Gabriel Castro, de Veja/Brasília
No dia 7 de maio de 2008, a senadora Kátia Abreu, um dos nomes mais combativos da oposição, tinha diante de si a ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff.
A parlamentar do DEM indagava a futura presidente da República a respeito das obras do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC).
A ida à Comissão de Infraestrutura do Senado era uma das raras aparições de Dilma no Congresso. Durante dez minutos, a senadora criticou a forma como o governo havia gerido o programa, tratando os valores empenhados (compromissos de gastos) como se de fato tivessem saído dos cofres: “Para mim, ministra, a senhora me desculpe, não interessa o empenhado.
O que interesa ao Brasil é o dinheiro, o que foi pago o que foi realizado. Nós já estamos no quinto mês do ano mas, dos 17 bilhões de reais, foram gastos apenas 77 milhões. Uma execução pífia!”, disse ela à então ministra Dilma Rousseff.
Kátia Abreu continuou: afirmou que o governo Lula tinha uma “compulsão oral” e pouco realizava na prática. Depois, lembrou como o PAC, sob gestão direta de Dilma, era apenas um rótulo criado para agrupar obras que aconteceriam com ou sem o programa. E acusou o governo de fazer “pirataria”. “O governo tem uma compulsão pela pirataria.
A Bolsa Família: há mais de dez anos que foi criada a transferência de renda no país. O presidente de vossa excelência foi inteligente: juntou tudo e botou um nome só, porque é um marqueteiro de primeira”. A senadora ainda distribuiu outros golpes, como esse: “O governo tem compulsão pelos dossiês: aloprados, caseiro, FHC… e também pelos escândalos”.
Em poucos lugares do mundo um político que faz uma carreira como a de Kátia Abreu acaba sendo escolhido como ministro por seus mais ferozes adversários. O Brasil faz parte dessa lista. O novo time de Dilma tem pelo cinco exemplos de ex-opositores do PT que acabaram agraciados com postos no primeiro time. O site de VEJA separou frases de cinco deles, inclusive Kátia Abreu, que hoje comanda a Agricultura. Proferidas em um passado nada distante, as declarações mostram como o modelo de loteamento do Estado é poderoso para fazer uma parcela notável de oposicionistas mudar de lado.
Muito antes de sr ministra, Katia Abreu desceu o pau no governo do PT: “É desanimador o que nós estamos assisindo no país. Não é uma disputa democrática. De um lado, um candidato que se chama José Serra disputando a eleição com o governo do PT. Ele não está disputando com uma candidata apenas. Ele está disputando com um governo, um governo onde um partido tomou conta. É uma disputa desleal, injusta.Com este governo, não precisa nem parecer nem ser honesto. É o lobo na pela do lobo”.
Discurso feito no Senado em setembro de 2010, após petistas quebraram o sigilo fiscal de uma das filhas do tucano José Serra