MADEIRA DE LEI QUE BROTA DA CAATINGA

*Claus Oliveira

blogqsp.bolsafamíliaNa Lei, todo brasileiro tem o mesmo valor numérico diante da urna eletrônica. A premissa constitucional da igualdade de direitos só incomoda a elite egocêntrica que repudia compartilhar o que ela considera privilégio social: uma poltrona no avião, a vaga no estacionamento do shopping, o ingresso na faculdade de medicina…

Ao que parece, para os defensores dos brasileiros mais ricos (menos necessitados do governo, portanto), como o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, o voto deveria ser elitizado como na República Velha (1889-1930) onde os miseráveis (escravos, analfabetos) eram excluídos da votação.

Fantasmas do voto censitário no qual o valor e peso do eleitorado eram ‘pesados’ em tostão (antiga moeda tupiniquim). Só que, nos tempos atuais, a ascensão social de milhões dos brasileiros mais pobres enfraquece qualquer hipótese de nivelamento do eleitorado nacional pelo viés do poder econômico. Restou a FHC ‘segregar’ o eleitor brasileiro pelo nível de informação.

Contudo, o monopólio intelectual (secular no Brasil) começa a ruir. Com incentivos governamentais, milhões de jovens das classes sociais mais carentes estão nas universidades públicas e privadas (outrora redutos da elite); em cursos profissionalizantes ou em centros internacionais especializando-se, gratuitamente.

Mas nas entrelinhas, também se esconde o preconceito velado à inclusão social por meio da transferência de renda. Em países desenvolvidos como Alemanha, Finlândia, Estados Unidos é uma política pública para diminuir a desigualdade e no Brasil, uma esmola para conquistar o voto? Segundo a ONU, o programa Bolsa Família ajudou a tirar definitivamente o Brasil do Mapa da Fome mundial.
Ah, sim: o eleitor nordestino já mudou de Brasil.

Deixou a função ajudante de pedreiro para ser engenheiro; o retirante voltou ao sertão para ter acesso à casa própria, energia elétrica (sem apagão), água potável (sem racionamento), carro. O sertanejo é madeira ‘de lei’ que cupim não rói, ainda que brote da caatinga.

*Claus Oliveira, jornalista.

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