Faltando uma semana para o Carnaval, o governador Paulo Câmara (PSB) trocou, ontem, os comandantes da Polícia Militar e da Polícia Civil. Embora tenha pegado muita gente de surpresa, alegou procedimento de rotina, com a ressalva de que ambos haviam já cumprido um ciclo. A versão oficial é fantasiosa. Quando um ciclo se cumpre bem, nunca tem fim, especialmente na área pública.
Os comandantes Carlos D´Albuquerque (PM) e Antônio Barros (Polícia Civil) caem justamente em meio a uma ameaça de operação tartaruga durante a maior festa popular do planeta, fruto de um processo de negociação do soldo da PM muito mal resolvido. A Assembleia Legislativa aprovou a mensagem do Governo estabelecendo os novos patamares salariais da categoria, mas não foi suficiente para estancar a crise de relação com a polícia.
Ciclo bom, volto a bater na tecla, não se esgota. Se se esgotou, provavelmente não foi bom. Sendo ruim, obrigou, naturalmente, o governador a procurar caminhos alternativos para tentar superar a maior crise do seu Governo. Nunca Pernambuco alcançou patamares tão preocupantes nas taxas de homicídios, assaltos a bancos, a ônibus e ao próprio cidadão indefeso.
Em 2016, segundo ano da gestão de Câmara, o Estado registrou 4.458 homicídios. Foi o ano mais violento desde 2009. Andar pelas ruas do Recife, nos últimos dias, é algo muito arriscado, porque a criminalidade disparou, os policiais rareiam nos pontos de maior concentração da bandidagem. O ano está apenas começando e se registram 58 homicídios num fim de semana, como na semana que passou.
O Carnaval bate à porta e os novos comandantes – a sociedade espera – devem ser bastante experientes para traçar um competente esquema de segurança para o Carnaval. No início da semana, um vídeo chocou a sociedade. Em frente à Assembleia, após a aprovação do reajuste que os soldados não queriam, eles se concentraram num ato empunhando a palavra de ordem “Não vai ter Galo”.
Era uma advertência ao Governo de que o maior bloco de Carnaval do planeta não iria às ruas porque eles, os policiais, não estariam nas ruas para dar segurança aos foliões. A Polícia Militar é proibida de fazer greve, reza a Constituição brasileira. Existe, entretanto, uma chamada “Operação padrão”, pela qual os policia vão às ruas de mentirinha, ou seja, fazem de conta que trabalham, mas não estão nem aí para dar segurança à população.