Sócrates: O Brasileiro

O futebol brasileiro está de luto pela morte do ex jogador Sócrates ocorrida ontem no hospital Albert Einstein na cidade de São Paulo, motivada por falência múltipla dos órgãos. Sócrates passou por algumas internações nos últimos meses em decorrência de uma cirrose hepática provocada pelo uso de álcool.

Ao se falar de Sócrates, não é apenas uma menção a um ex jogador de futebol, trata-se de alguém diferente do seu tempo e de sua profissão, ele se fez referência pela consciência cidadã e pela luta de direitos trabalhistas e políticos em uma época de ditadura militar. Foi ele que ao lado de Vladimir, Casa Grande e outros implantaram a “democracia Corintiana” por volta de 1980, estabelecendo a participação dos atletas nas decisões do clube. Eles passaram a exercer influencia sobre salários, “bichos”, premiações e chegaram a abolir a concentração para os jogadores do timão, influenciavam até na escolha do treinador. Ainda sob a vigência do Regime Militar Sócrates defendeu em praça pública a Emenda Dante de Oliveira que clamava por eleições diretas para Presidente da República, era um momento de muita popularidade do jogador que fez disso uma voz em defesa da democracia brasileira.

Como jogador Sócrates foi fantástico, mesmo sendo paraense, ele começou no Botafogo de Ribeirão Preto, fez dupla com o Centro avante Geraldão no time do interior de São Paulo, se tornou destaque e em 1978 se transferiu para o Corinthians onde conquistou os títulos do campeonato Paulista de 1979, 1982 e 1983. Foram 297 jogos e 175 gols pelo time corintiano. Sócrates não tinha as características determinantes para ser craque de futebol, era muito alto (1.91 m) e magro, agravando sua condição atlética pelo uso de álcool e fumo, no entanto, a sua inteligência, a personalidade e o toque refinado na bola, sobretudo o uso do calcanhar como recurso para dar velocidade ao jogo, fizeram dele um jogador espetacular, fora de série.

Logo, Sócrates chegou à seleção brasileira, se tornando capitão de uma das melhores do país, embora não tivesse conquistado nenhum titulo mundial, a seleção dirigida por Telê Santana na Copa do Mudo de 1982 na Espanha. Ele, ao lado de Zico, Falcão, Junior, Leandro e tantos outros encantaram o mundo com um futebol de pura beleza plástica e magia, mas não se tornaram campões, por isso, Sócrates e seus contemporâneos ficaram marcados por uma geração de craques que perderam uma copa do mundo.

Sócrates Brasileiro Sampaio de Souza Vieira deixa esposa e seis filhos e um legado pontilhado de moral, brasilidade e amor ao clube que defendeu e à pátria, coisa não muito presente no futebol cada vez mais globalizado. Assim, morre o homem e fica o exemplo.

*Tony Martins é professor e narrador  de Futebol na Rádio Cidade de Juazeiro 

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