EDÉSIO SANTOS – “ÁGUA DE CHUCHU”

*Mauricio Dias (Mauriçola)

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Edésio Santos

Eu conheci o “negão Edésio” nos anos 60, eu tinha uns 10 anos e levei um relógio de pulso antigo para ele consertar e ele não consertou e o tempo virou, fui reencontrá-lo técnico de futebol anos depois, sempre sabendo que era ele o cara que muitos diziam ter ensinado João Gilberto a tocar violão – mas Edésio sempre afirmou que João Gilberto estava muito à frente de todos naquela época.(acho que já contei esta história)

No início dos anos 70, tinha o festival sanfranciscano da canção – troféu João Gilberto, promovido pela AUJ (Associação dos universitários de Juazeiro) que fez uma verdadeira revolução cultural na terra durante alguns anos – Caetano Veloso que estava exilado em Londres, pela ditadura militar, foi o convidado especial em  73 e foi por aí que reencontrei Edésio, já disputando o festival com a gente do grupo “Êxodus” (que não tinha nada de religião)  o grupo “Êxodus” fazia música, teatro e loucuras gerais plantado na “tropicália” e nos “novos baianos”. Edésio tinha uma parceria com Jota Mildes e o alemão Gotz Gerard.

Grupo Êxodus na quadra do "franvale" com Caetano Veloso Expedito,Cacá, Caetano Veloso,Zé Mario Luna +,Tatau, Eu, Julhão, Coelhão, Itazi e Satinho+
Grupo Êxodus na quadra do “franvale” com Caetano Veloso
Expedito,Cacá, Caetano Veloso,Zé Mario Luna +,Tatau, Eu, Julhão, Coelhão, Itazi e Satinho+

Euvaldão, Tatau, Zé Maurício, Coelhão, Expeditinho, Zé Mário Luna, Jairon, Marcos Roriz, Zeinha, Cacá, Julhão, Odomaria, Suzanna Claudete, nos todos gostávamos muito do “negão Edésio” que, de vez em quando, dava umas escapulidas com a “esquadrilha da fumaça” por aí.

Em 1980, eu já estava na estrada, indo e vindo, Salvador, São Paulo e em um dos regressos trouxe um violão “fiber tone” brasileiro, que era uma imitação “fulera” do “ovation” americano para ele de presente e acho que ele não gostou muito não – João Gilberto nunca gostou do “ovation” que custava uns 5 mil dollares.

Edésio andava com Sybelle Fonseca pelos cantos musicais da cidade e quando voltei em 1987, com um Stúdio “tascam” multitrack portátil, fiz de tudo para gravar suas músicas lá e ele nunca quis, dizia que se gravasse morreria logo e morreu, morreu sem gravar suas músicas

.Um tempo antes, fui levado por ele para uma longa entrevista na TV Norte (São Francisco) .Edésio,  com uma voz de nó na garganta, deixou no ar: EU SÓ QUERIA QUE JUAZEIRO ME RESPEITASSE MAIS!   

O GRANDE ENCONTRO

Não sei se foi em 80, 81 que, finalmente, Dr. Dewilson Oliveira, primo de João Gilberto, promoveu o encontro de João (que tinha chegado dos EUA), Edésio e a gente (Eu e Euvaldão fomos os primeiros convidados) João chegou com Fernando Oliveira (Fernando do salão) e depois de muitas horas de música na casa do Dr., Dewilson, no cais, saímos por aí já com Roberão (Filho de Dewilson) Zeca Lustosa, Junolão e a figura saudosa de Humberto Falcão. Foi uma noite impossível e na outra acordamos João Duarte demadrugada, ficamos no “bar de Costeleta” até umas três e fomos para “as popula”, acabamos em Piranga comendo mocotó em seu “Pedro Pirulito”,passamos antes na “Shangrilá” para ver cores de “Las Vegas”. Não posso contar tudo aqui.

O dia amanheceu e Edésio falou pra todo mundo ir dormir e João não gostou, disse que não ia porque no outro dia estaria em Nova York – foi e voltou um ano depois para o enterro da sua Mãe, Dona Patú,  eu não estava mais aqui.

Pois é “negão”,muitos se foram no tempo senhor de tudo e Juazeiro ainda não conhece sua música  no seu próprio  festival. Tem uma saudade maior e uma atmosfera de tristeza muito minha, sem culpa de ninguém.  Você, Raimundo Nobre(Ratinho) Zé Maurício e Euvaldão traduzem esta saudade imensa daquela “boemia” .

Em um dos carnavais, fizemos o trio elétrico “Ébano” montado na “franave” com um som de São Paulo e a banda “Mirage”, era uma homenagem para você e Urbano, o outro negão do violão e cavaquinho. Só esqueci do seu “Santinho” o homem da eletricidade, na música dos 100 anos do nosso carnaval.

*Paulo César, ainda faço “negão do Edson” sambar com “oba-lá-lá” ou “bim-bom” porque os verdadeiros filhos ingratos da terra, nascem aqui e alguns ficam ricos com o dinheiro  dos mais pobres.

“Maurício, água de chuchu é o meu remédio para pressão alta” e naquela época eu ainda não tinha.

Valeu Edésio,  para minha existência, foi muito bom você ter estado aqui.

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