OUTONO CINZENTO… 30 ANOS DEPOIS

O cenário estava localizado em junho de 1982. A ditadura militar iniciada em 1964 dava sinais de fadiga, mas não admitia que estivesse nos seus estertores, no seu ocaso. A repressão ainda mostrava a sua força, apesar da Lei de Anistia, Geral e Irrestrita, de 1979. No plano nacional, o governo tentava expulsar do Brasil o então Presidente da UNE ( União Nacional dos Estudantes ) Francisco Javier Alfaia, bem como relutava em reconhecer a legalidade desta entidade. Consultando o arquivo jornalístico de uma militante do PSOL, encontramos uma reportagem do Jornal A Tarde, daquele ano de 1982. Um grupo de líderes estudantis, após percorrerem as ruas da cidade recolhendo assinaturas em apoio ao reconhecimento da UNE como entidade representativa da categoria e defendendo a naturalização de Javier, acampam na Catedral de Nossa Senhora das Grotas em greve de fome que durou 48 horas. O grupo grevista era constituído por Ariovaldo Azevedo, à época Presidente do “Lijocristo” e Secretário da Associação de Moradores da Vila Jacaré; por Maria do Socorro Macedo Campos, então Presidente do Centro Cívico do Colégio Estadual Rui Barbosa; Carlos Alberto Campos Ribeiro, ex-Presidente do Diretório Acadêmico da FAMESF; Antônio Fernando Amorim Dantas, acadêmico de agronomia da FAMESF; José Roberto Gomes Rodrigues, representante da Associação Juazeirense dos Estudantes Secundaristas; Irene Oliveira, líder feminina dos secundaristas e Paulo César Carvalho, então Presidente do PMDB Jovem e vestibulando. O ápice do movimento grevista foi a visita do ex- exilado e perseguido político, o ex-governador de Pernambuco cassado pelo regime militar, Dr. Miguel Arraes de Alencar, que veio a Juazeiro prestar solidariedade e apoio ao grupo grevista. Passados 30 anos daquele momento histórico de resistência democrática, protagonizado pela coragem e personalidade daquelas figuras, cabem algumas reflexões sobre o que avançou e não avançou na política e na administração pública no Brasil, na Bahia e no plano local, Juazeiro. É importante também estabelecer paralelos entre o movimento estudantil do período citado, isto é, da ditadura militar e do período da democracia, a partir do retorno de eleições gerais, interrompido por longos anos de ditadura militar. Após o movimento das ” Diretas Já ” de 1984 e do Impeachment de Collor em 1992, de que forma o movimento estudantil poderia emprestar a sua força, mobilização e entusiasmo para ajudar o Brasil a corrigir os problemas desta fase de plena democracia, mas de problemas hediondos como a corrupção e a roubalheira da cena política e administrativa em nosso País, gerando miséria, violência, abandono e caos social. A esta reflexão convido a todos, especialmente os atores daquele outono cinzento de 1982.

*Jaime Badeca Filho é advogado e militante do PSOL

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