Steve Bannon, ex-estrategista de Trump e conselheiro da família Bolsonaro é preso sob acusações de fraude

NOVA YORK — Ex-estrategista do presidente americano Donald Trump e autodenominado mentor de um movimento global de extrema direita, Steve Bannon foi preso na manhã desta quinta-feira sob a acusação de fraude pelo desvio de até US$ 1 milhão (R$ 5,65 milhões). O dinheiro foi doado por milhares de pessoas para a “Nós Construímos o Muro”, campanha virtual que buscava arrecadar fundos para erguer o muro entre os Estados Unidos e o México.
O ideólogo ultraconservador e os outros três acusados — Brian Kolfage, Andrew Badolato e Timothy Shea — teriam “fraudado centenas de milhares de dólares dos doadores, capitalizando em cima de seu interesse de construir o muro na fronteira para arrecadar milhões de dólares sob o falso pretexto de que a quantia seria usada em sua construção”, disse a procuradora federal Audrey Strauss, que atua no distrito de Manhattan.

“Os acusados secretamente agiram para desviar centenas de milhares de dólares para Kolfage [fundador da campanha “Nós Construímos o Muro], para que ele mantivesse seu estilo de vida luxuoso”, completou.

A “Nós Construímos o Muro”, segundo a Procuradoria Federal em Nova York, teria arrecadado um total de US$ 25 milhões (R$ 141 milhões) para erguer o símbolo da plataforma anti-imigração de Donald Trump. Bannon foi estrategista-chefe do presidente até sua destituição, em 2017, e é considerado um dos responsáveis pela vitória em 2016. Ele foi preso na manhã desta quinta, em Nova York, e deverá comparecer ao tribunal ainda hoje. Segundo o canal MSNBC, o propagandista deverá se declarar inocente.

Em jantar na embaixada brasileira em Washington, Bannon pode ser visto ao lado esquerdo do presidente Jair Bolsonaro Foto: Alan Santos / AFP / 17-3-2019
Em jantar na embaixada brasileira em Washington, Bannon pode ser visto ao lado esquerdo do presidente Jair Bolsonaro Foto: Alan Santos / AFP / 17-3-2019

Segundo a Justiça nova-iorquina, Kolfage teria prometido aos doadores da campanha que não tomaria “um centavo que fosse de salário e compensação” e que os fundos seriam destinados exclusivamente “à execução da nossa missão e propósito”. No entanto, ele secretamente teria desviado mais de US$ 350 mil (R$ 1,98 milhão) para seu uso pessoal.

Bannon, por sua vez, teria recebido US$ 1 milhão (R$ 5,65 milhões) da campanha por meio de uma organização sem fins lucrativos. Centenas de milhares de dólares desta quantia, segundo os investigadores, teriam sido usados para pagar despesas pessoais. Para encobrir as operações, uma segunda companhia de fachada também teria sido utilizada, assim como notas fiscais falsas.

A campanha de Kolfage, ex-veterano das Forças Armadas que se feriu em 2004, no Iraque, e precisou amputar as duas pernas, iniciou a campanha para erguer o muro em 2018, buscando arrecadar US$ 1 bilhão (R$ 5,65 bilhões).  Os três homens são acusados formalmente de lavagem de dinheiro e conspiração para cometer fraude. Cada uma das acusações é passível de até 20 anos de prisão.

“Esse caso deveria servir de aviso para outros fraudadores de que ninguém está acima da lei, nem mesmo um veterano deficiente ou um estrategista político milionário”, disse o inspetor da Procuradoria,  Philip Bartlett.

Influência no governo brasileiro

Bannon é uma figura influente no governo do presidente Jair Bolsonaro, atuando como uma espécie de conselheiro informal desde a campanha presidencial de 2018. Em março do ano passado, durante uma visita de Bolsonaro a Washington, Bannon participou de um jantar organizado na residência do embaixador brasileiro para “formadores de opinião”. Outro integrante da reunião foi o ideólogo bolsonarista Olavo de Carvalho.

Bannon também tem uma relação próxima com o deputado Eduardo Bolsonaro, que chegou a participar de seu aniversário em 2018. O ex-estrategista mostrava-se favorável à já abandonada ideia de nomear o deputado para ser embaixador do Brasil nos EUA  e o nomeou representante de seu Movimento na América Latina. A organização, que conta com nomes como o italiano Matteo Salvini e premier húngaro Viktor Orbán, tem por finalidade eleger governos populistas de direita pelo planeta.