JOGO SUJO ENTRE DONOS DA OI

Espionagem, chantagem, ameaças de morte. Vale tudo pela conquista da maior operadora de telefonia fixa do Brasil

POR CONSUELO DIEGUEZ

Um ano e cinco meses após ter entrado em recuperação judicial, abatida por uma dívida de 65,4 bilhões de reais, a Oi, a maior operadora de telefonia fixa do país, ainda está longe de sair do atoleiro em que mergulhou. As partes – credores e acionistas – em vez de apresentarem um plano negociado para recuperar a companhia, envolveram-se numa luta encarniçada que deixou a empresa ainda mais vulnerável. O fato é que a Oi – que atende a 50 milhões de clientes em todos os municípios brasileiros, em um sistema com 330 mil quilômetros de cabos – tornou-se alvo de uma disputa predatória que ameaça levar a companhia de vez para o abismo.

Na semana passada, o CEO da empresa, Marco Schroeder, que comandava a companhia há apenas um ano e meio, pediu demissão queixando-se da impossibilidade de gerir a operadora. Em seu lugar assumiu o diretor jurídico da Oi, Eurico Teles. Schroeder, desde o início da recuperação judicial, reclamava das pressões que vinha sofrendo por parte de alguns integrantes do conselho de acionistas, que vivem uma queda de braço com a diretoria e com outros conselheiros.

Na briga pelo controle da operadora, o competidor mais agressivo é o empresário Nelson Tanure. Mesmo sócio minoritário (com cerca de 5% de ações da operadora), ele tem sido o principal fator de desestabilização nas negociações, desde que conseguiu dois assentos no conselho da companhia, no ano passado, valendo-se de uma expertise bem particular em sua trajetória. Especializou-se em gerenciar negócios em situação falimentar para conseguir o máximo de ganho com o mínimo de perdas, usando, para isso, o caminho judicial. Desde que entrou na Oi, ele tem jogado em duas pontas: é acionista da companhia através do fundo Societé Mondiale, e se aliou a um grupo de detentores dos títulos da dívida da operadora, os chamados bondholders, credores, no total de 32,3 bilhões de reais.

Há uma incongruência no jogo duplo de Tanure. De um lado, como acionista, ele deveria, em tese, defender os interesses da companhia. Como aliado de detentores de títulos da dívida, no entanto, acaba defendendo os credores – a maior parte deles, fundos especializados em comprar títulos de empresas em dificuldades, com preços mínimos, para então se apossar das companhias e depois vendê-las, conseguindo ganhos expressivos. No caso da Oi, por exemplo, eles sabem que nunca receberão o valor da dívida, mas a estratégia é pressionar a empresa para conseguir a maior vantagem possível. Não por outra razão são conhecidos no mercado como fundos abutres.

Quando a empresa envolvida é a operadora responsável por boa parte das comunicações do governo federal, como a das Forças Armadas, e a transmissão dos votos nas urnas eletrônicas, a situação se torna ainda mais preocupante.

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