CABARÉ NA AVENIDA

Os parados por natureza e os molengas de genética atribuem ao engenho do ex-comungado a concepção do Tríduo Momesco. No carnaval temporão de Juazeiro, com ou sem o tinhoso tudo pega fogo e acaba em folia. No circuito da festança, flagrou-se pela frincha da janela o espanto gritante de alguns celibatários e carpideiras que com fúria titânica disputavam a posse da luneta; um Concílio em plena ardência nos festejos populares e nas manifestações e atitudes críticas e eróticas tão a gosto dos marmanjos freqüentadores.

Valei-me Nossa Senhora das Multidões! Rosários Bentos…! é o Carcará, capeta branco adornado de Pierrô. Cruz-credo…! As carpideiras fechavam e abriam os olhos arregalados…!

É ele mesmo, todos gritam em coro! Carcará Machadão, grande rufião que briga pelas raparigas do Cabaré das Ilusões! Tem ele seu lado positivo, pois faz desfilar na avenida muitas mulheres bonitas, que apesar do peso dos janeiros passam sebo de carneiro nas juntas e fazem artes coreográficas que deixam babando gatinhas novas.

As cabareteiras enfrentam o percurso oficial do desfile, não se ouvindo chiado de grandes proporções, apesar de algumas precisarem andar rebocadas no carro velho de Ivete Sangallo que teve pena de suas tias conterrâneas. “Quer andar de carro velho, amor, que venha!!!” Logo logo, carroceria cheia de janeiros.

Muitas raparigas (no bom sentido, é claro) que não treparam no carro velho da Veveta eram rebocadas por seus pierrôs domésticos. Muitas delas que ostentavam velhos calos nos pés, lembranças indeléveis de velhos carnavais eram obrigadas a recorrer a cordas. “Ave Maria…! Que horror!!! A dublê de professora e carismática Wilma Rosa, condutora especial de um assento pesado deu trabalho ao seu pierrô que teve de fazer despender esforço ingente para rebocá-la ao longo de todo o circuito carnavalesco.

De vez em quando uma colombina estancava, não se sabendo, no entanto, ser chilique ou punição de seu orixá, por estar presente a uma festa em que dizem encontrar-se também o encardido! Fato é que, na dúvida, levava-se a paciente ao bar do Gordo, ilê de Oxóssi, para extrair todo o mal, tomando sacudimento afro!

Até o próprio Manicão de forma inesperada foi acometido de um “zumbido” e deu a louca entre as cordas do Cabaré das Ilusões. A galera gritava em coro: “Amarra o doido!!! Amarra o doido!!!” Doido que nada; foi apenas uma coisa estranha que tomou conta do Maninho, possivelmente o barravento. Todos, no entanto, ficaram temerosos e torciam pela recuperação do velho gafieirão da antiga BE (Boa Esperança).

A confusão somente se dissipou quando alguém gritou de alto e bom som: “O Maninho está manifestado de Exu!!!” Parece que o demo do carnaval havia se incorporado no dublê de cantor e dançarino. Alguém se lembrou do Cel. Paulo Motta, seu bom cunhado, para levá-lo ao hospital. O Coronel, entretanto, se encontrava no ilê do bar do Gordo que era o quartel general de onde se tirava os maus espíritos dos bêbados.

Ao chegarem à sessão dos orixás, Paulo Motta em transe de Abaluaê mandou soltar o velho boêmio, soprando nos ouvidos do manifestado, e derramou uma garrafa de pinga na cabeça do paciente, expulsando o Exu do carnaval, recomendando, então, que o antigo gafieirão se recolhesse ao seu lar.

No Cabaré das Ilusões tende-se a unificar idéias e doutrinas diversificadas, tidas por muito até mesmo inconciliáveis, havendo inclusive sincretismo de todas as classes sociais, pois pobres, ricos e remediados se misturam na paz de um beija-flor!

Carcará, o grão-cáften do Cabaré das Ilusões trata todos os cabareteiros com afagos e beijos, contribuindo para que todos se sintam prazerosos de participar do castelo pomposo dos sonhos de uma tarde de carnaval, prevalecendo interação amistosa entre os integrantes da grande folia.

Como única manifestação verbal destoante, ouviu-se aqui e alhures murmúrio dos foliões mais exigentes que gostariam de ouvir somente música dos carnavais pretéritos. Um lapso de somenos importância que, certamente será reparado no próximo ano pelo ladino Carcará!

Geraldo Dias de Andrade, Cel. PM/RR, Cronista e Bel. em Direito.

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