Bernardo Barbosa
Do UOL, em São Borja (RS)

A caravana do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) que está rodando o Sul do país teve que fazer um desvio de rota para chegar a São Borja, no oeste gaúcho, nesta quarta-feira (21). O principal acesso da cidade estava bloqueado por manifestantes contrários ao petista, vários a bordo de tratores.

Devido ao protesto, a comitiva optou por tomar uma estrada de terra paralela à BR-287, mesmo contando com escolta policial.

Mesmo no acesso alternativo, houve tensão e ameaça de confronto. Depois que os ônibus da comitiva já haviam passado, dois tratores bloqueavam parcialmente a via, e um carro particular com adesivos com o nome de Lula foi alvo de objetos atirados por manifestantes. Um outro carro recebeu pontapés dos militantes antipetistas. Um helicóptero policial teve que dar um voo rasante para dispersar o protesto, que juntou menos de 50 pessoas naquele ponto da cidade.O destino de Lula era a Praça 15 de Novembro, no centro de São Borja, onde está o mausoléu de Getúlio Vargas. O ex-presidente começou a discursar no local por volta das 17h35.

Lula dedicou a maior parte de seu discurso de pouco mais de 20 minutos para exaltar as leis trabalhistas implantadas por Getúlio e políticas de seu governo, mas reservou frases para os opositores que tentaram impedir sua chegada.

“A gente não esperava que fosse ter alguns fascistas nessa cidade que fossem tomar a atitude de proibir o PT e o Lula de entrar em São Borja como faziam os fascistas de anos atrás”, disse.

Tensão e chance de prisão

O bloqueio em São Borja representou mais um momento de tensão da viagem de Lula pelo Sul, que já dura três dias e está prevista para terminar no dia 28 em Curitiba.

Em todos os dias até agora, Lula enfrentou protestos de grupos contrários a sua presença no Rio Grande do Sul. Ontem, em Santa Maria, militantes trocaram empurrões e xingamentos. Em Bagé, na segunda (19), um ato organizado por ruralistas levou tratores e um boneco de Lula vestido de presidiário a poucos metros do lugar onde o ex-presidente discursou.

Na noite passada, a presidente do PT, senadora Gleisi Hoffmann (PT-PR), pediu a autoridades federais e gaúchas reforço para a segurança da caravana. Ela falou em ataques de “milícias armadas de extrema-direita”. Policiais que escoltavam a caravana levaram dois militantes contrários a Lula para uma delegacia de Santa Maria por estarem com duas caixas de morteiros.

A caravana, sob forte clima de tensão, acontece também sob a possibilidade de o ex-presidente ser preso. Nesta quarta-feira, o TRF-4 (Tribunal Regional Federal da 4ª Região) marcou para a próxima segunda (26) o julgamento de um recurso de Lula contra a condenação a 12 anos e um mês de prisão no caso do tríplex. Após a análise desses embargos, o juiz federal Sergio Moro poderá expedir o mandado de prisão de Lula.

Antes disso, porém, nesta quinta (22), o STF (Supremo Tribunal Federal) julgará um pedido de habeas corpus do ex-presidente para que ele não seja preso até que seu caso passe por todas as instâncias judiciais.