
Como resultado direto do Ato Público em defesa da Ilha do Fogo e do Rio São Francisco realizado no último dia 06, em Juazeiro-BA, aconteceu no Círculo Operário no dia 08 passado uma reunião com representantes de movimentos sociais, entidades de classe e diversas lideranças, com a finalidade de ratificarem a formação de um Comitê que estará à frente das discussões e trabalhos para a busca de solução para o impasse criado a partir da Entrada do Exército na Ilha do Fogo.
Esse impasse se deu após ato administrativo pelo qual a União, através da SPU – Secretaria de Patrimônio da União, cedeu a Ilha do Fogo para administração do Exército, o qual a partir de 03 de setembro impede o acesso da população que sempre utilizou a única praia urbana das cidades de Juazeiro(BA) e Petrolina(PE).
Com o fechamento da Ilha, aproximadamente 40 pescadores que utilizam a Ilha do Fogo a mais de trinta anos também estão ameaçados de perderem o acesso à sede da colônia, onde utilizam para aportar suas embarcações, guardar seus materiais, tecer suas redes e até fabricarem embarcações; tendo os mesmos conseguido estender suas permanências na Ilha por mais 60 dias em reunião no último dia 04 de dezembro com o comando do 72 Batalhão de Infantaria Motorizada, em Petrolina.
Diversas entidades estiveram representadas na primeira reunião para consolidação do Comitê, entre elas, o Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Juazeiro, Colônia de Pescadores da ILHA DO FOGO, Coletivo Amigos da Ilha do Fogo, SINERGIA / BA; IRPAA – Instituto Regional da Pequena Agricultura Apropriada / Articulação Popular São Francisco Vivo, CHBSF – Comitê Hidrográfico da Bacia do Rio São Francisco, APLB (Sindicato); Sindicato dos Bancários / Juazeiro, Federação das Associações de Moradores de Juazeiro e Conselho Orgânico (Petrolina).
O sentimento geral dos participantes foi o de que algo deve ser feito pela sociedade para barrar várias ações e direcionamentos que vêm sendo tomados pelas autoridades brasileiras ao longo do Rio São Francisco, que influenciam diretamente na vida das comunidades ribeirinhas. Para Cícero Félix, do IRPAA – Instituto Regional da Pequena Agricultura Apropriada e também integrante da Articulação Popular São Francisco Vivo, “a questão da Ilha do Fogo vai muito mais além da Ilha. Os diversos projetos para o São Francisco têm deixado todos preocupados; porém o que mais preocupa é a instalação de uma usina nuclear em Itacuruba-PE. Mas, o governo deu uma “freada” a partir do último acidente nuclear que estarreceu o mundo inteiro. Se o Brasil tem energia suficiente para exportar, fica claro que uma possível produção de energia nuclear, será para fins militares”. Cícero Félix prosseguiu dizendo que “o que tá em jogo é a democracia desse país. Que é uma democracia ainda frágil. O que acontece nesse país repercute na América Latina.”
Já a Sra. Alice, do Movimento Nacional dos Pescadores e Pescadoras Artesanais, afirmou categoricamente que o dinheiro empregado na transposição do São Francisco está sendo jogado no lixo e que jamais nenhuma comunidade ribeirinha deve aceitar a questão da possibilidade de se instalar uma usina nuclear na região do São Francisco e explicou que o governo vem planejando a construção de novas barragens hidrelétricas e que isso vai piorar ainda mais a pesca na região, dificultando a subsistência das famílias de pescadores. Finalizou, dizendo que estará dando todo seu apoio para que o Exército libere o acesso à Ilha do Fogo, permita a continuidade dos pescadores naquela Ilha e que o Exército Americano não desenvolva nenhuma atividade no Rio São Francisco.
O Sr. Brait – do Sindicato dos Bancários – afirma que vem denunciando que o rio São Francisco tá sofrendo, existindo lugares que eram muito profundos e agora as pessoas atravessam caminhando; já Enio Costa enfatiza a satisfação de todos os membros do Coletivo Amigos da Ilha do Fogo em ver tantas instituições presentes no ATO PÚBLICO, no último dia 06 de dezembro e, agora ficam todos felizes de verem os representantes das organizações sociais presentes nessa primeira reunião, mostrando o comprometimento com a causa, que é de todos. Ficou acordado que cada integrante deve discutir o assunto em suas entidades e então foi marcada a próxima reunião para o dia 20 de dezembro, no Círculo Operário, em Juazeiro.
Jucinei Martins – Juazeiro/BA