Antonio Magalhães*
Si vis pacem, para bellum é um provérbio em latim que diz “se queres a paz, prepara-te para a guerra”. E é o que está acontecendo agora com a China. Depois de exibir armamentos, desenvolvimento tecnológico, biológico, industrial e uma retórica expansionista focada na esfera comercial no aniversário de 70 anos da Revolução Comunista de 1949 de Mao Tse Tung, o presidente chinês Xi Jinping avança nas decisões de preparar seu país para um confronto com o ocidente, que pode ser bélico, biológico ou comercial.
O site brasileiro “Ideias da Esquerda”, simpático aos chineses, registra que na festa de aniversário, o presidente Xi Jinping anunciou que faltariam 30 anos ou duas gerações para que a China obtenha um exército à altura das grandes potências. Para o site, a retórica do “Grande Rejuvenescimento” para apenas 2049 revela que a tradução de seu poderio econômico em capacidade político-militar ainda está em longo curso.
Já a liberação, acidental ou não, do coronavírus pela China, abalando a economia planetária, veio antes de hora fatal de um conflito mais grave. A guerra biológica disseminada pela Covid-19 mediu a fraqueza do concorrente comercial, mas também possibilitou a este montar uma estratégia de defesa contra ataques de vírus, deixando para o passado a ameaça nuclear que manteve o ocidente e os comunistas em paz durante a Guerra Fria.
A possibilidade de reeleição do presidente Donald Trump, no entanto, adiantou o relógio dos chineses para o grande dia de um conflito mundial, seja ele com armas, vírus ou com inteligências artificiais do comércio. Sem dúvida, o tempo está sombrio, revelado pelos movimentos que os chineses estão fazendo nos mercados mundiais, comprando insumos básicos e principalmente alimentos, para montar estoques estratégicos.
Os chineses sabem que um boicote econômico ocidental poderia afetar sua população de 1 bilhão e 400 milhões de maneira muito grave, além de abalar as certezas da liderança do Partido Comunista Chinês. Por isso, se queres a paz, prepara-te para a guerra.
Diante disso, a China não esperou o fim da pandemia para ir às compras. Bem capitalizada e com um PIB crescente de mais de 11% – ao contrário das economias ocidentais que só tiveram queda no PIB –, os representantes do gigante asiático vieram ao Brasil para fazer seu estoque de comida, num momento do real desvalorizado.
Ao passar no caixa, o carrinho de compras chinês deixou para o nosso agronegócio 24 bilhões de dólares, entre janeiro e junho deste ano, uma cifra recorde para o período e quase 30% maior do que a registrada nos mesmos meses de 2019.
“A voracidade nas compras de carnes bovinas, suína, aves e especialmente soja, que representou 72% das aquisições no período, pressionaram as cotações em reais desses produtos que aparecem na inflação ao consumidor. A alta de itens como arroz, farinha de trigo, carne bovina e óleo de soja supera os 20% nos últimos nove meses até agosto”.
“Os chineses rasparam o tacho”, diz o economista Fábio Silveira, da MacroSector, lembrando que o câmbio deixou o produto brasileiro competitivo para os chineses e este foi o grande fator de enriquecimento das cadeias produtivas do agronegócio.
O ano deve fechar com 35 bilhões de dólares de exportações do agronegócio brasileiro para a China, dos quais 26 bilhões de dólares só de soja e 7 de bilhões de dólares de carnes.
Enquanto a China for vista apenas como uma parceira comercial ou uma velha senhora beneficente que ajuda os desvalidos do mundo, estaremos correndo um grande risco. O país asiático mais poderoso está mesmo interessado em garantir sua hegemonia global, seja econômica ou militar. Um assunto que está em alta é a rota da seda, projeto do governo chinês que vai financiar infraestrutura para conectar o mundo, investindo em portos e ferrovias de diversas nações, conseguindo vantagens em troca.
Por fim, se a Huawei conseguir ganhar a guerra da internet 5G, imagina o mundo inteiro usando uma Internet que o Governo chinês tem acesso e utiliza os dados indiscriminadamente?, indaga Max Oliveira, empreendedor da Endeavor. É isso.
*Integrante da Cooperativa de Jornalistas de Pernambuco