ÊXODO: DEUSES E REIS E O TEXTO BIBLICO

*ANTONIO MARCOS E. DOS SANTOS

blogqsp.filme ÊxodoO filme Êxodo: deuses e reis foi aguardado ansiosamente por aqueles que praticam o cristianismo e também por não praticantes. Ninguém no mundo desconhece a história biblica da passagem do mar vermelho, e, portanto, um filme narrando este episódio provocou ansiedades, considerando hoje os recursos cinematográficos disponíveis.

Mesmo entendendo a linguagem especifica do cinema, precisamos desde o inicio ressaltar que o filme não é fiel a Biblia, pois seu roteiro basea-se em uma interpretação pessoal dos autores do acontecimento que deu inicio ao surgimento da nação de um dos povos milenares, os judeus.

Penso que nisto está a principal fragilidade do filme no que se refere a tentar narrar um momento histórico, pois um dos pilares da História é a fidelidade aos documentos históticos, e neste caso, os autores do filme deveriam ter considerado o que a Biblia, no seu segundo livro – Exodo, fala sobre este acontecimento.

Destacamos, dentre outros, cinco pontos completamente opostos ao narrado na Bíblia Sagrada:

1 – A Biblia afirma que Moises desde o primeiro momento sabia de sua chamada para ser o líder da libertação divina do povo de Israel do Égito. Em Hebreus (livro do Novo Testamento) lemos que Moises recusou ser chamado filho da filha de Farao para ser maltratado com o seu povo (Hb 11.24), contrariando cenas do filme que mostra um Moises confuso, perplexo, atônito quando revelam a ele sua origem hebraica.

Desde seu nascimento, a mãe de Moises já via que o menino era formoso e buscou protegê-lo. Considerando que a educação nos primeiros anos de Moises foi feita por sua mãe, com certeza, ele sabia desde criança a sua origem hebraica, inclusive aprendeu desde cedo o temor que deveria ter em relação ao único Deus verdadeiro (Êxodo 2.1-10).

2 – A Biblia diz que Moíses ouviu a voz de Deus no monte Horebe, e desde o primeiro momento creu e que não viu Deus senão uma sarça ardendo. O filme, contrariando esta narrativa, humaniza Deus, colocando-o como um menino, o que contraria a Palavra de Deus. Moises ouviu a voz de Deus e viu a sarça ardendo, não contendo no registro bíblico, nada sobre Deus ter se manifestado em forma humana, neste episódio, inclusive porque a Bíblia afirma que é pecado representar Deus em qualquer forma, já que Ele é Espírito e os verdadeiros adoradores devem O adorar em espírito e em verdade (João 4.23,24).

3 – O filme mostra um Moises indignado com o juízo de Deus sobre o povo egípcio por causa das dez pragas. Ao contrário disto, Moises compreendeu que Deus só enviou as pragas por causa da dureza do coração de Faráo, que se recusou a ouvir a voz divina de libertar o povo israelita. As pragas no Egito foram o juízo de Deus sobre a incredulidade e os falsos deuses. Cada uma das pragas representava um juízo sobre um deus egípcio, sendo que a última, a morte dos primogênitos, era Deus dizendo que faz justiça aos oprimidos, já que os egípcios tinham assassinadas as crianças judias, de forma cruel e desumana. A Bíblia é categórica em afirmar que Deus visita a iniqüidade e que faz justiça aos oprimidos e órfãos. O Senhor Deus não está indiferente as injustiças sociais cometidas.

4 – O filme mostra Moises preparando o povo para uma guerra contra os egípcios, tentando anular a afirmação bíblica de que Deus agiu sobrenaturalmente para libertar o povo. Em nenhuma passagem bíblica, Moises foi orientado que a libertação seria feita através de uma guerra política. Pelo contrário, a Bíblia mostra que foi a ação divina que forçou Faraó a libertar o povo, porque viu que os sinais eram uma intervenção de Deus Javé. Ademais, a Palavra do Senhor afirma que a obra divina não pode ser feita por força e nem por violência, mas pelo o Espirito do Senhor (Zacarias 4.6). A Biblia mostra que a espada só gera discórdia, guerra e separações, mas o amor, a misericórdia, produz paz. É por isto que o reinado de Cristo na Terra será concebido como um reinado de paz (Isaias 11) e que seguidores do Senhor Jesus são pacificadores, sendo chamados de bem aventurados (Mateus 5.9).

5 – Havia uma ansiedade de ver como o filme reportaria a passagem do mar vermelho. Este episódio, que foi categoricamente algo sobrenatural conforme a Biblia apresenta, é narrado no filme de forma distorcida e ainda acrescenta uma cena, que em nenhum momento a Biblia traz: Moises voltando-se para enfrentar, com sua espada, no meio do mar o Farao, e os exércitos de ambos recuando e voltando-se, porque entenderam que se tratava de uma disputa familiar, de uma situação passada não resolvida entre os dois. A Bíblia diz que o povo passou a pé enxuto, que Deus abriu o mar vermelho ao meio (Exodo 14.22,29) e que Faraó e seu exercito foram precipitados no mar, afogando-se todos (Exodo 14.28).

O filme Êxodo: deuses e reis contraria a narrativa histórica bíblica e confunde a cabeça dos que não são familiarizados com o texto sagrado. Independente de sermos ou não cristão, devemos admitir que a lógica da história afirma que a narração das coisas deve seguir o que os textos históricos apresentam e ai o filme peca porque foge completamente do que a Bíblia apresenta deste momento histórico, que envolveu o surgimento da nação judaica.

*ANTONIO MARCOS E. DOS SANTOS, Professor e membro da Igreja Assembléia de Deus em Juazeiro – Bahia

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