvosa referente ao período chuvoso de 2023/24, e quais as expectativas para o período seco do Velho Chico diante das últimas atualizações dos modelos climáticos.

Os níveis dos reservatórios começaram a baixar!

O regime de chuvas na bacia do São Francisco está diretamente ligada com o nível dos reservatórios, e consequentemente com a capacidade de geração de energia elétrica por meio das hidrelétricas. Assim, é levada em consideração a Energia Armazenada (EAR) para representar a energia associada ao volume de água precipitável nos reservatórios.

Atualmente, o subsistema Nordeste está com 78,3% de energia armazenada, sendo considerada estável desde a última atualização do mês de abril. A partir de agora, será normal observar o decaimento dos níveis de água da bacia e, também, na energia armazenada da região Nordeste.

Durante a estação chuvosa, na porção do alto São Francisco, a precipitação ficou abaixo da média, assim como na região de Sobradinho. E as chuvas acima da normal climatológica foram verificadas já na parte média e baixa da bacia.

Embora o final desta estação chuvosa tenha tido uma boa recuperação com a alta recarga dos reservatórios, os níveis de EAR na bacia do São Francisco são inferiores aos verificados em 2023 e 2022. Por isso, é muito importante fechar a estação chuvosa com um volume hídrico confortável, mas isto está diretamente ligado com o regime de chuvas da região.

Uma La Niña de intensidade fraca a moderada

Estamos observando o enfraquecimento lento do padrão climático El Niño no Oceano Pacíficico Tropical com sua fase positiva, e aguardando a fase negativa, a La Niña, dar o ar da graça. Os modelos climáticos apontam que o El Niño já está saindo de cena ainda neste mês de maio.

Atualmente, a anomalia de TSM do Pacífico Tropical, na região do Niño 3.4, é de aproximadamente +0.5°C, que é considerado um El Niño fraco e bem próximo da neutralidade, entre -0.5°C e +0.5°C. Isto quer dizer que a La Niña vem logo em seguida? Ainda não!

A La Niña vai demorar meses até se desenvolver e se consolidar oficialmente, isto porque é necessário a permanência das anomalias negativas, abaixo de -0.5°C, por pelo menos 3 meses. Ou seja, os modelos indicam que a La Niña surgirá no segundo semestre deste ano e com intensidade fraca a moderada, porém, os seus impactos mais significativos no clima do Nordeste deverão ser sentidos entre o final de 2024 e início de 2025.

Este prognóstico tem impacto direto sobre o nível dos reservatórios da bacia do São Francisco! Em anos de La Niña, normalmente são observadas anomalias positivas de precipitação no Nordeste, mas com o surgimento tardio do fenômeno, as chuvas podem não chegar a tempo para a recuperação da bacia.

TSM
Anomalia da Temperatura da Superfície do Mar. Fonte: NOAA

Além disso, os modelos climáticos preveem o surgimento de águas mais frias no Atlântico tropical durante o período seco da bacia, ou seja, o atual grande modulador do clima no Nordeste vai sair de cena e as chuvas tendem a diminuir gradualmente na faixa costeira. E diante destas previsões oceânicas, o regime de chuvas sobre a bacia do Velho Chico pode apresentar irregularidades e prejudicar a sua recarga hídrica no segundo semestre de 2024!

Chuvas irregulares irão prejudicar a recuperação dos reservatórios

A última atualização do modelo de confiança da Meteored Brasil, o ECMWF, para o trimestre de Junho-Julho-Agosto, mostra um padrão de precipitação irregular sobre a região Nordeste e também sobre a bacia do Velho Chico.

Anomalia de chuva
Anomalia da Precipitação média para o trimestre de Junho-Julho-Agosto de 2024. Fonte: ECMWF.

Na parte mais alta da bacia do São Francisco, entre os estados da Bahia e Minas Geraissão esperadas chuvas abaixo da média, e na porção média e baixa, a tendência é de precipitação dentro ou levemente acima da normal climatológica deste período, com valores entre 50 e 100 mm.

As anomalias negativas de precipitação no trimestre de Junho-Julho-Agosto representam um risco para o armazenamento de água no solo da Bacia do São Francisco.

Climatologicamente falando, os acumulados de precipitação na bacia durante o período seco são bem baixos, e diante do prognóstico atual, o cenário daqui a alguns meses pode se tornar crítico em questão de armazenamento de água e geração de energia elétrica. Vale lembrar que essas previsões, por serem de longo prazo, podem apresentar incertezas e mudarem em rodas futuras do modelos

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