O Semiárido e o estalo do Padre Vieira

Por Osvaldo Coelho

A semana foi uma semana cheia de novidades, e elas devem ser comentadas porque elas têm muito a ver com a nossa vida aqui no Vale do São Francisco. Primeiro, o Jornal do Commercio publica no último domingo (20), uma matéria vasta com declarações muito fortes e conclusivas do Doutor Santiago, que é o presidente do Banco do Nordeste, do governador de Alagoas, do governador de Pernambuco e outros governadores sobre o programa do Crédito Rural administrado pelo Banco do Nordeste. Outro evento muito importante foi a presença do ministro Fernando Bezerra Coelho em Petrolina, também no domingo, desenhando o que a presidente Dilma Rousseff vem anunciar no próximo mês de dezembro sobre a irrigação aqui no semiárido. Então, são dois acontecimentos muito importantes que eu vou comentar.

A história eclesiástica do Brasil fala sobre o padre Vieira. O padre Vieira era um seminarista que não conseguia acompanhar os ensinamentos do seminário sobre grego, latim, filosofia, teologia, mas não conseguia acompanhar mesmo e então foi a uma capela, fez um apelo ao Espírito Santo para que o iluminasse, para que ele pudesse ter prosseguimento no seu curso de seminarista. Conta a história da Igreja que nesse instante ele recebeu um estalo na cabeça, teria sido o milagre do Espírito Santo que iluminou o padre e ele se tornou o maior orador sacro do Brasil.

Eu creio que nessa semana que passou, aconteceu um estalo na cabeça de muita gente. Vejamos: eu acho que existem umas coisas que perturbam a nossa vida rural aqui no Semiárido, mas não é estrada mais e não é o cotidiano, são os juros agrícolas. Os juros agrícolas perturbam o nosso desenvolvimento. É conhecido que no semiárido chove pouco e chove de maneira irregular, Luiz Gonzaga já dizia em uma de suas canções, aqui no semiárido “se plantar, não nasce e se nascer, não dá”. Então, a diversidade é muito grande para a cultura no semiárido, basta essa expressão de Luiz Gonzaga.

Os juros para o semiárido são iguais aos juros para o Centro-Sul, o prazo é igual ao do Centro-Sul e isso nos conduz à clareza de que tratar igualmente desiguais é injusto. É o que ocorre: somos desiguais do ponto de vista climático, do ponto de vista cultural, do ponto de vista educacional. O nosso analfabetismo no semiárido passa de 20, lá no sul é menos de 5, então essas coisas todas reclamam um grito de inconformação com os juros praticados no Nordeste Semiárido.

Nesse domingo, numa reunião do Conselho da antiga Sudene, o presidente do Banco do Nordeste (está escrito nos jornais as declarações dele) disse: “Os juros são impagáveis e os empréstimos atrasados são incobráveis” e aí parte o governador mais forte, que é o governador de Alagoas, dizendo que isso precisa ter um fim, precisa acontecer um tratamento cirúrgico nessa questão dos juros, porque o que está evidente, de acordo com o doutor Santiago, que é o presidente de banco, é que todos os empréstimos não são pagos porque são juros errados, exorbitantes. Se você plantar 1 hectare de milho no semiárido durante 10 anos, você só colhe 3 toneladas; se na mesma quantidade de 1 hectare, você plantar de Minas Gerais para baixo, durante 10 anos, você colhe 120 toneladas de milho. Isso mostra porque é que os juros não podem ser os mesmos, nem o prazo pode ser o mesmo. Então, eu acho que o estalo de Vieira deu no Banco do Nordeste, já que ele vai comandar perante o Ministério da Fazenda e os órgãos competentes, como o Banco Central, uma nova postura do Banco perante os seus parceiros.

São 9 anos sem irrigação. Nove anos em que o Governo Federal não faz nenhuma irrigação no Vale. Eu não estou acusando não, eu estou falando história. Quando Fernando Henrique deixou o governo, irrigou no Vale 32 mil hectares. O governo da revolução irrigou 43 mil hectares. Agora, chega o ministro Fernando Bezerra Coelho e anuncia um novo tempo, anuncia centenas de milhares de hectares para o semiárido, dizendo que a presidente vem anunciar o compromisso de um meta (a meta, depois a gente vai analisar se é tímida ou se é audaciosa), mas está acontecendo uma novidade. Há um compromisso agora com a irrigação. Se o compromisso com a irrigação for honrado aqui no Vale, ouçam o que eu digo: nós estaremos marchando para sermos a região mais rica do Brasil, basta que os projetos em andamento (Projeto Pontal, Projeto Baixio de Irecê, Projeto Salitre) e os projetos concluídos, a exemplo do Canal do Sertão, basta que estes projetos sejam comprometidos para serem executados.

Nós temos que conquistar esta irrigação, temos que conquistar os juros certos. Eu já fiz estudos profundos, longos sobre os juros no semiárido, não pode ser diferente de 0, pode ser até menor que 0, mas mais que 0 é impagável. E isso aí virá em favor de uma estratégia política que tem que ser adotada no Brasil que é acabar com as grandes diferenças inter-regionais, elas são inter-regionais e são interpessoais. O país é um país de ricos no Sul e no Centro-Sul e de muito pobres no Semiárido. Já dizia o presidente Roosevelt que uma nação que tinha muitos ricos e muitos pobres, não dá mais para sobreviver. A democracia não floresce num país desse. Então, o que eu digo para vocês hoje é que a semana aparece como uma semana diferente, animadora, quem sabe um presente de Natal pra gente do Banco do Nordeste, que é fazer a correção dos juros que está aplicando, porque eu fiquei animado pois era uma coisa que reclamava há muito tempo do Banco do Nordeste, que a iniciativa de dizer para Brasília que esses juros não podiam continuar tinha que ser do Banco do Nordeste, porque ele é o campo de batalha dos juros impagáveis, dos juros exagerados, dos juros inconsequentes, de forma que eu estou achando que vem um tempo novo aí…

O que eu estou falando, eu li no Jornal do Commercio de domingo, uma página inteira com declarações muito contundentes dos governadores do semiárido, do Ceará, de Pernambuco e dos outros estados, de forma que o dia de hoje é pra dizer que vamos vigiar estas coisas, não cai nada do céu não, tudo é conquistado! Temos que conquistar os juros justos do Banco do Nordeste e temos que conquistar as obras de irrigação, mesmo porque, gente, as coisas aqui me parecem muito óbvias: a agricultura de sequeiro não dá, precisa emprego para o povo, a única nossa saída, o beco que tem saída é a irrigação, temos a prova aí de Petrolina… Não precisa Petrolina, se você for no Arizona, lá também é deserto e é uma região de muito boa qualidade de vida nos Estados Unidos; se você for na Califórnia, se fosse um país ali, seria o 4º país mais rico do mundo; se for para o Noroeste do México, também há muita irrigação, muita prosperidade e o Brasil, em termos de irrigação, está patinando, está andando a passos de cágado. Hoje, já está avaliado que o nosso potencial de irrigação é superior a 30 milhões de hectares no Brasil e você não encontra feito ainda 3 milhões de hectares, o São Francisco tem potencial de 1 milhão e só tem 300 mil irrigados, então precisamos avançar na irrigação, porque o que a gente está não é avançando, até agora, é engatinhando.

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