Ao Saudoso, Mauricio Amaral

 

Uma Voz de Direito!

Lembranças boas das tardes na rua da 28 onde quase diariamente nos juntávamos para fazer rir, discutir, beber e principalmente não fazer nada. Tudo era motivo pra piada e sacanagem, coisas bem típicas de quem nada faz, um monte de pai de família cumpridores dos seus afazeres diários, que àqueles momentos eram meninos, de rua, de lembrar presepadas e comentar noitadas, políticos de balcão, questionavam e se precisassem iam aos “finalmentes”. E as vozes se exaltavam.

Algumas pessoas têm uma rouquidão própria, umas pelas cordas vocais, outras por medo de falar alto e algumas por pura “arremedação”, vozes que se ouviam constantes naquelas tardes e manhãs de sábados, ponto certo. Fazendo pilhéria e tirando graça, com cada graça que por ali passava. Perdeu a graça. Uma dessas vozes roucas calou-se, uma que questionava, incitava e criava, uma voz por assim dizer, de Direito.

Amigos a gente não escolhe e vamos fazendo pelo tempo a partir da confiança, do respeito e da alegria, amigos que se entendem olhando na mesa em cada copo, e temos diversos tipos, os que a gente encontra todos os dias, que nos socorrem quando o bolso aperta, amigos distantes que sabemos notícias e ficamos cá torcendo para que fiquem por lá, pois são amigos distantes, por isso mesmo é claro, amigos irmãos.

Esses nos cobram, orientam e choram juntos, ocasionais, e a própria palavra já diz por si, não vou eu aqui explicar a ninguém e amigos colegas, aqueles que nem fedem, nem cheiram, mas são amigos também. Maurício é um desses amigos, distante, agora mais ainda e perto também, pois pela sua inquietação ta peruando os ares por aí, olhando lá de cima e mexendo com todo mundo, irmão e colega, e quando falo colega por que as prosas sempre tinham as provocações culturais de quem cresceu ali naquelas barrancas entre Petrolina e Juazeiro e sempre um provocava o outro em sátiras sadias que nem fediam e nem cheiravam, mas valiam sempre um brinde, ocasionais pelos raros momentos juntos.

Depois que saí de Juazeiro e irmão pelas orientações jurídicas e “cachacísticas” nas minhas separações, era o advogado coletivo, e antes que esqueça, acima de tudo amigo de copo, esse eu deixei por ultimo, não pra fazer apologia, mas por que foram nesses copos e mesas que esses amigos se encontraram.

Tenho direito de falar, de sentir saudade, de olhar a foto e dizer, Porra! Sem avisar Maurício! Você é Phoda (com PH pra ficar mais bem dito), isso que dá esse povo que não bebe mais e nem fuma – brincadeira – mas custava esperar mais um encontro? O Direito foi sua vida e sua sentença deferida, acho que agora, nesse momento, juntamente com Edésio, Diadorim, Toninho, e outros está ele, com seu cigarro, pois lá ninguém morre por causa disso, estão sentados na Orla da Juazeiro deles, aquela onde tudo é Direito. É paz.

Os sons seguiam rio abaixo em acordes selecionados, e a canoa do tempo levando mais uma voz. Ainda bem que Ele, diferente dos outros não cantava. Pelo menos isso num é Mauricio! Mas encantava a todos com seu jeito moleque e despojado, homem de bem. Cidadão do Riso, do rio, que silenciou as margens, quebrando as correntes por onde agora navega a sua voz, seu direito de ir. É nosso direito à Saudade.

Boa Virgem, quer dizer, viagem… (descubra aí se tem mesmo aquelas virgens que você falava, se tiver, pode ficar com todas pra você)

Estamos bem por aqui!

Maviael Melo


 

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