Próximo acaso

Maciel Melo – 

Uma dose de loucura permeava aqueles minutos de reflexão entre a porta, o trinco, e o batente. Arrebatado, o peito arfante e a alma enternecida, esmaecia-me a visão enquanto o mundo girava ao redor da fechadura. Ainda era cedo; o silêncio intacto, a iluminação banguela da rua, a porta entreaberta, e os meus fantasmas agarrados ao trinco, me impedindo de entrar. Sabe de uma coisa? A noite é um condomínio de boêmios inadimplentes, amantes da vida e da arte. Solitários seres notívagos, alforriados, porém presos ao ceticismo dos corações desembestados.

Dei meia-volta, voltei pro bar e caí na lapa do mundo. Pernas pra que te quero.

Bodega do Véio, Teatro do Mamolengo, Antiquário, Rua da Hora. Quatro Cantos, Peneira, Janga, e por fim… Eis que o acaso surge perante o que seria o derradeiro copo; e aí, começa tudo de novo. Resultado: O dia amanheceu, a maré baixou, o garçom dormiu, pendurei a conta, e esqueci de pegar o número do telefone dela. Agora só quando o acaso de novo acontecer.