
Todos são iguais perante a lei, diz nossa Constituição. Mais ou menos: e não é apenas por causa do deputado federal Jair Bolsonaro, do PP fluminense, com suas tristes declarações contra gays e negros. Não é apenas, também, pelo deputado federal Marcos Feliciano, do PSC paulista, que disse que os negros descendem de ancestrais amaldiçoados – Can, um dos filhos de Noé – e cita a Bíblia como fonte (embora religioso, nem de Bíblia ele entende).
Há no país um racismo difuso e uma homofobia mais explícita. Quando a candidata Marta Suplicy lançou suas célebres perguntas ao adversário Gilberto Kassab, ele é casado? Tem filhos?, revelou um lado nela desconhecido – e que, exatamente por ser dela, com um ativo passado de luta contra a homofobia, foi surpreendente. Perdeu a eleição; e, sempre que empunha sua antiga bandeira, tem de se explicar. A ministra da Igualdade Racial (sim, existe! Acredite! Seu nome é Luiza Bairros) critica a frase racista de Bolsonaro com um argumento igualmente racista: Isso demonstra como ser branco na sociedade brasileira implica determinados privilégios em detrimento dos direitos dos negros em geral.
Ou seja, todo branco – seja Dilma, seja Lula, seja o ministro Palocci, seja o ex-ministro José Dirceu – tem privilégios em detrimento dos direitos dos negros. Sua Excelência ataca os brancos como Bolsonaro atacou negros e gays. Racismo é, pois: pode até ser o outro lado da moeda, mas a moeda é a mesma. Não se combate meio preconceito. É preciso combater o preconceito inteiro.(Carlos Brickmann)