CONTROLE DE PESQUISAS E O “RISCO BERLUSCONI”

Maurício Costa Romão

“O Mediobanca, maior banco de investimentos da Itália, acendeu ontem todos os alarmes ao divulgar relatório em que diz que o crescimento de Silvio Berlusconi nas pesquisas de intenção de voto para domingo gera “crescente incerteza” que, no limite, pode devolver a Itália à iminência do calote, como quando Berlusconi caiu há 14 meses”. “Risco Sílvio Berlusconi” assombra a Itália, Clóvis Rossi, FSP, 20/02/2013.

Maurício Costa Romão
Maurício Costa Romão

A questão do controle das pesquisas eleitorais é recorrente, urbi et orbi. No Brasil aparece no noticiário em todas as eleições majoritárias e há dezenas de projetos de lei no Congresso sobre o assunto, sempre tendo como fundamento a possível influência desses levantamentos sobre a decisão do eleitor.

De fato, há relativo entendimento na literatura especializada de que as pesquisas, pelo seu protagonismo, influenciam certa parcela do eleitorado, notadamente a de renda e escolaridade mais baixas, mas não a ponto de definir eleições. Ganhar eleição mesmo, quem ganha é o candidato, não é a pesquisa.

Mas, fazendo uma varredura nesses projetos, nota-se que alguns intentam proibir a divulgação das pesquisas 10, 15, 30, 45 dias antes do pleito; outros almejam obrigá-las a ouvir tantos por cento do eleitorado (0,01%, por exemplo); outros, ainda, estipulam que a margem de erro deva ser no máximo de 1%, e por aí vai.

Tais propostas não fazem o menor sentido!

Veja-se o presente caso da Itália, onde a legislação proíbe divulgação de pesquisas nos 15 dias que antecedem as eleições (a deste ano está marcada para o próximo domingo).

As últimas pesquisas divulgadas no dia 09/02 apontavam vitória do centro-esquerdista Pier Luigi Bersani (Partido Democrático) com 34,7% das intenções de voto, na média, segundo a matéria mencionada. Acontece que Sílvio Berlusconi, do partido centro-direitista Povo da Liberdade, considerado “politicamente morto” ao começar a campanha, quando exibia índices inexpressivos de intenção de votos, já atingia 29% nos tais últimos levantamentos.

Hoje impera total incerteza na quadra político-eleitoral italiana. Isso porque nesse período pós-divulgação das pesquisas a justiça local apertou o cerco contra a corrupção, vindo à baila diversos escândalos que afetaram sobremaneira os partidos de centro-esquerda. Como resultado, a candidatura líder de Bersani ficou fragilizada e a de Berlusconi ganhou impressionante força.

Não fora a renúncia do papa Bento 16, que ocupou generosos espaços na mídia, os estragos na campanha do favorito Bersani teriam sido provavelmente, maior ainda.

De todos os controles que se intentam impor às pesquisas eleitorais, a restrição à liberdade de divulgá-las é o mais nefasto, pois se está mais do que tolhendo o legítimo direito do público à informação. Está-se, na verdade, privilegiando apenas aqueles que podem ter acesso e eventualmente pagar pela informação, dela dispondo da maneira que lhes aprouver.

A banca (Mediobanca, Credit Suisse, etc.), por exemplo, divulgou relatórios e press-releases alertando sobre as incertezas para o país resultantes do crescimento do ex-premiê nas pesquisas. A questão é: será que a banca não teve acesso às pesquisas não divulgadas?

Os partidos envolvidos na campanha também não teriam realizado suas próprias pesquisas internas? A preocupação de Bersani, fartamente relatada na mídia, com o andamento de sua campanha, antes franca favorita, resultou apenas da repercussão dos escândalos?

As pesquisas são a caixa de ressonância do pensamento do eleitor. Sem elas, a apenas três dias da eleição italiana, não se sabe quem o eleitor comum está preferindo para gerir os destinos do país. Imperam, assim, a incerteza, a instabilidade, a assimetria da informação e as trevas!

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Maurício Costa Romão, Ph.D. em economia, é consultor da Contexto Estratégias Política e Institucional, e do Instituto de Pesquisa Maurício de Nassau. mauricio-romao@uol.com.br http://mauricioromao.blog.br.

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