Semiárido: Nove anos perdidos

A importância da irrigação no mundo foi muito bem definida pelo indiano N. Gulhati: “a irrigação em muitos países é uma velha arte, tanto quanto a civilização, mas para o mundo é uma ciência moderna – a ciência da sobrevivência”. Não é por outra razão que os dois países mais populosos do mundo, a Índia e a China utilizam-na maciçamente pela sua capacidade inigualável de criar empregos.

De acordo com a Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura – FAO, a área irrigada da Índia passou de 33,8 milhões de hectares em 1975, para 59 milhões em 1999. Foram implantados 25,2 milhões de hectares em 24 anos, o que significa mais de 1 milhão de hectares por ano. Na China, o ritmo não deixa de ser, também, notável: passou de 42 milhões de hectares em 1975 para 53 milhões em 1999, ou seja, foram implantados 11 milhões em 24 anos ou 458 mil por ano.

Quando visitei a famosa barragem Hoover no Rio Colorado, no oeste dos EUA, emocionei-me ao ler a frase que registrava o agradecimento do povo ao presidente Roosevelt: “por seus esforços incansáveis e empenho público inigualável”, por realizar aquela grande obra em plena grande depressão, que ampliou e consolidou a irrigação nos estados do Arizona, Califórnia e Novo México. Emocionei-me porque tenho a exata noção do que significa a irrigação como instrumento gerador da prosperidade e o desenolvimento de uma nação, principalmente, nas regiões áridas e semiáridas do planeta.

Lá nos EUA, houve continuidade. Em 1902, foi criado o Bureau of Reclamation, que construiu os projetos públicos de irrigação nos 17 estados do oeste americano, que tornaram produtivas áreas estéreis dos deserto Mohave, Sonora e Colorado e fez da Califórnia o mais rico estado da união americana. Aqui, no nosso Semiárido, também começamos cedo. A Inspetoria de Obras Contra as Secas – IOCS foi criada em 1909 e a Comissão do Vale do São Francisco em 1948, contudo em muitos governos esses dois órgãos, e seus sucessores Departamento Nacional de Obras Contras as Secas – DNOCS e Companhia de Desenvolvimento dos Vales do São Francisco e do Parnaíba – Codevasf não dispunham de recursos para desenvolver seus planos de trabalho. O governo passado deu as costas para a irrigação. O projeto de irrigação Pontal, em Petrolina, com área irrigável de 7.800 hectares, iniciado no governo Fernando Henrique, em 1995, foi paralisado.

A história da irrigação no Semiárido tem sido marcada pela descontinuidade das ações. A preocupação com a irrigação na região tem sido propagada em vários governos, entretanto, os gastos com obras não têm demonstrado que esta prioridade tenha sido cumprida.

A primeira tentativa para desenvolver a região coube a Epitácio Pessoa em 1920, com a construção das primeiras grandes barragens, estratégicas no combate à seca. Artur Bernardes paralisou. Jucelino Kubistchek idealizou e fundou programas de irrigação no Vale do Jaguararibe e Vale do São Francisco. O governo da revolução implantou 43 mil hectares, Fernando Henrique Cardoso, 32.000.

Se nos últimos 9 anos, fossem implantados 60 mil hectares, o que era possível, teriam 180 mil empregos no Semiárido. Eis o que os nove anos perdidos ficaram devendo ao Semiárido: 180 mil empregos.

Agora, o ministro Fernando Bezerra Coelho anunciou novo compromisso com a irrigação em nome da presidente Dilma Rousseff. Se ocorrer, creio que seremos a região mais rica do país. Só o Canal do Sertão poderá gerar 600 mil empregos. Se somarmos o Canal do Sertão, o projeto Salitre, o Baixio de Irecê, os projetos das ilhas, poderemos chegar a um milhão de empregos. É o que poderemos, poderemos mais.

Por Osvaldo Coelho

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