A análise da conjuntura sempre nos mostram delicadezas e fragilidades que muitas vezes só o longo prazo desnuda. É dentro desse pressuposto que é preciso analisar o atual dilema existente entre o Partido dos Trabalhadores – PT, que tem como maior líder o ex-presidente Lula, e o Partido Socialista Brasileiro – PSB, que tem como presidente o governador Eduardo Campos.
Quando sinalizo a necessidade de enxergamos nessa análise o longo prazo dar-se em virtude do que está posto para a região Nordeste em termos de mudança do veio econômico e quais atores e com que interesse foi guiado tal percurso.
A verdade é que até o governo Lula a economia do Nordeste possuía como eixo central de crescimento o Estado da Bahia, pela sua extensão territorial, pelo complexo industrial e agroindustrial nos vários espaços que compõe o seu território. Entre Salvador, Feira de Santana e Camaçari estavam posicionados os principais elementos industriais e logísticos na inter-relação entre o Nordeste e o Centro Sul.
Porém, com o Governo Lula o veio econômico da região Nordeste migra para Pernambuco, alterando substancialmente a dinâmica espacial do trabalho e dos investimentos do Governo Federal na região Nordeste.
Para o Estado de Pernambuco foram carreados pesados investimentos a base de financiamentos do BNDES, isenção fiscal de Imposto de Renda – IR, Imposto sobre Produtos Industrializados – IPI e Imposto sobre Circulação de Mercadorias – ICMS em vários empreendimentos estratégicos, a exemplo da Refinaria Abreu e Lima da PETROBRÁS, do Estaleiro Atlântico Sul – EAS, da HEMOBRAS, da Transnordestina, do projeto de Transposição do Rio São Francisco, da instalação da montadora da FIAT etc.
O embate que o Estado de Pernambuco e o País assistem nos dias atuais pela Prefeitura da Cidade do Recife entre o PT e PSB pôs em xeque o legado desse conjunto de obras que, sem dúvida, transforma a economia de Pernambuco e cria forças centrípetas de todo o Nordeste na direção do Estado.
A luta fratricida só antecipou um embate que, quando esquecemos a análise de conjuntura, o curto prazo, e projetamos esse tabuleiro de xadrez mais adiante é possível enxergar que o que se disputa na verdade é a paternidade do “novo Nordeste” em plena transformação.
Não podemos esquecer que a região desde o início dos anos 80 é quem possui as maiores taxas de crescimento do PIB e, hoje, com esse conjunto de ações possuirá num futuro próximo a capacidade de dar um salto qualitativo ainda maior.
O velho Marx em um de seus livros escreve que existe uma diferença entre a aparência e a essência dos fenômenos políticos e, nos dias atuais, o que estamos vendo nada mais é do que a aparência das coisas, porque a essência é a disputa pelo legado de um “novo Nordeste”, apesar das contradições que existem.
A disputa dos estrategistas petistas e socialistas é justamente superar o seu “adversário” na busca de trazer para si a paternidade e o valor do “novo Nordeste” que está em franca germinação e o grande segredo é como e quando mexer as peças do tabuleiro.
*GERALDO FRANCISCO DA SILVA JUNIOR
Economista e exerce atualmente o cargo de Diretor-Presidente da AMMA/Petrolina