COM SAMBA BEM POBRE A BEIJA-FLOR É A CARA DA RIQUEZA

caranvalÀ medida que o samba se “enquadrou” ou como preferem os adeptos do sistema se “profissionalizou”, empobreceu gradativamente e corre um sério risco de morrer.

Aproveitando alguns versos de Caetano Veloso: o samba é pai do prazer/ o samba é o filho da dor/ o grande poder transformador… De fato as Escolas de Samba surgiram quando os moradores dos morros, mais especificamente no início do século XX, criaram inúmeros grupos que se organizavam em vários níveis. Objetivando fins diversos o negro do morro, dentro de uma situação de marginalização – afinal estamos falando de um período em que o Estado aboliu a escravidão, mas se organizava institucionalmente para discriminar essa grande massa não-branca.

O negro precisava sobreviver e praticar atividades que o preservassem, então a música popular do morro, o samba, servindo a uma festa de asfalto (o carnaval) desponta como elemento aglutinador para que as Escolas de Samba se organizassem. A partir dessa organização em todos os carnavais, os valores do morro, suas tristezas e alegrias, distribuídas em alas, alegorias dentro de uma coreografia, de forma simbólica, invadia a cidade branca.

O tempo passou e as Escolas cresceram, se diversificaram e vale lembrar: o morro não era mais território exclusivo dos negros, inevitavelmente os brancos chegaram. Em tempo: não apenas os brancos da favela, mas, e, principalmente, os brancos do asfalto. A chamada profissionalização do samba chega com a transmissão. As Escolas pertencem hoje às comunidades, e nos 1960 a TV Continental (extinta) faz a primeira transmissão e a evolução é continua, porém, mesmo com a criação da Passarela do Samba, o sambódromo, em 1984 na Marquês de Sapucaí. Até aqui o samba ainda reina absoluto e chegavam mais fortes para a disputa aquelas com melhores sambas, como, por exemplo, o campeonato vencido pelo Acadêmicos do Salgueiro, com o Peguei o Ita no Norte (1993) e seus versos inesquecíveis : explode coração/ na maior felicidade/ é lindo o meu Salgueiro/ contagiando e sacudindo essa cidade!, como esquecer Ratos e Urubus (1989) da Beija-flor: xepa de lá pra cá xepei/sou na vida um mendigo/ na folia sou um rei…

Pois bem a Escola que mudou a estética do carnaval, com as invenções definitivas de Joãozinho Trinta, ontem com enredo patrocinado: sobre o cavalo Mangalarga Marchador, passou impecável, rica, espetacular e mostra que é hoje quase imbatível, não é à toa que dominou a década passada. Mas seu samba… Nesse quisto para quem assistiu foi plástico, belo, mas o prazer de cantar, de emocionar com um bom samba ficou reservado a Mangueira com uma bateria impressionante e a Vila Isabel que finalmente entendeu que o samba ainda deve ser o protagonista. As escolas citadas – exceto a Mangueira que extrapolou o tempo e deve ser punida, saem na frente com grandes chances, mas para fazer justiça, se o samba inda tem vez, a Vila Isabel deve ser Campeã.

Ivone Lima

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