O livro tem 356 páginas e convida o leitor a percorrer terras longínquas e familiares, que ora remontam à antiguidade, ora falam da atualidade. A obra procura responder à pergunta: Como a morte voluntária veio a se tornar suicídio? De acordo com o autor, o livro trata de uma genealogia sobre o momento em que a morte voluntária deixou de ser objeto de misericórdia e passou a receber austera reprovação, primeiramente associada ao homicídio e posteriormente nomeada como suicídio. Com uma linguagem que o autor define como dialógica, a obra é direcionada a qualquer pessoa que tenha interesse pelo assunto.
Ele ressalta que diversos documentos da Antiguidade são examinados e algumas questões são elucidadas nesse primeiro volume, mostrando histórias diversas que sugerem posições muito diferentes da atualidade frente à morte voluntária. “Pensadores que exaltam a morte livre como saída racional; pensadores que a condenam como covardia. Uma riqueza de ideias que se examinadas com rigor pode mostrar que nossa época carece de debates públicos e esclarecimentos, pois não temos construído visões diferentes do que herdamos da história recente da psiquiatria, ou da longa história dos dogmas cristãos canônicos. É notável que o cristianismo tenha assumido posições muito diversas nos primeiros séculos, até chegar em Santo Agostinho que estabelece um julgamento negativo acerca da morte voluntária que influencia toda a posteridade”, comenta o autor.
O primeiro livro da série já está disponível para venda por meio do site da editora. A expectativa é que os outros dois volumes sejam publicados no ano que vem, encerrando a trilogia “História do Suicídio”. O autor adianta que o terceiro volume chegará aos tempos atuais, abordando esse período de pandemia de Covid-19, que o mundo está vivenciando. Uma quarta obra, um livro de ensaios, também está no prelo. O livro chama-se “A Invenção do Suicídio” e será publicado em breve pela editora da Unicamp.
A trilogia e o livro de ensaios foram concebidos a partir de estudos e pesquisas realizadas ao longo dos últimos cinco anos pelo professor e filósofo Alexandre Henrique Reis durante a preparação para cursos de extensão e disciplinas ofertadas na Univasf, a exemplo do curso de Genealogia do Suicídio, que em 2015 atraiu mais de 100 participantes, e da disciplina Preleções sobre Suicídio, uma optativa do curso de Ciências Sociais, que neste período 2020.3 conta com 98 discentes matriculados. Contribuíram ainda para a elaboração da obra o trabalho como coordenador da Liga Acadêmica Thanátous, criada em 2018 com o intuito de estudar a morte e o suicídio, e o grupo de pesquisa Krisis, do qual Reis também faz parte.
Graduado e mestre em Filosofia pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e doutor pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), Reis é professor da Univasf desde 2010 e leciona disciplinas ligadas à área de Filosofia na graduação e nos programas de Mestrado Profissional em Extensão Rural e Mestrado Profissional de Sociologia em Rede Nacional (Profsocio). É autor dos livros Vita; Filosofia e Ética e Os Jardins da Academia e de diversos artigos em revistas científicas, além de ser organizador de outras obras literárias.
O interesse por estudar a temática da morte tem origem ainda na infância do autor e o suicídio especificamente começou a lhe chamar mais atenção como área de estudo na graduação e pós-graduação, época em que ele perdeu nove colegas para a morte voluntária. “Espero, com esse trabalho, promover discussões abertas que possibilitem ouvir as pessoas em sofrimento sem preconceitos, permitindo que elas falem e encontrem sentido na própria fala em substituição ao próprio ato”, afirma Reis.