Farnésio silva –
Dezembro é pra mim um mês dos mais importantes, mas não dos mais alegres; não só pelo advento do menino Jesus, mas também, porque foi neste mês que o Senhor levou de volta para junto de sí, Mamãe dia 15 E Papai dia 23.
Já são três anos que mamãe deixou a vida para morar em nossas saudades. Nascida Risalva Silva de Carvalho, minha amada mãe era daqueles sertanejas da gema, onde miséria e tristeza eram tratadas com esperança de dias melhores e muitas alegrias. Já Papai, vindo das bandas da Pedra da Torre (Toritama-PE) por sua vez, era um homem trabalhador, extremamente carinhoso e paciente, dedicado aos filhos e de quem herdei o gosto pelo rádio e pela música.
Mesmo sendo semi-analfabeto gostava de estar sempre com o rádio ligado, o primeiro da minha rua quando criança, para saber das coisas do Brasil da época. Tinha um gosto refinado pela música e estava sempre ouvindo os hits do momento, quer fosse pelo rádio ou pela vitrola, com seus discos de cera e uma agulha a cada dois ou três discos tocados.
Destemida, mamãe não tinha nada que a desestimulasse, nem mesmo como criar 8 filhos, sendo eu único homem e sete mulheres, a quem além de dar muito amor nos ensinava como se comportar com honradez e respeito, muitas vezes sendo dura em suas repreensões, amenizadas pela intervenção de papai.
Sempre preocupada com nossa educação, tivemos as melhores escolas o que podíamos ter acesso e nada nos faltava. Papai, caixeiro-viajante, tinha em mamãe uma mulher extremamente voluntariosa, que vendia de tudo. Num dia, nossa casa parecia um palácio, com móveis caros e bonitos e no dia seguinte mudavam de casa, porque mamãe vendia para logo em seguida comprar novos móveis, sempre de segunda mãe, vendidos a seguir a prestação.
Mas nem sempre era tempo de bonança. Lembra no início dos anos de 1970, quando vivíamos uma grande seca, e que mamãe já não conseguia vender seus móveis usados e papai falido, que passamos o maior perrengue de que tenho lembrança, muitos vezes não tínhamos muito o que comer, e eramos salvo por um punhado de feijão e arroz para alimentar dez bocas e a mistura era uma sardinha vendida por unidade, que em Alagoas batizamos de ‘pior sem ela’, que era assada no fundo do quintal e empestinhava a a vizinhança e toda rua com o cheiro (sic) da bicha.
Mulher forte e cheia de esperança, mamãe deixou o legado de uma família bem alicerçada na fé, na dignidade, na honestidade e na fraternidade, motivo de orgulho de todos nós.
Obrigado mamãe e papai pelo que voces nos deixaram de sentimento humano