Guilherme Coelho, reserva ou reforço de luxo do PMDB de Lóssio?

Por Marcelo Damasceno

O comunicador Marcelo Damasceno, âncora da Rádio A voz do São Francisco (Emissora rural), produziu um ensaio sobre a política Petrolinense, interessante pra quem não era do “tempo”, e por isso desconhece os grandes pedreiros do alicerce democrático na cidade, quer seja de um lado ou do outro.Damasceno faz um passeio no tempo, até 1986, quando a disputa eleitoral ficava por conta das torcidas de que quem era Coelho, em quem era contra, onde o embate ainda dava se dava no campo ideológico. vamos acompanhar a análise de Marcelo…

Quando o Tribunal Regional Eleitoral de Pernambuco, TRE-PE, contabilizou o último voto das eleições majoritária e proporcional em 1986, consagrando Miguel Arraes de Alencar, governador do estado, carregando consigo,  como se vinculados fossem, os novos e desconhecidos senadores, obscurecidos pela candidatura imbatível do professor Roberto Magalhães (antítese do IBOPE), pela ordem, Antonio Farias e Mansueto de Lavor, finalmente o PMDB da freguesia dos Coelhos em Petrolina, varrera nas urnas a última glória da Bastilha sertaneja.

Nos dias que se seguiam, havia uma sensação que o deputado constituinte, Fernando Bezerra Coelho, recebera a coroa do império irrigado. Ganhara tudo, de Brasília a Petrolina, as nomeações aos mais ambicionados cargos da República sanfranciscana, teriam que passar pela Rua Rabelo Padilha, longe da inconfidência do PDMB histórico que improvisara seu desprestigiado comitê entre a Concha Acústica e praça Dom Malan, injustiçado pela solene ingratidão do velho caudilho, agora quase canonizado, Dr. Arraes.

Do destemido Rui Amorim à guarda pretoriana de Ulysses Guimarães, os hostilizados “bocas-pretas” não digeriam este mapa feito com o sangue colhido da tortura agora pinçado por comissários da velha ARENA. Arraes era o eleito de si mesmo com o espólio de si mesmo, com a biografia banhada de coragem de si mesmo, construindo novas biografias dos anos 1980, elegendo quem bem quis com sua irretocável capacidade de vencer, introspectivo, as dificuldades para juntar o industrial Paulo Coelho ao comunista Mansueto.

Era este o sentimento invicto que ornamentava um palanque para tomar a última poltrona do PFL, instalado na prefeitura de Petrolina. Arraes tai meu povo. Ainda se refazendo de humilhante derrota imposta pelo PMDB com jaqueta de ARENA, Osvaldo Coelho, mantinha-se com o mandato constituinte de 86, prestigiado gabinete por Marco Maciel, ministro de Estado, e, Sarney, presidente da República com caneta para irrigar a fruticultura de Petrolina.

Osvaldo, emplacou no governo federal do PDMB com fotoshop pedessista, duas escolas para qualificaçao técnica.Hoje, o IFET-SERTÃO, com o democratizado incenso petista de Lula, signatário das idéias da boa educação. Osvaldo também, sonso e serelepe, deu o drible da vaca no PMDB de FBC e Mansueto, mantendo seus coringas na CODEVASF, Coelhistas como nunca.

Para subir o inquilinato do Paço municipal, Fernando apostara na candidatura leve, de insignificante rejeição e populismo de fazer corar Jânio Vassourinha, o deputado Diniz Cavalcanti. Essa candidatura fez estremecer o baronato pefelista, sem uma opção inatacável feito o prefeito da ocasião, Augusto Coelho, sem poder mexer no vespeiro que separava seguidores de Cyro e Geraldo Coelho, buscar uma unanimidade para suceder um sensato governo, era um pânico geral.

O PFL de Osvaldo que subestimara o bem-intencionado Paulo que apostara tudo no filho FBC, comia do próprio veneno. Restava ao patriarca optar por um nome que contrariasse o conteúdo, a forma, o critério udenista para fazer um sucessor de Augusto. O TRE PE, em direção ao calendário, rasgava a última semana das convenções municipais para um 1988 que precisava renovar prefeitos e vereadores.

Contagem regressiva para Osvaldo que encontrara, finalmente, a solução caseira. Saído das divisões de base do PFL, Guilherme Coelho,  um agrônomo que já dominava a uva e a pecuária, era, enfim o candidato para enfrentar o palanque erguido com 68 por cento das intenções de voto para uma nomeação de Diniz Cavalcanti,  contra vergonhosos 4 por cento de eleitores que sussurravam o nome de seu partido em reuniões fracassadas no auditório do prédio da extinta telefônica microondas.

Convenção feita, para os pefelistas o importante era competir. O IBOPE repetia a cada semana a pesquisa favorável a Diniz, FBC, e o imbatível Arraes. Guilherme era um blefe. Inexperiente e desconhecido, enfrentando hostilidades do império populista e as conspirações medrosas do pefelê, Guilherme se especializou em sola de sapato e solavanco de estrada e ruelas vicinais.

Diniz tinha conglomerados eleitorais, tinha palanque. Guilherme tinha o reduto de uma meia dúzia de amigos sacudidos pelo irredutível otimismo quase solitário de Cassimiro de Paiva netto, escudeiro fiel que recrutara um bom discipulado com a estridência da torcida corintiana.

Guilherme venceu seu Diniz, um pouco mais de 700 votos da multiplicação matuta do Sequeiro,  contrariando a ciência política, neófito da política, discurso que não enchia papel de cigarro, mas forjado nos ensinamentos de seu pai, Osvaldo Coelho, que ainda são atualíssimos, tanto que contribuíram um novo pupilo , reeleito, Júlio Lossio, que deve muito desse segundo mandato, ao seu reforço de luxo, Guilherme,  o vice.

Com a performance de ter  abocanhado dois mandatos na prefeitura de Petrolina como titular absoluto, Guilherme Coelho, agora DEM,  tem experiência de veterano suficiente para não deixar que a luz do PMDB que era de Arraes e agora pertence a Lossio não seja cortada outra vez.

*Marcelo damasceno

Foto por Marcizo Ventura

Central de Jornalismo da Voz do São Francisco.

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