“Nunca houve contrato”, diz diretora do TCA sobre show de João Gilberto

 

Lílian Marques Do G1 BA (Foto: AFP)

O cantor João Gilberto durante show realizado no Theatro Municpal do Rio de Janeiro, em agosto de 2008 (Foto: AFP)

Após rumores de cancelamento do show da turnê em comemoração aos 80 anos de João Gilberto, previsto para ser realizado na sexta-feira (9), em Salvador, a diretora artística do Teatro Castro Alves, Rose Lima, informou ao G1, nesta quarta-feira (7), que  não houve nenhum contrato assinado para apresentação do cantor no teatro em 2011.

No dia 3 de novembro, a assessoria da turnê de João Gilberto divulgou em nota oficial que a série de apresentações do músico foi adiada por motivo de saúde, e que Salvador seria a primeira cidade a receber o show, no dia 9 de dezembro.

“Essa pauta [do show de João Gilberto] nunca foi fechada. Nada foi anunciado no site do TCA, não houve abertura de bilheteria, era uma especulação. Recebemos contatos da produção que mostrou interesse em realizar o show aqui [no TCA], mas não houve assinatura do contrato. Esse ano não tem nenhuma apresentação de João Gilberto prevista no teatro, infelizmente. A gente deseja muito que esse show seja feito aqui, mas até agora nada foi fechado”, explica a diretora artística do Teatro Castro Alves, Rose Lima. A produção do cantor baiano não foi localizada pelo G1 para comentar o assunto.

O primeiro show da turnê nacional de João Gilberto seria feito no dia 5 de novembro, em São Paulo. De acordo com a assessoria do músico baiano, as apresentações foram adiadas porque, na ocasião, o cantor estava com uma forte gripe, precisando de cuidados especiais.

Ainda de acordo com a assessoria, o cantor deve se apresentar no dia 18 de dezembro emSão Paulo e no dia 21 no Rio de Janeiro.

Ainda não há confirmação de datas para os shows de Brasília e Porto Alegre. Por conta disso, todos os ingressos serão estornados. Quem adquiriu nas bilheterias físicas deve retornar ao local com o ticket e comprovante em mãos. Na compra pela internet, via Ingresso Rápido, ou pelo Call Center, o procedimento deve ser feito pelo telefone 4003-1212, pela opção 5, para cancelamento. O valor será estornado no cartão de crédito no prazo máximo de 15 dias úteis conforme operador.

Projeto
O projeto “80 anos – Uma vida bossa nova” inclui, além das apresentações que estavam previstas, a gravação de pelo menos um DVD. Os preços dos ingressos dos shows vão de R$ 500 a R$ 1,4 mil o que, em alguns casos, afugentou o público – em São Paulo, por exemplo, onde a expectativa era de que os ingressos se esgotassem rapidamente, ainda há lugares em quase todos os setores.

Avesso aos holofotes e à mídia, João Gilberto se apresentou no país pela última vez em 2008, durante outra comemoração: a dos 50 anos de bossa nova. Na ocasião, os ingressos foram vendidos em poucas horas.

Batida inconfundível
Sua principal característica é a forma de tocar violão, que até hoje influencia inúmeros artistas nacionais e internacionais. Reza a lenda que foram meses ensaiando exaustivamente até encontrar esta batida ideal e o jeito singular de cantar, que eliminava os vibratos, a impostação, a potência e tudo o mais considerava excesso. Adaptou a essa nova forma de cantar e tocar as melodias de Tom Jobim e as letras de Vinicius de Moraes. Estava criada a bossa nova.

O “laboratório” de João seria o álbum “Canção do amor demais”, lançado por Elizeth Cardoso em 1958, só com composições de Tom e Vinicius. Não à toa, o disco, que já trazia o violão sincopado do músico baiano nas faixas “Chega de saudade” e “Outra vez”, é considerado o marco inicial da bossa nova.

Entretanto, a voz do cantor só apareceria em agosto de 1958, num compacto simples com os clássicos instantâneos “Chega de saudade” e “Bimbom” – meses depois, lançara outro petardo bossanovístico, o também compacto “Desafinado” e “Oba-la-lá”. Somados, a voz e o violão de João Gilberto acabaram por consolidar o estilo, que veio a ser um dos principais expoentes da música brasileira. A partir de então, a bossa nova revelaria e consagraria toda uma geração de músicos brasileiros, como Nara Leão, Carlos Lyra, Luizinho Eça, João Donato, Roberto Menescal, Baden Powell e Johnny Alf, entre outros.

O mito
Se as aparições públicas, shows e entrevistas de João Gilberto tornaram-se raridade, o mesmo também pode-se dizer sobre sua discografia em CD. Apenas seus discos mais recentes, caso de “João Gilberto Prado Pereira de Oliveira” (1999) e “João voz e violão” (2000), podem ser encontrados com alguma facilidade no mercado brasileiro. Uma outra parte está disponível na internet para importação, como “Brasil” (1981), que gravou com Caetano Veloso, Gilberto Gil e Maria Bethânia. Mas os trabalhos essenciais do músico, que ajudam a entender sua importância e a reverência de tantas gerações, praticamente desapareceu.

Tudo começou depois do lançamento de “O mito”, em 1992. Compilado pela gravadora EMI, que detém os direitos sobre o catálogo do cantor, o álbum reúne os três primeiros LPs de João, “Chega de saudade” (1959), “O amor, o sorriso e a flor” (1960) e “João Gilberto” (1961), mais o EP “Orfeu da Conceição”. O projeto despertou a ira do artista, que reclamou da remasterização e do fim da sequência original das faixas. Começava então uma briga judicial entre as partes, que não tem previsão para acabar.



 

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