*Alexandre Andrada
O nível do debate político brasileiro, que me parecia ter alcançado o fundo do poço, tem a mania de sempre achar um novo volume-morto.
PT e PSDB, os dois grandes antagonistas da política brasileira desde 1994, que pareciam representar uma nova era da nossa democracia, estão desmoronando com o próprio peso. Correm ambos um sério risco de se descaracterizarem ao serem capturados por radicais e idiotas (não que os atuais líderes de um e outro sejam gênios …mas lembre do volume-morto).
O PSDB nasceu em 1988, a partir de um racha do PMDB. FHC era um crítico constante do governo Sarney, e junto com Mário Covas, José Serra e outros tantos políticos da esquerda do PMDB, fundaram um partido que prometia ser democrático, social-democrata, progressista.
O PT apareceu em 1980 como a promessa de uma esquerda livre do ranço stalinista que contaminava o PCB, PCdoB e, em alguma medida, o PDT. Era gente nova, com ideias novas, sem compromisso com os erros cometidos no passado.
Mesmo que tenha surgido com um discurso um pouco radical (ainda que não revolucionário), o PT em pouco tempo passou a fazer parte do status quo. Foram muitos os governos moderados do PT nos estados e municípios até que a vitória de Lula se concretizasse em 2002.
E 2002 foi quando o PT “beijou a cruz da ortodoxia” e em 2003, extirpou a verruga trotskysta que lhe sobrara (adeus Luciana Genro, Heloísa Helena e Babá!). Era o PT dos ternos caros e dos dentes clareados.
Com PT e PSDB o Brasil virava uma página de sua história. Adeus defensores e entusiastas da Ditadura Militar, adeus defensores e entusiastas das Ditaduras Soviéticas.
Adeus PMDB, adeus PDT, adeus PFL, adeus coronéis, adeus caudilhos!
Qual o quê…
O PT tem cada vez mais radicalizado seu discurso “Dirceuzista” non-sense, reverberado por blogs mais governistas que o próprio governo e por movimentos sociais movido a pão com mortadela e ônibus fretado.
Os petistas estão vivendo numa realidade paralela. Uma taxa baixíssima de aprovação ao governo Dilma e eles mandando o povo comer brioches metafóricos. Culpando a CIA, a imprensa golpista, a classe média reacionária. Não admitem que roubaram e roubaram muito. Que mentiram durante as eleições (e muito). Que erraram feio na condução da economia (e muito), especialmente a partir de 2010. Que estão fazendo e farão ainda mais maldades na política econômica.
Os “guerreiros do povo brasileiro” os “coitadinhos” que não tinham dinheiro para pagar a multa do STF, descobre-se agora, são “consultores” milionários. Ou estão ali na lista de Janot.
Dirceu, Palocci, Genoíno, Mentor, Cunha, Hoffman, Costa, Pimentel, Rousseff… Quem tem moral e currículo para ser a nova cara do PT?
O PT é hoje uma triste figura do seu passado.
O PSDB, por outro lado, corre o sério risco de passar por um processo de “telhadização”. Isto é, na ânsia de arregimentar apoiadores entre os anti-petistas, arrisca-se em acabar inundado por gente de ideias assustadoramente retrógradas. Daqueles que dizem: “bandido bom é bandido morto”, “direitos humanos para humanos direitos”, “bolsa-vagabundo”, “contra a ditadura gayzista”.
O PSDB pode perder o norte. Vejam o que aconteceu com o cantor Lobão. Um camarada inteligente e bem articulado que se perdeu no ódio ao PT. De rebelde e iconoclasta a mero coadjuvante de gente como Olavo de Carvalho e daquele rapaz do “Revoltados Online” (daquela turma que acha Bolsonaro o mais preparado para ser presidente do Brasil entre outras tantas insanidades).
Já dizia Frederico:
“Aquele que luta com monstros deve acautelar-se para não tornar-se também um monstro. Quando se olha muito tempo para um abismo, o abismo olha para você.”
O PSDB pode se tornar na pessoa jurídica, o que Lobão se tornou na física.
Há também o risco de o PSDB ser capturado por ultra-liberais recém saídos da puberdade. Que não acreditam na salvação daqueles que não professam a ideologia “libertária” e não trazem sacrifícios em holocausto para o altar de Ronald Regan e Von Mises. Gente que tem Rodrigo Constantino como referência intelectual.
Eu acho que o PSDB como Tea Party seria farsa e tragédia de uma vez só.
Mas vai ver que é só a roda da História girando.
Vai ver que sou eu que amo o passado e que não vejo.
Vai ver que o presente já está prenhe do futuro. E que o futuro é um pouco assustador.
*Alexandre Andrada é Professor de Economia da Universidade de Brasília (UnB)