PROPAGANDA ANTECIPADA E A MULHER ENGANCHADA

O noticiário de rádios, jornais e blogs no momento, em Juazeiro, destacam ações judiciais movidas pelo Ministério Público Estadual, com decisões liminares e de mérito, buscando corrigir e punir atos de antecipação de propaganda política, o que fere a Lei das Eleições. Meu objetivo aqui, neste espaço, não é discorrer sobre os conceitos, princípios e jurisprudências sobre o tema, embora venha estudando e pesquisando o assunto. Sem adentrar o mérito da questão, como disse, quero potencializar a importância deste momento, como educativo, saneador e tendente a elevar o nível de nossa convivência com as regras do jogo, trazendo a todos para um patamar mais equilibrado, razoável, justo e desenvolvido. Reconheço que o passivo em matéria de cumprimento da legislação eleitoral ainda é grande, mas é verdade também que das eleições de 2008 para cá houve considerável progresso no que tange a essa matéria específica. Neste mesmo abril daquele ano, por exemplo, a propaganda antecipada nos vidros traseiros dos veículos, com painéis fotográficos dos pré-candidatos, slogans e menção ao ano eleitoral, já se apresentavam com total efervescência. O mercado gráfico desses produtos já estava bastante aquecido. O Ministério Público Eleitoral entrou em campo e acabou a festa. Alguns, entretanto, quanto a este item, não “salvaram” esse aprendizado. Grandes desafios estão à frente, como os de enfrentar o que a lei chama de captação ilícita do sufrágio, representado por diversos comportamentos, entre eles a famosíssima compra de votos: areia fina, média, grossa, bloco, telha, tijolo, pedra, bujão, bola de futebol, jogo de camisa, carteira de motorista, exame de vista, laqueadura de trompa são típicos desse momento. É uma cultura arraigada, para a qual não vejo solução a curto prazo e que é a mãe de todo o desequilíbrio e mau funcionamento da política e da administração pública. E a Justiça e o Ministério Público só poderão atuar nesses casos se houver denúncias, a chamada provocação. E estas até chegam, porém, em escala mínima, dada a grande tolerância social a este fenômeno doentio. Um certo candidato, nas eleições passadas, fazia uma caminhada com sua equipe de campanha, o chamado corpo a corpo do jargão político. Entraram num salão de beleza, onde diversas mulheres faziam cabelo, unhas e outros procedimentos de embelezamento. Uma delas, sob o calor do secador, ao avistar o candidato, gritou, quase histérica: _ vereador, vereador ! O então candidato, farejando algo estranho, levantou os dois braços, em sinal de rendido e respondeu: _Vereador, não, candidato. E a senhora, ainda em voz alta e com o dedo em riste, reagiu: _ vereador sim (numa clara tentativa de massagear o ego do candidato) e prossegue: _minha amiga aqui está com um problema muito sério, a filha dela está enganchada na estrada de Recife prá cá, com o ônibus quebrado, precisando de vinte reais. O candidato solidarizou-se com ambas e lamentou não poder ajudar, dizendo, no entanto, que faria votos de que a mesma se desenganchasse ( até a conjugação é enganchada ), pois ninguém merecia ficar enganchada numa altura dessas da vida, pediu permissão e deixou o recinto, passando uma breve vista na tabela de preços afixada na parede daquele estabelecimento. Coincidência ou não, o valor do desenganche era o mesmo da escova de sua interlocutora. Na saída, já na rua, é parado e abordado por um ciclista que dizia conhecer uma família que tinha sete votos e que estava precisando de cinco sacos de cimento. Chega, chega, depois eu conto….. 

Jaime Badeca Filho, advogado, ensaísta político e literário.

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